22 Junho 2017
Trata-se de Enrique Martínez Ossola. Bergoglio o aceitou em seu seminário a pedido de Enrique Angelelli.
A reportagem é de Sergio Rubin, publicada por Clarín, 21-06-2017. A tradução é de André Langer.
Corria o tumultuado ano de 1975 no país, prelúdio da sangrenta ditadura que se abateria no ano seguinte, quando três jovens seminaristas provenientes de La Rioja eram admitidos no Colégio Máximo, de San Miguel, na Região Metropolitana de Buenos Aires, pelo então superior dos jesuítas, o padre Jorge Bergoglio. Aparentemente, eram rapazes que estavam se encaminhando para o sacerdócio que, a pedido do bispo de La Rioja, Enrique Angelelli, iriam aprofundar seus estudos teológicos no reputado centro de estudos da Companhia de Jesus. Até que no ano seguinte, após o assassinato, camuflado de acidente de carro, de Angelelli, deram-se conta de que, na realidade – como tinha sido o verdadeiro propósito do seu agora morto bispo –, estavam sendo protegidos do impiedoso embate dos repressores em La Rioja, uma proteção assumida pelo padre Bergoglio.
A história destes três seminaristas é a mesma de cerca de 20 religiosos que estiveram na mira dos militares e que Bergoglio abrigou no Colégio Máximo sob o falso pretexto de “aprofundar os estudos teológicos” ou de “fazer longos retiros espirituais” que, na realidade, buscava proteger. E ganhou notoriedade esta semana após se ficar sabendo que um daqueles seminaristas, Enrique Martínez Ossola – os outros dois eram Miguel La Civita e Carlos González – foi nomeado bispo pelo Papa Francisco. Martínez Ossola era vigário-geral da diocese de La Rioja, com uma trajetória em paróquias que lhe valeram um grande apreço dos fiéis e o confirmaram como “pastor com cheiro de ovelha”, como gosta o pontífice.
No livro A lista de Bergoglio [São Paulo: Edições Loyola, Paulinas, Paulus, 2013], do jornalista italiano Nello Scavo, Martínez Ossola relatou como foi aquela passagem pelo Colégio Máximo. “No Colégio, fomos recebidos por um padre jovem, muito cordial. Ele era o padre provincial, a autoridade máxima da Companhia de Jesus na Argentina, mas no começo não nos havíamos dado conta do verdadeiro motivo da transferência. Desde o início ele intuiu a nossa preocupação e, de modo nada formal, estabeleceu conosco uma relação fraterna. Ele e seus irmãos nos deixaram a máxima liberdade, não nos impuseram nem mesmo os horários para o almoço e a janta”, disse.
No dia do assassinato de Angelelli, no dia 04 de agosto de 1976, Bergoglio encontrava-se no Peru e assim que recebeu a notícia voltou para San Miguel. Foi diretamente encontrar os três seminaristas e, ao vê-los, pediu-lhes com severidade: “Vocês jamais devem se separar, devem andar sempre juntos e deslocar-se com prudência. Se estiverem juntos, será mais difícil para eles sequestrarem os três ao mesmo tempo”. Foi apenas então que os três se deram conta de qual era o verdadeiro motivo de estarem no Colégio Máximo.
Finalmente, os três seminaristas voltaram para La Rioja e Bergoglio participou de suas ordenações sacerdotais. Em 2013, ao ser eleito papa, Francisco recebeu uma afetuosa carta de Martínez Ossola que se apressou a respondê-la com o mesmo afeto. “Bergoglio continua o mesmo”, comprovou o agora novo bispo.
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O Papa nomeou bispo um padre que protegeu em 1975 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU