21 Março 2017
Com o presidente de Ruanda, Paul Kagame, que foi recebido nesta segunda-feira, 20 de março, no Vaticano, o Papa “manifestou sua profunda dor, a da Santa Sé e a da Igreja pelo genocídio contra os tutsis, expressou solidariedade com as vítimas e com os que continuam a sofrer as consequências daqueles trágicos acontecimentos” e implorou o perdão de Deus “pelos pecados e pelas faltas da Igreja e de seus membros, entre os quais sacerdotes, religiosos e religiosas que cederam ao ódio e à violência traindo sua missão evangélica”, destacando que as “faltas cometidas naquelas circunstâncias” “deformaram o rosto da Igreja”. Francisco também expressou seu desejo de que seu gesto contribua para “purificar a memória” e promover um “futuro de paz”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 20-03-2017. A tradução é de André Langer.
Durante o encontro cordial, segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, “apreciou-se o notável caminho percorrido para recuperar a estabilidade social, econômica e política do país. Evidenciou-se a colaboração entre o Estado e a Igreja local na obra da reconciliação nacional e da consolidação da paz em benefício de toda a Nação. Neste contexto, o Papa manifestou sua profunda dor, a da Santa Sé e a da Igreja pelo genocídio perpetrado contra os tutsis, expressou solidariedade com as vítimas e com os que continuam a sofrer as consequências daqueles trágicos acontecimentos e, em sintonia com o gesto protagonizado por São João Paulo II durante o Grande Jubileu do ano 2000, renovou a imploração de perdão a Deus pelos pecados e pelas faltas da Igreja e de seus membros, entre os quais sacerdotes, religiosos e religiosas que cederam ao ódio e à violência traindo sua missão evangélica.
O Papa expressou também a esperança de que este humilde reconhecimento das faltas cometidas naquelas circunstâncias que, infelizmente, desfiguraram o rosto da Igreja, contribuam, também à luz do recente Ano Santo da Misericórdia e do Comunicado publicado pelo Episcopado da Ruanda por ocasião do encerramento do mesmo, para ‘purificar a memória’ e para promover, com esperança e confiança renovadas, um futuro de paz, dando testemunho de que é concretamente possível viver e trabalhar juntos quando se coloca no centro a dignidade da pessoa humana e o bem comum”.
A Igreja católica de Ruanda muitas vezes foi acusada por sua proximidade com o regime durante o genocídio de 1994. Em novembro do ano passado, por ocasião do final do Jubileu da Misericórdia, em todas as paróquias do país foi lida uma carta na qual os bispos pediam perdão pelos pecados cometidos durante o genocídio por parte dos católicos, e não da Igreja enquanto instituição. O governo considerou que o “mea culpa” não era suficiente. Kagame pessoalmente evocou a oportunidade de que o Papa pedisse desculpas em nome de toda a Igreja. Em Ruanda, 49,5% da população é católica, 39,4% protestante e os muçulmanos representam 1,8%.
A 20 anos do genocídio, em 2014, o Papa entregou aos bispos do país, que foram ao Vaticano para a sua visita “ad limina apostolorum”, um discurso no qual recordou “o espantoso genocídio que provocou tanto sofrimento e feridas, ainda muito longe de estarem curadas”. E unindo-se pessoalmente “ao luto nacional”, assegurou suas orações pelas comunidades “muitas vezes divididas, por todas as vítimas e suas famílias, pelo povo inteiro, sem distinção de religião, de etnia ou de opção política”.
O Papa destacou que “a Igreja tem um lugar importante na reconstrução de uma sociedade reconciliada”, e exortou os bispos a seguir em frente com resolução “oferecendo testemunho de verdade”. Também recordou naquela ocasião que, 20 anos depois “daqueles trágicos acontecimentos, a reconciliação e a cura das feridas seguem sendo a prioridade da Igreja em Ruanda”, e destacou a necessidade de “reforçar as relações de confiança entre a Igreja e o Estado”, porque “um diálogo construtivo e autêntico com as autoridades só poderá favorecer a obra comum de reconciliação e de reconstrução da sociedade em torno dos valores da dignidade humana, da justiça e da paz”.
No dia 18 de março, o Papa nomeou como núncio apostólico em Ruanda (sede diplomática vacante desde junho de 2016) o padre polonês Andrzej Jóswowicz. A notícia da audiência desta segunda-feira no Vaticano foi anunciada oficialmente pela presidência do país, que, por meio do Twitter, informou que o Presidente tinha chegado no domingo à noite em Roma “a convite de Sua Santidade o Papa Francisco” para um encontro “sobre as relações bilaterais entre Ruanda e o Vaticano”.
Depois da audiência, o Presidente encontrou-se com o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que estava acompanhado pelo secretário para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher. Durante as cordiais conversações foram recordadas as boas relações existentes entre a Santa Sé e Ruanda. Foi apreciado o notável caminho percorrido para recuperar a estabilidade social, econômica e política do país.
Na próxima quinta-feira, 23 de março, o Papa receberá o presidente de Camarões, Paul Biya.
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O Papa: o genocídio de Ruanda deformou o rosto da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU