17 Novembro 2016
Um grupo de extrema direita forçou a entrada no plenário da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira para pedir intervenção militar no Brasil, o fechamento do Parlamento e a “limpeza política” do Congresso Nacional, além de defender a Operação Lava Jato. Cerca de cem pessoas adentraram ao plenário por volta das 15h30, enquanto deputados discursavam na tribuna e quebraram uma porta de vidro de acesso à Casa. Quatro deles trocaram socos e chutes com policiais legislativos e foram presos em flagrante. Os agentes tiveram de usar armas de choque para evitar novas agressões. Pelo menos dois funcionários da Câmara foram feridos. Jornalistas e servidores foram retirados do plenário por conta da suspeita de que alguns dos manifestantes estariam armados, fato que não se comprovou. Foi a primeira vez que um grupo tomou o principal recinto do Legislativo desde a redemocratização do país. Um sinal de alerta foi acesso no Palácio do Planalto, que vai colocar seu sistema de inteligência em alerta para monitorar novas manifestações.
Por quase duas horas deputados federais e agentes da Polícia Legislativa tentaram negociar a saída pacífica deles, mas o grupo se negou a deixar o local. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou então, por volta das 18h, que os policiais prendessem os manifestantes. Cerca de 50 deles foram detidos e fichados na Polícia Federal por depredação do patrimônio público e invasão. A imagem do integrantes do grupo sendo retirada teve um simbolismo fortíssimo. Saíam escoltados pela polícia por debaixo da escada do Congresso Nacional, por onde geralmente passam autoridades em atos solenes. Ao som do hino brasileiro que ecoava em uma caixa de som no gramado do Congresso, os manifestantes deixavam o Legislativo aos aplausos e aos gritos de "valeu, patriotas". Patriota é um dos termos que militares atribuem uns aos outros. Entre os manifestantes havia vários militares reservistas (aposentados) ou familiares de representantes das Forças Armadas.
A reportagem é de Afonso Benites, publicada por El País, 16-11-2016.
Assim que entraram no plenário, os manifestantes correram para a Mesa Diretora, ocuparam o espaço e começaram a gritar “Viva Sérgio Moro”, em alusão ao juiz federal responsável pelas sentenças principais da Operação Lava Jato. Depois, pediam aos berros: “General aqui!”. Por fim, cantaram o hino e acabou cercado pelos manifestantes. Dizendo não ter nenhuma filiação partidária ou sindical, os manifestantes vieram de toda a parte do país, disseram que se mobilizaram por meio das redes sociais e que não havia nenhuma liderança que os representava. A reportagem encontrou no grupo do Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins, Santa Catarina, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Dos 17 entrevistados, apenas um dizia ser cont rário a intervenção militar. Todos eles afirmaram que eram anticomunistas, simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e que gastaram os próprios recursos para viajar a capital federal.
A maioria chegou em Brasília no dia 15 de novembro, atendendo a convocações de grupos reacionários nas redes sociais que pediam a invasão do Congresso Nacional e a demissão de todos os políticos de uma só vez. Como a data era um feriado, de proclamação da República, o Legislativo não abriu e a ação não foi possível. Por isso, organizaram o seu ato nesta quarta-feira e demonstraram uma falha na segurança da Polícia Legislativa, que não conseguiu antever a invasão.
Dos 17 entrevistados, apenas um dizia ser contrário a intervenção militar. Todos eles afirmaram que eram anticomunistas, simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e que gastaram os próprios recursos para viajar a capital federal
“Invadimos para mostrar que aqui é a casa do povo. Os nossos representantes têm de temer. A lógica é muito simples, quando o povo teme o Governo é tirania. Quando o Governo teme o povo é que se tem liberdade. No Brasil, chegamos no ponto que não dá mais. Não é invadir escola. Isso é coisa de covarde, de bunda mole. Tem de invadir as Assembleias, o Congresso”, disse um dos manifestantes, o segurança Ângelo Mendonça de Castilho.
Quando questionados qual general os manifestantes queriam ver no poder, todos respondiam individualmente: qualquer um deles. “Queremos uma intervenção do povo com a ajuda dos militares. Pode ser qualquer general desde que acabe com a impunidade. Queremos um general porque as Forças Armadas são a instituição mais bem avaliadas no país”, disse o empresário catarinense Jeferson Vieira Alves. Enquanto ele concedia entrevistas no salão verde da Câmara, um grupo de vigilantes vinculados a sindicatos de seguranças que seriam recebidos por deputados cercaram esses manifestantes e os chamavam de fascistas. A segurança precisou intervir para evitar uma nova briga generalizada.
Durante a invasão e após ela, todos os deputados que usaram a tribuna ou concederam entrevistas repudiaram o ato. Até mesmo alguns dos parlamentares mais vinculados à direita se surpreenderam com o protesto. “É um absurdo, uma agressão sem tamanho (...) Não dá para saber se eles são ligados ao PT ou não”, afirmava o deputado Capitão Augusto Rosa (PR-SP) enquanto fazia um vídeo de transmissão pelo seu Facebook.
“Eles estão fazendo demandas muito fora da realidade. As reivindicações deles são de uma limpeza no Congresso. Algo nada palpável. Só dá para entender que são movimentos radicais de extrema direita”, afirmou o deputado Guilherme Mussi (PP-SP).
O repúdio seguiu entre representantes de paridos vinculados à esquerda. “Esse protesto é o reflexo da divisão que há no país desde a eleição de 2014. Alguns podem imaginar que são pessoas quase lunáticas, que estariam fora do ambiente, mas não são. A nossa democracia está doente e o principal sintoma dessa doença foi o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Agora, todos acham que podem fazer qualquer ato, ainda que ilegal por grupos absolutamente fascistas”, afirmou o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
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Manifestantes forçam entrada no plenário da Câmara e pedem golpe militar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU