03 Setembro 2016
Para o vaticanista Andrea Tornielli, a escolha do papa de advogar para si a gestão da seção do novo dicastério "para o serviço do desenvolvimento humano integral" é "uma escolha totalmente não ritual e sem precedentes".
A reportagem é de Lorenzo Maria Alvaro, publicada no sítio da revista Vita, 02-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral desejado pelo Papa Francisco no projeto de reforma, a partir do dia 1º de janeiro, suprime e encorpa quatro Pontifícios Conselhos distintos: o Pontifício Conselho Justiça e Paz, o Pontifício Conselho "Cor Unum", o Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes e o Pontifício Conselho da Pastoral no Campo da Saúde.
Uma seção do dicastério – diz o estatuto – "ocupa-se especificamente do que concerne aos refugiados e migrantes. Essa seção é posta ad tempus sob a orientação do Sumo Pontífice, que a exerce dos modos que considerar oportunos".
Para entender o valor dessa escolha, entrevistamos o vaticanista Andrea Tornielli.
Em que quadro se insere a instituição desse novo dicastério?
É mais um ato da reforma da Cúria do Papa Francisco. Não é uma novidade que ele tinha que fazer esse dicastério para onde deviam ser repassadas algumas das velhas realidades vaticanas. Sabia-se que isso iria acontecer. Era preciso encontrar um marco unificador, mas era tudo bastante esperado.
Em que consiste, portanto, a novidade?
O fato de Francisco ter convocado para si a seção que se ocupa dos migrantes. Um fato totalmente não ritual e que nunca aconteceu antes. Tinha acontecido que o papa, no passado, também pôde ser prefeito, portanto, chefe de um dicastério. Até mesmo Pio XII, por um certo período de tempo, também foi secretário de Estado. Em vez disso, nunca tinha acontecido algo do gênero. É claro que cada dicastério tem o papa como chefe último. De fato, no fim do mandato papal, todos os prefeitos se demitem do seu papel. Portanto, trata-se de um gesto simbólico o fato de decidir gerir diretamente uma seção particular. Mas de grandíssima importância e força.
Qual é a mensagem que o papa comunica com essa escolha?
Ele remete à centralidade da emergência destes tempos. Uma emergência por ele mesmo definida como a mais séria com a qual a Europa teve que lidar do pós-guerra até hoje. Um compromisso do papa que, vendo bem, existe desde a primeira hora. Da viagem a Lampedusa até o pedido às paróquias europeias de acolher uma família de refugiados.
Como se explica essa atenção tão particular do papa aos migrantes?
Mais de uma vez, o papa deu a entender que o cristianismo é uma fé em que Deus foi migrante e refugiado. Uma coisa que o papa nunca disse abertamente, mas que não deu a entender muitas vezes, também no discurso do dia 16 de abril, em Lesbos, em que aludia à Sagrada Família como exilada. De fato, Jesus nasceu em Belém, portanto, não no seu país, em condições precárias. E, depois, se mudou por quatro anos para o Egito. É por isso que os cristãos devem olhar com esses olhos misericordiosos para estes tempos e para essa emergência.
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"Decisão do papa sobre os migrantes é uma escolha de alto valor simbólico." Entrevista com Andrea Tornielli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU