10 Março 2016
A afirmação é do Chefe da Oncologia Clínica do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), Auro Del Giglio. O especialista disse não entender porque a política tomou o lugar da ciência nesse assunto.
A reportagem é de Daniela Paixão, publicada por Activa Comunicação, 09-03-2016.
Ainda de acordo com Auro Del Giglio, boa parte da comunidade médica amanheceu “estupefata” com a decisão da Câmara dos Deputados em aprovar o Projeto de Lei 4.639/16, que autoriza a produção e o uso da fosfoetanolamina sintética aos pacientes com câncer.
“Estamos no escuro”
O assombro ao qual se refere o especialista do IBCC é pela razão, que não se pode deixar de lado, de o medicamento não ter passado por testes: “não sabemos se funciona, se é tóxico, se interfere no tratamento convencional. Não sabemos nada a respeito da pílula. Estamos no escuro. Não podemos dizer que não funciona, mas também não podemos dizer que funciona”, diz Del Giglio.
Segundo o chefe do Departamento de Oncologia Clínica do IBCC seriam necessários ao menos quatro anos de pesquisas para se ter ideia dos efeitos no organismo do ser humano.
Auro Del Giglio acredita que vai ser necessário muita conversa com os pacientes: “a coisa mais difícil que se tem é tirar a esperança de alguém. Então, a relação de confiança entre médico e paciente deverá prevalecer até que os estudos sobre a fosfoetanolamina ganhem corpo e possam deixar mais claro esse cenário.
Sobre o projeto aprovado na Câmara dos Deputados
O projeto permite que a chamada pílula do câncer tenha a sua liberação para uso mesmo antes de concluídas as pesquisas voltadas para seu registro definitivo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi assinado por 26 parlamentares de vários partidos e seguirá para o Senado Federal.
O texto, da Comissão de Seguridade Social e Familia permite que os pacientes façam uso da substância por livre escolha se diagnosticados com câncer e se assinarem termo de consentimento e responsabilidade. A opção pelo uso voluntário da fosfoetanolamina sintética não exclui o direito de acesso a outras modalidades terapêuticas.
Histórico
A fosfoetanolamina é pesquisada pelo Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo, há cerca de 20 anos por meio de estudos conduzidos pelo professor aposentado da universidade Gilberto Orivaldo Chierice.
A substância imita um composto que existe no organismo, o qual sinaliza as células cancerosas para que o sistema imunológico as reconheça e as remova. Os resultados podem variar de acordo com o sistema imunológico de cada paciente.
A fosfoetanolamina vinha sendo distribuída de forma gratuita no campus da universidade, em São Carlos, mas, em 2014, a droga parou de ser entregue por causa de uma portaria determinando que substâncias experimentais tivessem todos os registros antes de serem disponibilizadas à população.
Sem a licença da Anvisa, essas substâncias passaram a ser entregues somente se determinadas pela Justiça por meio de liminares, que chegaram a ser suspensas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. O presidente do TJ-SP, desembargador José Renato Nalini, reconsiderou a decisão e informou, em outubro de 2015, que os pacientes que necessitam da substância deveriam entrar com um pedido na Justiça.
Atualmente, cada cápsula tem um custo de produção de menos de R$ 0,10 e, apesar do interesse de outro país em fabricar o medicamento, o professor Chierice argumenta que isso tornaria inviável o acesso à fosfoetanolamina pelo preço de venda.
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Pílula do Câncer não deve ser assunto político - Instituto Humanitas Unisinos - IHU