Por: MpvM | 16 Fevereiro 2018
O Reino que é o resgate de todo projeto primeiro de inclusão, de reciprocidade, da imagem e semelhança de Deus. Nesse resgate, no anúncio do Reino, Jesus também vai estabelecer novas relações, e vai (assim é o evangelho de Marcos) se mostrando, se revelando como Filho de Deus na história: a personificação da plenitude da vida na pessoa de Jesus Cristo. E o reino proclamado, anunciado, é o Reino de um projeto que inclui, de um projeto de solidariedade, que exige o entrelaçamento das culturas, requer a abundância da vida para os pobres, para o meio ambiente.
A reflexão é de Ir. Maria Freire da Silva, religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Ela possui graduação e mestrado em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa senhora da Assunção e doutorado em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atualmente é professora no Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-SP. Recentemente foi eleita coordenadora da Província Nossa Senhora de Guadalupe, de São Paulo.
Referências bíblicas
1ª Leitura – Gn 9,8-15
Salmo 24 (25)
2ª Leitura – 1 Pe 3,18-22
Evangelho – Mc 1,12-15
Estamos iniciando o período quaresmal. A liturgia do primeiro domingo da quaresma, através do texto bíblico - Gn 9,8-15, nos apresenta o símbolo da Aliança e nos traz o compromisso da fidelidade de Deus para com seu povo. "Eis que eu estabeleço minha Aliança convosco". Aliança em sinal de graças, de bênçãos. A Aliança é a garantia do futuro da humanidade e de toda criação. A aliança se realiza entre Deus e Noé, seus descendentes, e toda a terra. Deus mostra uma dinâmica inter-relacional na Casa Comum. O dilúvio representa o caos, a negação do Projeto de Deus. Para resgatar o projeto de inclusão, de solidariedade, de beleza cósmica e humana, é necessário, portanto, estabelecer novas relações, as quais devem ter como fio condutor a Aliança. Dessa forma se garante, através da unidade das cores do arco-íris, a vida da criação na sua totalidade. Toda casa comum é dançante, valsante e respeitada num grande louvor para o seu Criador.
O Evangelho - Mc 1, 12-15 - apresenta o início do ministério de Jesus, onde traz presente o dinamismo do Espírito, impelindo Jesus para o deserto. O deserto é o espaço da descentralidade de si mesmo, lugar da purificação; do confronto de projetos: o Projeto de Deus e o projeto de uma sociedade que não respeita a Aliança com seu Criador. O deserto é lugar de discernimento e da sabedoria; de assumir novas posturas, de tomadas de decisão.
Vivendo essa experiência, na condução do Espírito, a Ruah divina, Jesus solidifica a sua experiência de Deus e vem à Galileia para anunciar o cumprimento do tempo. E, nesse anúncio, Jesus vai proclamar a vinda do Reino de Deus. O Reino que já chegou na pessoa de Jesus Cristo, mas um Reino que virá, que tem o seu aspecto escatológico. O Reino que é o resgate de todo projeto primeiro de inclusão, de reciprocidade, da imagem e semelhança de Deus. Nesse resgate, no anúncio do Reino, Jesus também vai estabelecer novas relações, e vai (assim é o evangelho de Marcos) se mostrando, se revelando como Filho de Deus na história: a personificação da plenitude da vida na pessoa de Jesus Cristo. E o reino proclamado, anunciado, é o Reino de um projeto que inclui, de um projeto de solidariedade, que exige o entrelaçamento das culturas, requer a abundância da vida para os pobres, para o meio ambiente. E, por isso, sendo Jesus a verdadeira Aliança que Deus fez conosco, Jesus que vai lembrar, em momento posterior, que o seu sangue derramado é o sangue da Nova e Eterna Aliança!
É nesse momento de quaresma que somos convocados/convocadas a uma reflexão do resgate verdadeiro do projeto primordial de Deus, do resgate de uma sociedade que respeita as diferenças, mas que vive na comunhão a unidade de toda uma diversidade que é o mundo, que é a casa comum que é o nosso país, Brasil, que vive um momento de caos, que precisa ser resgatado: toda intenção primeira de Deus, do ser humano como imagem e semelhança, do ser humano vivendo o inter-relacionamento consigo mesmo, com o outro e com a criação.
A Igreja é convidada, hoje, a sair, como diz o papa Francisco, a anunciar que o Reino de Deus está entre nós, mas que é necessário um descentramento de nós mesmos, para que o Reino seja visto, para que a Aliança jamais seja rompida, porque nós somos herdeiros e herdeiras de um Projeto criacional de vida em abundância. Nós somos herdeiros e herdeiras de uma Aliança que não se rompe. Porque nós somos parte nesse pacto de Deus para conosco; interagimos com Ele, assim como Ele interage conosco. Que possamos viver na vida da Igreja, nesse momento, uma saída para o encontro com o distinto, com o diferente; para o resgate do rosto dos pobres, das culturas e para o anúncio de vida em plenitude, para dizer que o Reino de Deus está chegando em nosso meio!
Um bom domingo, uma feliz reflexão! Que o projeto das cores do arco-íris possa ser resgatado em nosso meio.
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1º domingo da Quaresma - Ano B - Convertei-vos e crede no Evangelho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU