Por: André | 21 Dezembro 2011
O arcebispo de Buenos Aires completou no sábado passado 75 anos. De acordo com a lei eclesiástica, nessa idade os bispos devem apresentar a sua renúncia. A Santa Sé pode prorrogar seu mandato e se dá como certo que o fará. Especula-se que ficará no seu lugar ao menos por mais dois anos.
A reportagem é de Washington Uranga e está publicada no jornal argentino Página/12, 18-12-2011. A tradução é do Cepat.
No sábado, dia 17 de dezembro, o arcebispo e cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, completou 75 anos e, segundo determina a lei eclesiástica e, embora não se tenha nenhuma confirmação oficial sobre o fato, deve ter apresentado sua renúncia ao cargo que ocupa na arquidiocese por atingir o limite de idade. Em novembro passado, Bergoglio já deixou nas mãos do arcebispo de Santa Fe, José María Arancedo, a presidência da Conferência Episcopal à frente da qual esteve durante dois triênios.
O Código de Direito Canônico, que rege a Igreja católica, estabelece em seu cânon 401 parágrafo 1º que “ao bispo diocesano que tenha completado setenta e cinco anos de idade se lhe roga que apresente sua renúncia de seu ofício ao Sumo Pontífice, o qual proverá tendo em conta as circunstâncias”. Ninguém pode confirmar como certo que Bergoglio tenha apresentado a sua renúncia. Também não há informação oficial a respeito e é pouco provável que a haja, sobretudo tendo em conta o estilo do cardeal portenho. Mas, atendendo também à forma de agir de Bergoglio, as fontes eclesiásticas asseguram que o cardeal realizou esse trâmite, inclusive antes da data. Colocou o seu cargo à disposição de Bento XVI, convencido também de que o Papa, “tendo em conta as circunstâncias”, prorrogasse o seu mandato pelo tempo que achar oportuno. Nesse caso se repetirá o que aconteceu com o cardeal Raúl Primatesta, ex-arcebispo de Córdoba e que também, assim como Bergoglio, ocupou a presidência da Conferência Episcopal. Primatesta renunciou no dia 14 de abril de 1994, mas sua renúncia foi aceita pelo então papa João Paulo II no dia 17 de novembro de 1998.
Por que Bento XVI teria que prorrogar agora o mandato de Bergoglio à frente da Arquidiocese portenha?
Em primeiro lugar, porque o cardeal está em pleno uso de suas faculdades, é um homem de grande vitalidade e mantém uma agenda muito ativa em todos os níveis. Mas talvez tão importante quanto isso seja o papel chave que Bergoglio exerceu na Igreja católica nos últimos tempos, sendo uma figura de referência para dentro e para fora da instituição. Mesmo com críticas à direita e à esquerda, Bergoglio é um homem muito respeitado por seus pares. E no mundo político e cultural é uma personalidade reconhecida, admirada por uns, temida por outros, odiada por alguns. Ninguém se atreveria – desde qualquer posição – a negar a solidez de sua formação, sua inteligência e sua astúcia política.
A não aceitação imediata da renúncia é uma forma que o Vaticano tem de reconhecer a ação de um bispo e a vigência de sua participação no cenário nacional. Só se aceita a renúncia de maneira imediata daqueles que estão doentes, incapacitados ou daqueles – porque foram rebeldes com a Santa Sé – a quem se quer dar uma reprimenda pública. Não é o caso.
Também se poderia transferi-lo para outras responsabilidades dentro da própria estrutura eclesiástica, inclusive no Vaticano, onde Bergoglio já ocupa cargos relevantes. Mas tudo indica que para Roma o cardeal seja mais importante na Argentina como “espadachim” das causas católicas. Também porque o cardeal de Buenos Aires – independentemente de quem ocupasse esse cargo – continua sendo chave dentro da política eclesiástica – e da política tout court – e não menos importante que o próprio presidente da Conferência Episcopal. Bergoglio somou os dois títulos nos últimos seis anos. Agora terá que esperar pelo desempenho que Arancedo terá à frente do Episcopado, mas como arcebispo de Buenos Aires o cardeal Bergoglio continuará sendo uma figura de referência para quando se precisar dele. Entre outros motivos, porque embora Arancedo parece ter inaugurado uma nova etapa das relações com o Governo, caracterizada pelo diálogo e pela distensão, Bergoglio pode ser o gladiador das batalhas mais difíceis se, chegado o caso, os bispos consideram que é necessário fixar posições, defender interesses ou princípios.
Nas especulações que correm nos corredores curiais asseguram que Bergoglio permanecerá em seu posto por menos mais dois anos, tempo durante o qual aumentarão os rumores e as versões sobre seu suposto sucessor, para cuja designação o próprio cardeal terá uma palavra muito importante. Seguramente a esse lugar chegará algum dos bispos já designados e que atualmente ocupam cargos em outras dioceses do país. Já há nomes na dança.
Roma poderia decidir também designar um sacerdote que ainda não chegou ao Episcopado, mas não é habitual para uma sede da importância de Buenos Aires. Quem chegar a esse lugar terá que ser um bispo com experiência. O próprio Código de Direito canônico que agora obriga Bergoglio a renunciar estabelece (cânon 378) que os candidatos ao Episcopado devem reunir condições, tais como: ser “insigne pela firmeza de sua fé, bons costumes, piedade, zelo pelas almas, sabedoria, prudência e virtudes humanas, e dotado das demais qualidades que o tornam apto para exercer o ofício de que se trata”. E devem contar, além disso, com “boa fama”, ter ao menos 35 anos de idade e cinco de sacerdócio, ser “doutor, ou ao menos licenciado em Sagrada Escritura, teologia ou direito canônico por um instituto de estudos superiores aprovado pela Sé Apostólica, ou ao menos verdadeiramente experto nessas disciplinas”.
Quem julga e analisa estas qualidades? O mesmo cânon assinala que “o juízo definitivo sobre a idoneidade do candidato corresponde à Sé Apostólica”. Isto é, ao Vaticano e ao Papa seguramente também “tendo em conta as circunstâncias”.
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Bergoglio está com o seu destino nas mãos de Bento XVI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU