10 Julho 2011
Os pastores manifestaram seu apoio a Jorge Hank Rohn (foto), preso porque estava em posse de um arsenal de guerra. No país dilacerado pela violência desencadeada pela luta contra as drogas, estoura a polêmica.
A reportagem é de Andrés Álvarez Beltramo, publicada no sítio Vatican Insider, 07-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Sepulcros caiados" e "raça de víboras". Com essas palavras, há poucos dias, o presidente do México, Felipe Calderón Hinojosa, qualificou vários bispos católicos do país. Motivo? O apoio público dado pelos prelados ao excêntrico milionário Jorge Hank Rohn, depois que o Exército o prendeu em posse de um arsenal.
O presidente desabafou sua indignação durante um encontro privado com o ex-padre e líder pacifista Javier Sicilia. Mostrou-se incomodado com as cartas e as declarações de apoio de vários pastores mexicanos a Hank, em cuja casa foram encontradas 88 armas de fogo, várias delas de uso exclusivo das forças de segurança.
Há anos, Hank Rohn tem uma má reputação, embora nunca tenha sido possível comprovar seus crimes. Filho de um conhecido líder sindical, é dono da maior casa de apostas do México e foi prefeito de Tijuana, localidade na fronteira com os Estados Unidos conhecida como "o maior bordel do mundo".
Apesar desses antecedentes, o bispo da diocese de Mexicali, José Isidro Guerrero Macías, considerou ser necessário defendê-lo publicamente e publicou um anúncio na imprensa para expressar a ele a sua fraternidade "nessa tribulação pela qual você está passando".
"Quero, através desta, manifestar-lhe meu apreço e amizade, uma amizade que compartilhamos nas alegrias e que continuaremos compartilhando também nas provas dolorosas. Hoje, mais do que nunca, peço a Deus que o ilumine, e você possa seguir adiante em seus sonhos e projetos", escreveu Guerrero.
"Como bispo, acredito na justiça e em quem exerce a autoridade em nosso estado de Baja California. Confio neles e sei que serão capazes de discernir e interpretar os acontecimentos que ocorreram. Peço a Deus por eles para que se deixem iluminar e conduzir com apego à lei e ao bom juízo, como sempre se esforçaram por fazer", acrescentou.
Mas Guerrero não foi o único. Outros pastores mostraram sua solidariedade com Hank. Entre eles, o arcebispo de Tijuana, Rafael Romo Muñoz, que assegurou ao empresário suas orações e sua amizade, assim como Onésimo Cepeda Silva, pastor de Ecatepec.
Também se pronunciaram sobre o assunto Felipe Arizmendi, da diocese de San Cristóbal de las Casas (Chiapas), que se mostrou muito preocupado com os motivos da detenção e pôs em dúvida a veracidade da operação que resultou na apreensão das armas.
"Há muito tempo o andavam procurando para ver se havia enriquecimento ilícito ou algum outro tipo de coisas. Eu não sou ninguém para julgar, mas, desde já, oxalá que essas coisas nunca aconteçam como em uma caça ou como uma metodologia eleitoral", afirmou.
"Diz-se que encontraram 88 armas", questionou um jornalista. Arizmendi replicou: "Pois isso é o que é preciso ver, porque às vezes já não temos confiança suficiente no que encontram com alguém; foi isso que disseram. Por isso, repito, oxalá que haja veracidade nos fatos e não sejam manipulados para outros fins".
O México está numa guerra contra o narcotráfico que deixou um saldo de mais de 40 mil mortos em cinco anos. Em 2006, quando chegou à presidência da república, Calderón anunciou que iria combater os traficantes de drogas com punho de ferro, e assim o fez. Isso provocou represálias dos delinquentes, cujos pistoleiros assassinaram dezenas de pessoas inocentes.
Por isso, o governo incluiu o exército na luta interna, não só contra os poderosos cartéis da droga, mas também para substituir diversos órgãos policiais corruptos. Com os soldados nas ruas, os chefes reagiram de modo violento.
A violência tem afetado todos os setores da sociedade, incluindo a Igreja Católica. No dia 3 de julho passado, o sacerdote Marco Antonio Durán morreu vítima de uma "bala perdida", depois de estar no meio de um fogo cruzado entre militares e narcotraficantes em Matamoros, no norte do México.
Devido a episódios como esse, existem diversas posições no interior do episcopado mexicano diante da estratégia governamental contra os grupos de delinquentes. Enquanto o bispo de Saltillo, Raúl Vera López, critica a intervenção militar nas cidades e aproveita qualquer oportunidade para insultar o governo, o presidente da Conferência Episcopal, Carlos Aguiar Retes, considera como "inevitáveis" as vítimas civis no combate às drogas.
Mas sobre as declarações dos bispos em apoio de Jorge Hank Rohn, não se levantaram convites à prudência nem vozes de condenação no resto dos pastores do México. Embora, entre sacerdotes e fiéis, surgiram constrangimentos perante uma defesa pública de quem já se converteu no emblema da impunidade para a opinião pública mexicana. Depois de uma questionável decisão judicial, Hank está livre.
Para o arcebispo de Guadalajara, Juan Sandoval Iñiguez, o México está contaminado pela corrupção e pela degradação espiritual. A pobreza é um terreno fértil para a violência. A falta de perspectivas e de trabalho para os jovens os empurram para se envolve no crime organizado.
"A Igreja está dando a sua contribuição: ser consciência moral, despertar a consciência do povo para a honradez e para a solidariedade", disse o cardeal em uma entrevista.
"Acredito que a pregação de muitos bispos têm sido serena, visando à consciência, mas dizendo sim, com clareza, que não é possível ser católico e estar nessas máfias, o que é pecado, é errado e vai contra a religião. Algo foi feito, mas acredito que falta mais força", reconheceu.
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México: quando os bispos se solidarizam com um milionário com cheiro de narcotráfico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU