Por: Caroline | 05 Novembro 2013
A líder do Partido Trabalhista israelense, Shelly Yachimovich, disse ontem que reconsideraria entrar para a coalizão do governo liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, se houver a saída da Casa Judaica, partido religioso e ultranacionalista. Desde a volta do Likud, e seus aliados, no governo de 2009, o trabalhismo sofre com a perda de influência no cenário político. Nas últimas eleições de janeiro, os trabalhistas alcançaram o terceiro lugar, com 11,4% dos votos, seguidos de perto pelo Casa Judaica. “O trabalhismo abandonou as funções básicas de um partido de esquerda, perdeu sua especificidade e não é, aos olhos da maioria dos israelenses, uma alternativa provável para a direita”, explicou Zeev Sternhell (foto) historiador e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, ao jornal Página/12. De Israel, Sternhell, 78 anos, respondeu as perguntas por e-mail.
A reportagem é de Patricio Porta, publicada por Página/12, 04-11-2013. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/dguSf2 |
“Nós optamos por não entrar na coalizão com vocês. Mas, oferecemos uma ‘rede de segurança’ para o real progresso até a paz”, advertiu Yachimovich, no mês passado, a Netanyahu. Uns dias depois, a ministra da Justiça e chefe da delegação israelense nas negociações com a Autoridade Nacional Palestina, Tzipi Livni, convidou ao trabalhismo para se unir ao governo de Netanyahu em nome da paz. A recusa de Yachimovich marca a ausência dos trabalhistas nas negociações com palestinos, que, em 1993, conseguiram a assinatura do então premier trabalhista Isaac Rabin, para os Acordos de Oslo.
“O conjunto da esquerda quer fazer a paz sobre a base dos dois estados e está pronto para retirar os assentamentos, mas não todos eles - e os palestinos entendem que nem todos os assentamentos existentes podem ser retirados - enquanto que a direita se nega a fazer a paz sobre a base dos dois estados e em deslocar os judeus de onde quer que estejam neste momento”, afirmou Sternhell, que em seu livro, “As origens de Israel” (Capital Intelectual), descreve o peso do trabalhismo na criação de desenvolvimento do Estado judeu. A ascensão da ultradireita ao governo excluiu o Partido Trabalhista do sistema político e dificultou os acordos para a criação de um Estado palestino independente.
A vida em Israel está dominada pela questão da guerra e paz e, no centro desta, encontra-se o tema primordial do Estado palestino, reconheceu Sternhell. “Se o caminho para o fim do conflito estivesse estabelecido, isto é, a divisão da terra e saída dos assentamentos, Oslo teria sido um grande ganho. Infelizmente, ficou-se no meio do caminho e hoje o trabalhismo perdeu sua credibilidade e não pode convencer nenhum segmento importante da população que tem capacidade de implementar uma solução dos dois estados”, considerou.
Desde o assassinato de Rabin, o trabalhismo se tornou incapaz de avançar para uma solução global da questão palestina, acrescentou.
Dentro da coalizão liderada por Netanyahu, destacam-se os nomes como o de Uri Ariel, ministro de Construção, e Moshe Yaalon, ministro da Defesa, ambos partidários da expansão dos assentamentos judeus na Cisjordânia. Sua influência no governo aqueceu os planos expansionistas dos colonos. Na quinta-feira, o primeiro-ministro autorizou a construção de 1.500 unidades habitacionais na Jerusalém oriental, zona reivindicada pelos palestinos.
Com os trabalhistas afastados, na oposição do Knesset (Parlamento), a divisão em torno das condições para negociar com a Autoridade Nacional Palestina se realiza dentro do governo. Na semana passada, o ministro de Finanças, Yair Lapid, e o parlamentar Gideon Saar pediram ao ministro de Assuntos Religiosos e líder da Casa Judia, Naftali Bennett, que renunciasse por ter se posicionado contra a libertação de 26 presos palestinos, pré-condição para as negociações de paz.
Para Sternhell, os membros da ultradireita que compõe o governo estão dispostos a sacrificar o futuro de Israel em vista dos interesses dos colonos. “A maioria do Likud e todos os integrantes que estão à direita do Likud são os que se negam a chegar a um acordo e estão fazendo tudo o que é possível para evitá-lo. Seu objetivo é claro: manter toda a Cisjordânia e reduzir os palestinos a condição de um povo permanentemente dominado” assegurou, e acrescentou que o que realmente estaria se preparando é um Estado de apartheid. “Assim, uma minoria de colonos tomou o controle do destino de nossa sociedade e a tomou de refém, devido à impotência ideológica da esquerda e a falta de caráter, determinação e liderança”, admitiu Sternhell.
Após as eleições de janeiro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, mas não é levado em conta como interlocutor para as negociações de paz, expressou que os israelenses favoreceram os partidos mais fanáticos, que estão de acordo com a colonização e com o deslocamento dos palestinos. “Estamos vendo, pouco a pouco, o começo de uma situação na qual a sociedade israelense terá que decidir o que prefere: um futuro de paz, uma segurança relativa e prosperidade econômica em troca de territórios, ou se agarrar aos territórios, colocando em perigo o futuro do Estado judeu”, indicou Sternhel. “Os assentamentos estão enterrando o Estado judeu democrático. Se nossa sociedade não encontra força emocional e intelectual para desprender os laços com os assentamentos, não restará nada mais que uma triste lembrança do Estado judeu que ainda existe”.
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O Estado judeu democrático e os assentamentos na Jerusalém oriental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU