01 Abril 2013
A ressurreição foi um evento do passado, mas ou a vivemos aqui como força de amor em cada encontro com o outro, ou é simples cena, folclore religioso.
A reflexão é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal La Stampa, 31-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Os cristãos sabem expressar, comunicar o que festejam na Páscoa? Esse é um caso sério. Toda religião tem festas nas quais os fiéis celebram eventos ou crenças particulares, e tem o direito de fazê-las conhecer a quem é estranho a essa determinada fé. Então, por que os cristãos encontram na Páscoa o fundamento da sua fé e por que querem fazer conhecer a boa notícia contida na Páscoa? São perguntas legítimas e necessárias. É a ânsia missionária, proselitista que faz com que os cristãos falem e que os leva a esse anúncio fora das suas comunidades, apesar das maiores dificuldades que isso envolve nos nossos dias? Os cristãos querem aumentar em número e incrementar os seus efetivos, agregar outros homens e mulheres comprometidos com a mesma aventura?
Querem fazer crescer a sua casa, na Igreja? Não, e é preciso dizer isso com clareza, embora muitas atitudes por parte de grupos presentes na Igreja reduzam o cristianismo a propaganda e militância, sem nunca se perguntar se são discípulos de Jesus.Na verdade, há nos cristãos a convicção – que não pertence à ordem do saber – de que o homem Jesus de Nazaré, que morreu no dia 7 de abril do ano 30 da nossa era, morto pelo poder religioso de Jerusalém e por conveniência do poder totalitário imperial romano por causa da sua mensagem e do seu estilo de vida, havia passado uma vida inteira a serviço de quem ele encontrava, infundindo esperança e confiança, vivendo um amor prático real e cotidiano para com todos, amigos e inimigos, pobres e ricos, notáveis e pessoas anônimas.
Esse homem foi chamado da morte a uma vida para sempre pelo seu Deus, do qual era filho enviado entre as pessoas. De modo que a morte não é a última palavra, não é mais o fim, o destino de todo ser humano porque existe uma realidade que pode combatê-la até vencê-la: o amor.
Amor: palavra abusada, mas única palavra que as pessoas de todos os tempos e de todas as culturas continuam usando para dizer o que é bom e faz o bem, o que nos torna felizes, que cria beleza... A sede mais profunda que há em nós é sede de amor; graças ao amor nós tecemos laços, vivemos juntos, saímos do isolamento, nos humanizamos. Sim, nos humanizamos. Esse é o ponto em que todos deveríamos ser cúmplice pelas estradas do mundo: buscar o que nos humaniza, afirmar o que nos humaniza, resistir e combater contra o que nos desumaniza.
Então, se é verdade que os cristãos querem comunicar aos outros a alegria que vivem na Páscoa, só podem expressá-la assim: "A ti, irmão, irmã em humanidade, pode interessar que a morte pode ser vencida pelo amor. Por isso, comunico-te não uma certeza minhas, mas sim a convicção que me sustenta e que me torna capaz de confiar: Jesus ressuscitou para sempre ou, em outras palavras, o amor venceu a morte!".
No entanto, essa não pode ser uma afirmação jogada para os outros, não pode se tornar um slogan nem um elemento de conhecimento gnóstico, uma afirmação intelectual ou uma ideia bonita. Ao invés, é acima de tudo uma prática que mesmo os não cristãos podem viver, já vivem com dificuldade e esforço no duro ofício de viver, contra a propagação da banalidade do mal.
Segundo a tradição cristã é realmente Páscoa quando encontramos o outro (assim diz um ditado fictício: "Viste um homem? Viste o Senhor!"), quando duas pessoas se inclinam uma em direção à outra (ditado dos Padres do deserto), quando a solidão, o isolamento são despedaçados (São Bento foi visitado em seu eremitério por um monge no domingo de Páscoa), quando se celebra o amor presente nas mais diversas histórias de amor, quando se cuida de um doente, quando se chama estrangeiro à própria mesa, quando se visita quem está na prisão, quando se dá de comer a quem tem fome, quando se abraça aqueles que são definidos como irregulares, marginais, pecadores, quando ocorre a libertação de quem se encontra em necessidade e na opressão... Páscoa é o recomeçar na vida com fé-confiança, com esperança, comprometendo-se somente a amar e a ser amado.
Nestes dias, os católicos são estimulados de muitos modos pelo Papa Francisco ao compromisso entre as pessoas: fugir de toda autorreferencialidade, não se sentir assediado em santas cidadelas olhando para o mundo de cima para baixo, como se fosse Sodoma e Gomorra; ao invés, sair de si mesmos, ir, sair e encontrar os outros.
O Papa Francisco se perguntou por que ele foi até a prisão juvenil de Casal di Marmo para lavar os pés de alguns detentos: "Porque Jesus nos ensina isso, e é isso que eu faço, e faço isso de coração, porque é meu dever (...) mas é um dever que vem do coração, e eu o amo". No amor, fazem-se gestos gratuitos, deseja-se se colocar a serviço do outro, porque o outro, na sua miséria, na pobreza, na sua qualidade de malfeitor, por "não saber o que fazia", pode ser amável se assumirmos o olhar e os sentimentos de Jesus.
Mesmo essa atitude simples – fruto não de estratégias pastorais ou de táticas proselitistas, mas somente da obediência de um coração que sabe amar – está na luz pascal. A ressurreição foi um evento do passado, mas ou a vivemos aqui como força de amor em cada encontro com o outro, ou é simples cena, folclore religioso.
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Portanto, irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus,
vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos intelectuais,
nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade.
Mas, Deus escolheu o que é loucura no mundo,
para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo,
para confundir o que é forte.
E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor,
isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante.
Desse modo, nenhuma criatura pode se orgulhar na presença de Deus.
Ora, é por iniciativa de Deus que vocês existem em Jesus Cristo,
o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus,
justiça, santificação e libertação a fim de que, como diz a Escritura:
"Aquele que se gloria, que se glorie no Senhor».(1Co 1,26-31)
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Páscoa: mensagem de amor, não de doutrina. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU