Por: Jonas | 03 Novembro 2014
A Síria quase perdeu sua segunda cidade para os jihadistas do Estado Islâmico (EI) e a Frente Al-Nusra, quando centenas de combatentes surgiram na capital provincial, Idlib, tomaram o escritório do governador recém-instalado e começaram a decapitar os oficiais do exército sírio. Quando as tropas governamentais recuperaram o edifício, pelo menos 70 soldados – muitos funcionários do alto escalão – haviam sido executados, deixando uma das cidades mais antigas da Síria no caos. “Eles foram assassinados”, dizia uma mensagem em Damasco, antes que o exército pudesse declarar Idlib salva.
A reportagem é de Robert Fisk, publicada por Página/12, 30-10-2014. A tradução é do Cepat.
A cidade oriental de Raqqa esteve nas mãos do EI durante meses, mas Idlib fica estrategicamente localizada entre Alepo e a cidade costeira de Lataquia, ambas ainda sob o comando do regime do presidente Bashar al Assad. A queda de Idlib teria sido um golpe devastador para o governo. Em certo momento, foi dito à administração Assad que a cidade havia caído depois que a polícia e os agentes de segurança nos quartéis do governador Kheir Eddib Asayed passaram para o lado dos rebeldes. De fato, muitos agiram assim, abandonaram o edifício. Porém, por eventualidade, os soldados no perímetro da cidade não receberam a notícia e continuaram lutando contra centenas de jihadistas que procuravam adentrar em Idlib. Ainda resistiam aos atacantes quando o escritório do governador foi recapturado.
Idlib se localiza a apenas 50 quilômetros da maior cidade da Síria, Alepo, e é o lar de mais de 200.000 pessoas. Seu museu é bem conhecido pelos antigos turistas que desejavam ver os tesouros das chamadas “cidades mortas” romanas do norte da Síria, e permaneceu em um virtual estado de sítio durante mais de um ano. O assombro pelo quase colapso era nítido na capital, Damasco, onde o novo governador – que não estava em seu escritório no momento – conseguiu telefonar para a sede do exército a tempo de evitar o anúncio da queda de Idlib.
Apesar dos atacantes ser identificados como rebeldes da Frente Al-Nusra - o exército sírio considera todos os seus opositores como “terroristas” e parte do Estado Islâmico -, o ataque foi pensado obviamente para coroar uma nova vitória demolidora para o chamado califado islâmico, que agora se estende do leste de Alepo até os arredores de Bagdá, no Iraque. A ferocidade do ataque – alguns soldados conseguiram telefonar para Damasco para alertar o governo sobre sua execução iminente – mostra o quanto o regime sírio está pressionado em sua batalha contra o mesmo inimigo que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu “rebaixar e destruir”. Rebaixados era a única coisa que os homens armados que atacaram Idlib não pareciam estar.
Assim que chegaram ao centro da cidade, muitos de seus companheiros foram para a cidade iraquiana de Mossul, quando o califado se declarou em primeiro lugar. Os homens armados procuraram capturar o maior número possível de oficiais do alto escalão do regime. Seu assassinato – por decapitação com uma faca ao invés de disparos – estava totalmente de acordo com a política do EI. Antes de perder o centro da cidade, a Frente Al-Nusra se gabava que a sua “vitória” era “uma segunda Raqqa” e que “logo se ouvirão os gritos dos incrédulos”. Na colina Mushamah, por fora da cidade, os jihadistas capturaram dois tanques do exército e 12 soldados – seu destino ainda é desconhecido -, ao mesmo tempo em que a polícia da cidade, aparentemente conivente com os possíveis terroristas suicidas, abriu o escritório do governador para os atacantes.
Parece que foram capazes de identificar soldados do regime de alto nível para decapitá-los. Não poderiam se salvar. Os funcionários do governo em Damasco falavam apenas de “muitos mortos”, quando as primeiras notícias do assalto chegaram à capital.
O exército do país já perdeu ao menos 33.000 homens – o número real pode muito bem estar acima de 46.000 – e a queda de Idlib teria marcado uma espantosa nova etapa na guerra da Síria. Ontem à noite, uma bandeira do governo apareceu novamente sobre o escritório do governador. Mas, por quanto tempo?
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Terror na cidade síria de Idlib - Instituto Humanitas Unisinos - IHU