Por: André | 22 Julho 2014
A comemoração do 35º aniversário da Revolução Sandinista terminou de modo trágico. Dois micro-ônibus com simpatizantes do governo sofreram emboscadas, deixando um saldo de cinco mortos e 24 feridos.
Fonte: http://bit.ly/WyWUpz |
A reportagem é publicada pelo jornal Página/12, 21-07-2014. A tradução é de André Langer.
Ao menos cinco mortos e 24 feridos foi o saldo deixado por dois ataques armados a micro-ônibus que levavam simpatizantes de volta para as suas casas no norte da Nicarágua, após terem participado das festividades, no sábado (dia 19) à noite, em Manágua, do 35º aniversário da Revolução Sandinista. É a primeira vez que partidários do governo são atacados massivamente, desde que o presidente Daniel Ortega voltou ao governo em janeiro de 2007. Os principais partidos de oposição na Nicarágua condenaram a violência.
Uma das emboscadas aconteceu na comunidade de Las Calabazas, situada a 60 quilômetros de Manágua, onde desconhecidos atiraram contra um micro-ônibus que transportava militantes sandinistas para a Província de Estelí, no norte do país. Nesse episódio, que ocorreu na rodovia Panamericana – a principal via que liga a Nicarágua com o resto da América Central –, foi onde se registrou a maioria das vítimas, segundo informaram fontes da polícia. O segundo ataque aconteceu em San Ramón, na Província de Matagalpa, a cerca de 130 quilômetros da capital, e deixou um morto e uma quantidade não precisada de feridos, segundo o prefeito dessa região, Zadrach Zeledón. “A nossa indignação é profunda e nos enche até de uma grande impotência ver como se deu uma situação tão covarde, criminosa”, afirmou Zeledón, que também é secretário político da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) na Província de Matagalpa.
“Foram massacres perpetrados contra gente simples, gente humilde, gente que vinha para celebrar civicamente, com muita alegria, com muita esperança, um aniversário da nossa revolução”, acrescentou o dirigente.
Enquanto se aguardava que as autoridades dessem mais detalhes, a imprensa recordou na sexta-feira passada que meios locais publicaram que desconhecidos armados com fuzis de assalto AK-47 e vestidos com uniformes de combate bloquearam a rodovia Panamericana em Totogalpa, ao norte do país, e atiraram contra um veículo cujo motorista não acatou a ordem de parar. De acordo com essa versão, os homens armados se identificaram como membros do grupo FDN-380, o mesmo nome da Força Democrática Nicaraguense que, na década de 1980, era usado pelos “contras” antissandinistas e seu chefe, Enrique Bermúdez, cujo apelido é Comandante 380. Após as denúncias – anteriores aos ataques de sábado à noite – de produtores agrícolas e bispos católicos sobre a suposta presença de grupos armados antigoverno no interior do país, as autoridades negaram a existência de forças irregulares com motivação política e disseram tratar-se de quadrilhas de delinquentes comuns.
Os atentados ocorreram poucas horas depois da multitudinária celebração na Praça da Fé, em Manágua, da qual participaram, além de Ortega, os presidentes de El Salvador, Honduras e Venezuela, respectivamente Salvador Sánchez Cerén, Juan Orlando Hernández e Nicolás Maduro. “Senhor fazei-me um instrumento de vossa paz; onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, o perdão; que eu procure mais amar que ser amado e perdoar que ser perdoado”, disse Ortega em seu discurso, parafraseando São Francisco de Assis.
Em 19 de julho de 1979, as guerrilhas da Frente Sandinista derrubaram o ditador Anastacio Somoza, cuja família manteve-se no poder durante meio século, e iniciaram uma revolução à qual se opuseram quase 40.000 rebeldes “contras” apoiados pelos Estados Unidos. Embora os sandinistas não fossem dobrados militarmente, viram-se obrigados a assinar acordos de paz com outros países da América Central e a realizar eleições em 1990, nas quais o comandante Ortega perdeu o poder para Violeta Chamorro, candidata de uma coalizão opositora.
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Revolução Sandinista. Um aniversário ofuscado pela violência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU