Por: Caroline | 09 Junho 2014
"A taxa de câncer de tireoide entre os 250 mil jovens que vivem na área de Fukujima é 40 vezes maior que a normal. De acordo com o especialista em saúde Joe Mangano, mais de 46% tem nódulos e cistos pré-cancerígenos nas tireoides. E adverte: “Isso é apenas o início” de uma tragédia epidêmica", escreve Harvey Franklin Wasserman, jornalista, escritor, ativista pela democracia e defensor das energias renováveis e que tem sido um dos estrategistas e organizadores do movimento anti-nuclear nos Estados Unidos, em artigo publicado por Rebelión, 06-06-2014. A tradução é do Cepat.
Segundo ele, "Depois dos fatos de Fukushima, o povo japonês se tornou muito mais antinuclear. Uma indignação profundamente arraigada se estendeu por causa das desleixadas soluções aplicadas e pelos pacotes de pequenas compensações entregues às vítimas que habitam as zonas onde os ventos levam contaminação".
Eis o artigo.
O silêncio sobre Fukushima nos meios de comunicação dominantes tem sido ensurdecedor mesmo com o fato de que a radiação que chega por via marítima procedente da fusão dessa usina de energia nuclear está já esteja causando a erosão das praias estadunidenses. Cada dia é derramado mais água radioativa no Pacífico.
Sobre a Unidade 4, estão concentrados no ar pelo menos três elementos combustíveis extremamente voláteis. Três anos após o desastre de 11 de março de 2011, ninguém sabe exatamente onde pode estar os núcleos fundidos das Unidades 1,2 e 3.
Em meio a uma perigosa limpeza infiltrada pelo crime organizado, existe um risco real de que, em qualquer momento, se produzam novas radiações massivas.
Lavar as águas radioativas subterrâneas do complexo é um processo muito intricado e problemático e a Tepco, proprietária de Fukushima Daiichi, acaba de conseguir que seja aprovada a construção de uma extremamente controversa parede de gelo ao redor do lugar onde se ergueu o reator danificado. Nunca se construiu um muro desse tipo, nem nessa escala e, além disso, não será finalizado em menos de três anos. Há um ceticismo generalizado acerca de seu potencial impacto na estabilidade do lugar e pelas imensas quantidades de energia que serão necessárias para sua manutenção. Os críticos duvidam também que se possa evitar que o lugar se inunde e o que os preocupa é que possa, inclusive, causar mais danos no caso de uma falha de energia.
Enquanto isso, as crianças dos arredores continuam morrendo. A taxa de câncer de tireoide entre os 250 mil jovens que vivem na área é 40 vezes maior que a normal. De acordo com o especialista em saúde Joe Mangano, mais de 46% tem nódulos e cistos pré-cancerígenos nas tireoides. E adverte: “Isso é apenas o início” de uma tragédia epidêmica.
Contudo, há alguma boa notícia, exatamente do tipo que a indústria da energia nuclear não quer que se difundam.
Na época em que o terremoto e o posterior tsunami atingiram Fukushima, havia no Japão 54 reatores comerciais com licença para operar, mais de 12% do total mundial. Nos dias de hoje, não voltou-se a abrir nenhum. Os seis em Fukushima Daiichi não voltaram a operar. Alguns dos trinta reatores mais velhos que se encontram por todo Japão não podem cumprir as atuais exigências de segurança (uma realidade que poderia ser aplicada aos sessenta ou mais reatores que continuam operando nos EUA).
Como parte de uma tentativa desesperada para voltar a abrir esses reatores, o Primeiro Ministro Shinzo Abe reestruturou as agências reguladoras do país e retirou ao menos um dos principais críticos da indústria nuclear, substituindo-o por um partidário destacado da mesma.
Porém o tribunal japonês rechaçou uma demanda corporativa apresentada para colocar em funcionamento dois novos reatores na usina de energia Ooi na prefeitura de Fukui. Os juízes decidiram que a incerteza sobre quando, onde e quão forte pode ser o inevitável próximo terremoto, tornam impossível que se possa garantir a segurança de um reator no Japão.
Isto quer dizer que no Japão não pode ser reaberto nenhum reator sem pôr em perigo a nação, desse modo, o tribunal não pode aceitar sua reabertura. Essas derrotas legais são extremamente raras na indústria nuclear japonesa e é provável que esta seja anulada. Entretanto já conseguiu desferir um duro golpe para a agenda nuclear de Abe.
Por detrás dos fatos de Fukushima, o povo japonês se tornou muito mais antinuclear. Uma indignação profundamente arraigada se estendeu por causa das desleixadas soluções aplicadas e pelos pacotes de pequenas compensações entregues às vítimas que habitam as zonas onde os ventos levam contaminação. Mas o mais preocupante é a situação das crianças pequenas que se veem obrigadas a regressar às zonas intensamente contaminadas aos redores da usina.
Sob a lei japonesa, os governos locais devem aprovar qualquer implementação. Os candidatos antinucleares têm divido os votos nas últimas eleições, mas o movimento pode chegar a se unificar e desbordar a administração de Abe.
Um novo quadrinho satirizando a limpeza de Fukushima se tornou um Best Seller com alcance nacional. O país também foi esmagado frente às revelações de cerca de 700 trabalhadores que fugiram de Fukishima Daiichi no momento de pico do acidente. Lá ficou apenas um grupo de pessoas para enfrentar a crise, incluindo o administrador da usina, que morreu de câncer pouco tempo depois.
Enquanto isso, o infame e profundamente repressivo relatório de segredos está restringindo seriamente o fluxo de informações técnicas. E ao menos um opositor nuclear está sendo processado por enviar um tweet crítico para um defensor da indústria nuclear. Um professor que for encarcerado por criticar como o governo tem tratado a questão dos resíduos nucleares acaba de chegar aos EUA e está disposto a falar.
Os meios de comunicação dominante dos EUA têm guardado silencio mortal ou se mostrados desdenhosos a respeito da radiação que já está erodindo nossas costas e a respeito da tarefa, extremamente perigosa, de eliminar os cilindros de combustíveis imensamente radioativas das piscinas prejudicadas.
O desenho dos reatores de General Electric em Fukushima levou ao crescimento das piscinas do combustível nuclear gasto no ar, a uma altura aproximada de 100 pés (ao redor de 100 metros). Quando o tsunami atingiu, milhares de cilindros que estavam suspensos sobre as Unidades 1, 2, 3 e 4.
De acordo com o engenheiro nuclear Arnie Gundersen, ao ver-se sobre as montagens da Unidade 3 pôde acreditar que havia sido criado um grave problema. Gundersen disse que no início, em novembro de 2013, a Tokyo Electric Power retirou cerca de metade das barras que haviam ficado ali suspensas. Contudo ao menos três conjuntos que podem estar presos. A metade do empilhado mais difícil continua ali. E as piscinas das outras três unidades continuam apresentando problemas. Um acidente em qualquer uma delas poderia provocar importantes emissões de radiação, e já superaram amplamente as que foram produzidas em Chernobil e as causadas pelos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.
Ao menos 300 toneladas de água altamente contaminada procedente de Fukushima vão parar todo dia no Oceano Pacífico. Muitas outras centenas de toneladas se acumulam no local e os apologistas da Tepco pretendem que seja dirigida diretamente para o oceano sem descontaminação.
Apesar dos bilhões de dólares de ajuda pública, a Tepco continua sendo a principal proprietária de Fukushima. A “limpeza” se tornou motivo de importantes benefícios. A Tepco vangloriou-se de altos lucros em 2013. Seus sócios em outras empresas estão desesperados para voltar a abrirem outros reatores que lhes façam ganhar fluxos imensos de efetivo ao ano.
Novos estudos da Comissão Reguladora Nuclear têm destacado importantes ameaças sísmicas nas zonas nucleares estadunidenses. Entre o mais preocupante figuram dois reatores em Indian Point, justamente ao norte da cidade de Nova York, que está próxima da muito volátil Falla Ramapo; e dois no Cânion do Diabo, entre Los Angeles e São Francisco, situados diretamente contra o vento do Vale Central da Califórnia.
A indústria nuclear dos EUA também sofreu um enorme golpe por causa do Projeto piloto de Isolamento de Resíduos do Novo México. Essa instalação modelo de resíduos radioativos procura demonstrar que a indústria pode ocupar-se em solucionar o problema de seus resíduos. Não foram poupados recursos para realiza-la nas cavernas de sal do deserto do sudoeste, considerado oficialmente como o lugar perfeito para depositar as 70 mil toneladas de cilindros de combustíveis altamente contaminadas que agora se acumulam nos lugares dos EUA onde há reatores nucleares.
Contudo uma explosão e uma importante liberação de radicação nesse projeto piloto, que ocorreu no mês passado, contaminou aqueles que residem nas localidades próximas, lançando uma sombra escura sobre os planos futuros para a utilização de resíduos do reator estadunidense. A constante queixa formulada pela indústria nuclear é que as barreiras “políticas” são absurdas.
Enquanto a indústria estadunidense dos reatores continua sugando bilhões de dólares do tesouro público, seus aliados nos meios dominantes parecem cada vez mais relutantes para cobrir as notícias do Japão pós-Fukishima.
Na realidade, aqueles reatores destruídos continuam sendo extremamente perigosos. Um público indignado, cujos filhos estão sofrendo, conseguiu até agora que o restante das centrais nucleares do Japão seja mantido fechado. Se forem mantidas assim permanentemente, irão significar um imenso golpe para a indústria nuclear global, mas podem estar certos que essa informação não aparecerá publicada nos meios de comunicação dominantes dos EUA.
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Fukushima ameaça com novos desastres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU