Por: André | 28 Abril 2014
João Paulo II foi informado sobre as investigações feitas pela Congregação para a Doutrina da Fé contra o fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, iniciadas no final do seu pontificado, revelou nesta sexta-feira Joaquín Navarro-Valls.
A reportagem está publicada no sítio da mexicana Rádio Fórmula, 25-04-2014. A tradução é de André Langer.
Em um encontro com jornalistas, na Sala de Imprensa do Vaticano, o ex-porta-voz do Vaticano recordou que a investigação canônica das denúncias contra Maciel por abusos sexuais contra menores começou ainda quando Karol Wojtyla estava vivo.
Mas, esclareceu, que no seu falecimento, em abril de 2005, o processo não havia sido concluído, ao menos em relação à determinação final da Doutrina da Fé.
“O primeiro passo foi mandar (Charles) Sicluna (promotor de justiça da Doutrina da Fé) falar com todas as pessoas. Isto aconteceu durante o pontificado de João Paulo II, e o Papa foi informado sobre este processo”, indicou.
“Comprovar um caso destas dimensões levou tempo; mesmo que apenas uma única pessoa estivesse implicada, havia muitos envolvidos. Quando todo o material reunido por Scicluna foi trazido aqui e se chegou às conclusões, o Papa já tinha falecido”, acrescentou.
Assegurou que no início do Pontificado de Bento XVI ele falou com o Papa e lhe assinalou que, apesar de se tratar de um caso triste, devia ser comunicado à opinião pública.
Disse que o Papa não refletiu muito, fez-lhe algumas perguntas e decidiu: “informe amanhã”. Então Navarro-Valls precisou: “No dia seguinte fiz como me pediu”.
“João Paulo II não teve em mãos o resultado desta investigação, mas sabia que o processo tinha sido iniciado para investigar o caso”, ponderou.
O caso de Marcial Maciel, culpado não apenas por abusos contra menores, mas também por outros atos imorais (como, por exemplo, ter tido vários filhos com diversas mulheres), foi uma das principais críticas dos detratores da canonização de João Paulo II.
Navarro-Valls referiu-se também à reação de Wojtyla diante dos primeiros casos de abusos sexuais contra menores que começaram a chegar ao Vaticano no final dos anos 1990.
Reconheceu que o Papa não se deu conta imediatamente da magnitude do flagelo, porque “ninguém o havia compreendido nesse momento”.
“Este câncer começou em uma zona geográfica concreta, nos Estados Unidos, e com casos isolados. Por outro lado, esses casos isolados que aparecerem nesse tempo, referiam-se a episódios acontecidos muito tempo atrás, cerca de 30 anos antes. Isto não tornava o problema menor, mas era assim”, precisou.
“Mas, pouco a pouco isto foi crescendo, o Papa se preocupou muito. Para a pureza do seu pensamento aceitar essa realidade era impossível, era incrível, mas a aceitou”, acrescentou.
O ex-porta-voz assinalou que a primeira resposta do pontífice foi tomar imediatamente decisões. Entre outras coisas, convocou a Roma todos os cardeais dos Estados Unidos, diante da impossibilidade de chamar a totalidade dos bispos, que era um número muito grande.
Em sua reunião com os cardeais foram abordados os casos que já começavam a aparecer e foram tomadas determinações concretas, que eram de natureza jurídica.
“Uma das decisões foi a de dar plenos poderes, de acordo com a lei eclesiástica ou fora da vigente lei eclesiástica, à Congregação para a Doutrina da Fé, ao cardeal Ratzinger. Assim se iniciou um processo de esclarecimento e saber o que fazer”, estabeleceu.
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João Paulo II conhecia a investigação do Vaticano contra Maciel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU