31 Março 2014
"Câmara de Vereadores de Porto Alegre, quando é que vais conseguir aprovar a troca de nome da Avenida de entrada da “mui valerosa e leal cidade” de Porto Alegre, de Avenida Castelo Branco o primeiro ditador da fajuta, para Avenida da Legalidade, levante em que o povo inteiro do Rio Grande do Sul se levantou sonhando com a Legalidade diante do iminente Golpe de Estado de alguns anos depois?", pergunta Antonio Cechin, irmão marista, agente de Pastoral em diversas periferias da região metropolitana de Porto Alegre, sendo também assessor de Comunidades Eclesiais de Base do Rio Grande do Sul, de catadores e de recicladores.
E questiona: "Que exemplo para os jovens de hoje como para as gerações futuras podem fornecer tanto a ditadura cívico-militar quanto a cultura gauchesca avassaladora que está aí, que acarinhou a quartelada fabricante de toda uma série de mártires, de modo todo particular entre a juventude da época, por não ter podido conquistar?"
Eis o artigo.
O ”Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa” com respeito à palavra “gaúcho” diz textualmente o seguinte: “do espanhol platino gaucho, com mudança de acento). No Brasil é substantivo masculino. Primitivamente, o habitante do campo, descendente, na maioria, de indígenas.”
Sem nenhuma pretensão de intelectual, mas apenas na qualidade de bacharel e licenciado que sou, em letras clássicas (grego, latim e português) e professor que fui durante muitos anos da “última flor do Lácio inculta e bela” que é a língua portuguesa nos versos do grande poeta Olavo Bilac, primeiro nos quatro anos do ginasial e depois nos cursos clássico e científico, na denominação daquela época, em preparação do vestibular, corrigindo milhares de redações por ano, palavras terminadas em esco como burlesco, carnavalesco, grotesco, etc. têm sempre um tom pejorativo. Aquilo que era bom e bonito, com o sufixo esco vira desprezível, feio, grotesco.
Não adianta os escritores rio-grandenses tomarem “gauchesco” como simples referência ao que é gaúcho quando a palavra é tomada como adjetivo, podendo ser escolhido tanto o adjetivo gaúcho quanto o adjetivo gauchesco.
O gauchesco, para mim e creio que para a maioria das pessoas, continuará a ser sempre uma adulteração grosseira de tudo o que é gaúcho, algo desprezível.
É nesse último sentido de gaúcho que, para mim, temos no solo rio-grandense duas culturas se disputando a primazia: a cultura gaúcha de raiz guaranítica e missioneira, professada e cultuada pelos cidadãos biófilos ou amantes da Vida, e a cultura gauchesca, avassaladora grau máximo e que, graças às facilidades da ditadura militar, acabou por ocupar o interior das escolas primária, secundária e universitária, os grandes meios de comunicação, os teatros e cinemas, procurando estrangular a boa cultura, a cultura de Tradição com T maiúsculo. A cultura gauchesca é a que tudo invade a ponto de nos sufocar, é simplemente necrófila ou amante da morte contrariamente á outra, humilde mas autêntica, é amiga da Vida e da “Vida em plenitude”.
O que é que lemos nos jornais de ontem, domingo, dia 30 e de hoje 31 de março, data comemorativa dos 50 anos da quartelada cívico-militar que cometeu os maiores horrores de todos os 514 anos de história brasileira?
Na verdade o início da movimentação de tropas militares e a proclamação à nação da própria “revolução” fajuta, aconteceu em meio à noite de passagem para o 1° de abril, no proclamado “dia dos bobos” pela cultura popular, coisa que os “revolucionários” de araque e torturadores de marca maior que andam ainda em meio de nós, lamperitos da silva, como se nada tivesse acontecido por eles e para eles, insistem em dizer que o evento foi em 31 de março e não primeiro de abril.
Quando é que definitivamente passaremos o Rio Grande do Sul e o Brasil a limpo desse pesadelo da nação que, 50 anos passados, não consegue ser esclarecido de todo mesmo com a Comissão da Verdade em ação corajosa e valente.
Assembleia Legislativa, quando é que vais te libertar do pesadelo do galpão do MTG (movimento tradicionalista) que a quartelada inaugurou dentro do teu prédio que dizes ser a casa do povo e onde ostentas a frase lapidar: Povo sem parlamento é um povo sem história? Mas que história é essa cara pálida?
Câmara de Vereadores de Porto Alegre, quando é que vais conseguir aprovar a troca de nome da Avenida de entrada da “mui valerosa e leal cidade” de Porto Alegre, de Avenida Castelo Branco o primeiro ditador da fajuta, para Avenida da Legalidade, levante em que o povo inteiro do Rio Grande do Sul se levantou sonhando com a Legalidade diante do iminente Golpe de Estado de alguns anos depois? Levante que o governador Brizola acabou chefiando.
Universidades Católicas e Leigas desse meu querido Rio Grande do Sul, quando é que iremos nos debruçar para pesquisas sérias a fim de escrever uma história que valha a pena para a nossa juventude? Quando é que vamos resgatar o gauchismo de raiz que é nossa cultura básica: o povo guarani-missioneiro, proclamado pelos autores da Revolução Francesa – a dos Direitos Humanos – entre os quais Voltaire, contemporâneo dos nossos Sete Povos das Missões Jesuíticas que proclamaram como o maior triunfo da humanidade? (Le véritable triomphe de l’humanité)
O Rio Grande não precisou nunca mais proclamar sua maioridade, através de um evento grandioso e significativo ou um mito notável, a fim de pleitear junto aos povos do mundo, sua entrada na geografia e na história do universo.
Povos estrangeiros é que proclamaram a civilização guarani-missioneira-rio-grandense, como biófilo: amante da Vida e da Vida, para a juventude de todo o mundo se espelhar no sentido de uma fraternidade universal.
Que exemplo para os jovens de hoje como para as gerações futuras podem fornecer tanto a ditadura cívico-militar quanto a cultura gauchesca avassaladora que está aí, que acarinhou a quartelada fabricante de toda uma série de mártires, de modo todo particular entre a juventude da época, por não ter podido conquistar?
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O Golpe Cívico-Militar de 1964, também Gaúcho? Ou apenas gauchesco? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU