26 Março 2014
Um mundo mais quente, com nível do mar mais alto, derretimento das geleiras e maior variabilidade climática vai ser um mundo com centenas de milhões de pessoas sob risco de inundações, com problema de disponibilidade hídrica, impacto sobre a segurança alimentar, extinção de espécies.
A reportagem foi publicada pelo jornal Estado de São Paulo, 24-03-2014.
Essa deve ser uma das principais mensagem que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) vai trazer ao divulgar a segunda parte do seu quinto relatório de avaliação daqui a uma semana no Japão. É o que se pode concluir de uma versão preliminar do “Sumário para Formuladores de Políticas” que vazou na internet há alguns meses.
Nesta segunda à noite (horário de Brasília, já manhã de terça no Japão) cientistas e representantes dos governos começam a se reunir em Yokohama para definir o conteúdo final desta parte do relatório — um resumo acompanhando de um tom político das principais conclusões do relatório do grupo de trabalho 2 do IPCC, que trata de impactos, adaptação e vulnerabilidade dos países às mudanças climáticas.
O texto é lançado pouco mais de seis meses depois da divulgação da primeira parte do relatório, que trouxe as bases físicas da ciência do clima. A mensagem agora é mais enfática sobre o que o aumento da concentração de gases estufas e as mudanças climáticas que se seguem trazem de impacto para a vida real das pessoas e dos ecossistemas.
O conteúdo é um pouco parecido com o que já tinha sido dito no quarto relatório do IPCC, divulgado em 2007. Mas há uma maior confiança dos cientistas nos alertas que estão sendo feitos e mais robustez na mensagem.
“Os impactos das mudanças climáticas já estão sendo observados em todo o mundo”, escrevem os autores no rascunho. “E os impactos dos eventos climáticos extremos observados na última década, como ondas de calor, secas, inundações, ciclones e incêndios, revelam a enorme vulnerabilidade dos seres humanos e dos ecossistemas à variabilidade climática atual.”
Para o futuro, dizem, “as mudanças climáticas vão amplificar os riscos relacionados ao clima já existentes e criar novos”. Vão reduzir, por exemplo, a oferta de água renovável na superfície e nas fontes subterrâneas nas regiões subtropicais mais secas, intensificando a competição por água. A confiança dos cientistas nesse quesito, medida pela quantidade de pesquisas científicas publicadas em periódicos indexados, aumentou em relação a 2007. O dano pode ser maior ou menor, dependendo do grau de adaptação de cada local. Mas, lembram os cientistas, há limite para a adaptação.
Amazônia e Himalaia
Assim como aconteceu na primeira parte do quinto relatório, agora no segunda parte os cientistas também aumentaram os cuidados para evitar erros do passado. Uma menção no quarto relatório sobre o Himalaia — que dizia que ele derreteria em poucos anos — era proveniente do comunicado de um ONG, sem rigor científico, e se mostrou errada, o que abalou a reputação do painel.
O mesmo deve valer para a Amazônia. Em 2007, com base em um modelo climático, estimou-se que a floresta perderia metade de sua cobertura, se aproximando mais de uma savana. Hoje, uma série de novos trabalhos apontam que a floresta pode ser um pouco mais resiliente do que se imaginava.
“O novo relatório é muito mais consistente. Talvez os pesquisadores até tenham sido mais contidos, mas o que aparece agora é mais robusto e traz de modo mais claro o que temos mais certezas e o que temos menos.Se não existe informação sobre uma coisa, colocamos lá”, afirma o pesquisador José Antonio Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e um dos principais autores do novo relatório.
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Mudanças climáticas vão deixar centenas de milhões de pessoas sob risco de inundação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU