14 Dezembro 2015
"Não conheço Marilene Ramos, mas estaria admirado pelo seu otimismo se não soubesse que é a mão mal intencionada de Dilma em sua cabeça, como que manejando um ventríloquo, que a faz afirmar em tom tipicamente petista: 'atrasar a LO de Belo Monte é punir o Brasil'", escreve André Aroeira Pacheco, biólogo, em artigo publicado por EcoDebate, 11-12-2015.
Eis o artigo.
Belo Monte acaba de ser autorizada a operar. Já pode transformar a volta grande do Xingu em um lago degradado, com substituição das espécies nativas e piora da qualidade de água, em troca de 4.500 MW médios. Se torna, assim, o grande símbolo do legado petista em nível federal, em especial o de Dilma.
Belo Monte simboliza o quanto a presidente é truculenta, incapaz e mal intencionada. Sem pudor a então ministra Dilma afirmou em uma reunião, filmada e hoje disponível no youtube, que o projeto engavetado durante a ditadura “sairia e no menor horizonte temporal possível”, ignorando todas vidas em jogo com o projeto. Posteriormente, produziu insanidades como “não se pode estocar vento” e “você não quer ficar sem ver novela” na tentativa de defender o inacreditável planejamento energético sendo aplicado no seu governo, incompatível com este século. E, sem nenhuma disposição para o diálogo, fez o projeto andar apesar de sua comprovada inviabilidade econômica, social e ambiental.
Belo monte simboliza o quanto o petismo não entende nada de desenvolvimento na Amazônia: foram 13 anos de massacre direto e indireto a povos indígenas, 9 deles sentidos na pele pelos indígenas do Xingu; de desenvolvimentismo baseado em projetos megalomaníacos de mineração, agronegócio e hidrelétricas, como Belo Monte e Belo Sun; e a declaração de guerra ao modo de vida tradicional da região com base em um conceito deturpado de pobreza, medidos em censo de televisão e geladeira per capita, que levou à extinção os povos ribeirinhos da volta grande do Xingu, agora abandonados em casa de alvenaria vagabunda na periferia de Altamira. Em sua página no facebook, há alguns dias, a presidente chegou a afirmar, com todas as letras, que “ao construirmos e tornarmos milhões e milhões de pessoas consumidores, ao terem acesso a serviços e bens, essas pessoas passam a ter de fato a plena cidadania”. Nada pode ser mais elucidativo – e mais assustador.
Belo Monte simboliza o quanto o petismo tem o modus operandi antidemocrático e de vale-tudo-pelo-objetivo-traçado tradicionais da política brasileira, com o enfraquecimento dos órgãos de controle e defesa de direitos humanos de Altamira pra arrefecer a resistência – destaque para a FUNAI e o Ministério Público; invenção de uma licença parcial não prevista por nenhuma lei brasileira pra evitar a paralisação das obras com base nas leis vigentes; aprovação de licenças com uso de influência política apesar do posicionamento contrário dos servidores-analistas que têm o conhecimento técnico para tal; muito orçamento em propaganda e greenwashing e uma enxurrada de dinheiro público, crédito subsidiado e – suspeita-se – propina com as empreiteiras de sempre, financiadoras das campanhas eleitorais do partido. A licença de operação, inclusive, foi aprovada antes do cumprimento das condicionantes – que deveriam condicionar a licença, como a língua portuguesa indica – e a presidente do Ibama afirmou que estas “foram integralmente cumpridas, exceto 10%, que vão ser cumpridas depois”.
Não conheço Marilene Ramos, mas estaria admirado pelo seu otimismo se não soubesse que é a mão mal intencionada de Dilma em sua cabeça, como que manejando um ventríloquo, que a faz afirmar em tom tipicamente petista: “atrasar a LO de Belo Monte é punir o Brasil”.
Belo Monte está autorizada a matar uma grande parte do rio Xingu mesmo contra a opinião pública nacional e internacional, mesmo contra um incontável conjunto de leis brasileiras e tratados internacionais assinados pelo país que versam sobre meio ambiente, responsabilidade fiscal, corrupção e direitos humanos, mesmo contra a opinião consensual de servidores dos órgãos de controle do país, mesmo contra o modelo de desenvolvimento sustentado em discursos por políticos em todos os níveis.
Belo Monte é a obra que nem os militares da ditadura conseguiram fazer passar. É do PT. É de Lula e é de Dilma. É o maior símbolo de como somos impotentes diante do poder econômico de grandes empresas e da vontade política de gente que ocupa cargos que nunca deveriam ter ocupado.
Belo Monte se eterniza como um dos maiores equívocos da história do Brasil. Como o Partido dos Trabalhadores.
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Belo Monte é símbolo do legado petista em nível federal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU