Por: André | 12 Novembro 2015
Paulo VI foi definido como o Papa “esquecido”. Mas não por seu sucessor Francisco, que há um ano, antes da beatificação na Praça São Pedro, recebeu os bispos originários da diocese de Giovanni Battista Montini. Entre eles estava o bispo de Palestrina e assistente eclesiástico da Ação Católica, Domenico Sigalini, presidente da comissão da Conferência Episcopal da Itália para o laicato. Uma frase amarga expressa a admiração de Jorge Mario Bergoglio por seu predecessor que concluiu o Concílio Vaticano II e a consciência sobre as resistências e incompreensões que teve que enfrentar. “Para proclamá-lo beato, eu deveria usar paramentos vermelhos, como o sangue, em vez dos brancos, porque seu Pontificado foi um verdadeiro martírio”, sintetizou Francisco.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi e publicada por Vatican Insider, 11-11-2015. A tradução é de André Langer.
A herança montiniana entrelaça-se com as raízes conciliares de Francisco. O nó é o Vaticano II, as resistências e incompreensões que Paulo VI encontrou tanto em ambientes conservadores como nos progressistas. “Também o programa de Francisco é o Concílio – explica o arcebispo teólogo Michelle Pennisi, ex-reitor em Roma do Colégio Capranica. Jorge Mario Bergoglio, primeiro Papa que não participou do Vaticano II, tem como fio condutor de seu pontificado a realização e a atualização da primavera conciliar”.
Ou seja, o Concílio constitui o verdadeiro programa de Francisco e seu magistério deve ser interpretado e vivido à luz do Vaticano II. Isto é confirmado pelo próprio Pontífice que veio, como disse na primeira saudação aos fiéis na Praça São Pedro, quase “do fim do mundo”. Dia 16 de março de 2013, poucos dias após sua eleição. No dia do aniversário de Bento XVI, Bergoglio recordou a ação de Ratzinger pelo Vaticano II, que deve ser vivido “e não apenas celebrado”.
Palavras proféticas com respeito à sua ação de reforma radical da Igreja e as resistências que encontrou nos meses seguintes nos setores mais conservadores da cúria romana e em alguns episcopados nacionais. O Concílio é “fruto do Espírito”, mas muitos “querem voltar atrás”.
Também em relação à “Igreja pobre e para os pobres” Francisco cita constantemente os seus predecessores. “E, naturalmente, todos citam o Evangelho, que, no final das contas, é a verdadeira raiz da continuidade” – observou para o Vatican Insider o sociólogo Massimo Introvigne, professor de Sociologia das Religiões na Pontifícia Universidade Salesiana de Turim e vice-responsável nacional da Aliança Católica. De 05 de janeiro até 31 de dezembro de 2011 foi o representante da Osce [Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa] para a luta contra o racismo, a xenofobia e a discriminação contra os cristãos e os fiéis de outras religiões.
“Aplicar ao magistério de Francisco a hermenêutica da reforma na continuidade significa aceitar lealmente as reformas que Francisco propõe e proporá, lendo-as juntas na continuidade do magistério de seus predecessores, mesmo quando isto pudesse parecer, à primeira vista, difícil – destacou Introvigne. Mas Bento XVI nos mostrou quão difícil é isto com determinadas passagens do Concílio”.
E “a misericórdia não pode ser separada da verdade e da justiça, justamente para ser credível e para manter-se fiel aos documentos do Concílio”, observou Introvigne. Também aqui, “quem lê Francisco segundo uma hermenêutica da descontinuidade e da ruptura trata de separar a misericórdia da doutrina: na ala progressista para proclamar que a doutrina ‘está vencida’, como se fosse um iogurte, e na ala chamada tradicionalista, para defender que a misericórdia de Francisco nega a doutrina e, portanto, é heterodoxa”.
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“Para Paulo VI o Pontificado foi um martírio”, diz o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU