Por: Jonas | 30 Outubro 2015
No momento de avaliar o Sínodo que acaba de se encerrar sobre a família, Blase Cupich, arcebispo de Chicago, Estados Unidos, não tem dúvidas: ninguém ganhou e nem perdeu, como alguns interpretaram, mas, ao contrário, para ele, como ocorreu com o Concílio Vaticano II, abriu-se um novo capítulo para a Igreja Católica.
Eleito por Francisco para conduzir a terceira diocese dos Estados Unidos e em harmonia com essa Igreja pobre e para os pobres para qual chama, em uma entrevista com La Nación, Cupich, de 65 anos, admitiu que em certos assuntos houve divisões no Sínodo. Porém, destacou o consenso da grande maioria dos bispos.
A entrevista é de Elisabetta Piqué, publicada por La Nación, 29-10-2015. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Qual a sua opinião sobre o documento final?
Acredito que é interessante que dois terços dos bispos, uma grande maioria, aprovaram o documento. Isto nunca aconteceu, nem sequer em documentos da Igreja. Então, todo o documento entregue ao Santo Padre representa o consenso dos bispos do mundo. E acredito que isto não deve ser esquecido, mas, ao contrário, levado em consideração.
Como explica que para alguns o Sínodo foi uma vitória do Papa, porque o parágrafo 85 (o da integração dos divorciados em segunda união) atingiu os dois terços apenas por um voto, mas para outros, os conservadores, foi uma derrota, porque não se menciona a palavra “comunhão”? É um reflexo da polarização que houve entre os bispos?
Acredito que sim, houve uma polarização em alguns momentos da discussão, mas interpreto a votação não como se alguém ganhou ou perdeu, mas, ao contrário, que os bispos assumiram a responsabilidade de expressar o que pensavam e queriam que o Santo Padre soubesse disto.
Qual a sua opinião sobre esse parágrafo?
Acredito que esse parágrafo, que teve dois terços mais um voto, tem um significado forte. Porque foi um voto que disse que os bispos querem que exista um caminho para os divorciados em segunda união que sofrem por sua situação. Os bispos disseram que é necessário um cuidado especial para com eles, que é preciso um caminho para integrá-los na Igreja e que devem participar mais profundamente na liturgia da Igreja. Para mim foi uma declaração muito forte e uma forte indicação do Papa.
Porém, a divisão continua sendo forte: um terço dos bispos votou contra.
Sim, é verdade, mas ao longo dos anos aprendi que é muito difícil dizer a razão pela qual as pessoas votam contra algo. Talvez, possa ter existido contra talvez porque não se foi suficientemente longe, porque queriam que a palavra “comunhão” estivesse ali. Ou pode ter havido votos contra porque não querem nenhuma abertura.
Ficou decepcionado com a questão da homossexualidade, já que o documento se limitou a reafirmar coisas já ditas?
Acredito que o comitê de redação interpretou o sentir da assembleia e escreveu algo que sentia que a maioria iria poder votar... Os princípios desse parágrafo, de qualquer modo, são fortes: temos que respeitar as pessoas e temos que nos assegurar de que não haja discriminação, e, segundo, temos que pensar que há famílias que estão sofrendo com esta realidade e temos que apoiá-las. Acredito que isso foi muito importante. Por outro lado, nunca haverá uma proposta para que a Igreja apoie matrimônios homossexuais, isto não acontecerá.
Pôde sentir a oposição de um bloco conservador ao Papa?
Olhe, eu fui sacerdote 40 anos com pessoas que estavam de um lado ou de outro. Por isso, não me surpreende que haja pessoas que tenham sentimentos fortes sobre uma posição ou outra. Durante o pontificado de João Paulo II, eu tinha sacerdotes em minha diocese que se opunham à forma como o Papa fazia as coisas e suponho que também alguns bispos. Nunca há um cem por cento de apoio a nenhum papa, acredito que não é realista pensar que as coisas sejam assim.
Muitas pessoas compararam este Sínodo com o Concílio Vaticano II. Acredita que significará também um novo capítulo para a Igreja?
Sim, acredito que se abre um novo capítulo, é um momento decisivo. Acredito que vivemos um momento de graça para a Igreja Católica, o mesmo que senti que vivíamos durante o Concílio Vaticano II, quando eu estudava. Agora temos uma Igreja que tem claro que a voz das pessoas deve ser ouvida, o Papa disse isto claramente em seu discurso sobre o 50º aniversário da instituição do Sínodo, quando falou da Igreja não só como “a que ensina”, mas também como “a que aprende” e escuta. O Concílio Vaticano II nos deu um sentir a esse respeito e agora estamos recapturando isso. E acredito que é muito importante. Acredito que o Santo Padre, com o Sínodo e a sinodalidade, convida-nos a ser uma Igreja adulta, na qual necessitamos ouvir uns aos outros para discernir a voz de Cristo hoje, no mundo em que vivemos.
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“Agora temos uma Igreja que tem claro que a voz das pessoas deve ser ouvida”, afirma arcebispo de Chicago - Instituto Humanitas Unisinos - IHU