Refletir juntos sobre o que significa ser libertados pela graça de Deus: é o convite dirigido pelo pastor Martin Junge, secretário geral da Lutheran World Federation (LWF), numa carta enviada às comunidades luteranas em vista da festa anual da Reforma, que ocorre aos 31 de outubro, dia em que se recorda a afixação em WIttenberg, na Alemanha, das noventa e cinco teses de Martinho Lutero. 

A reportagem foi publicada por L'Osservatore Romano, 24-10-2015. A tradução é de Benno Dischinger. 

O tema da graça de Deus que liberta é aquele que em 2017 caracterizará as celebrações pelos quinhentos anos da reforma protestante. Todavia, segundo Junge, não é preciso esperar aquela data porque “já entramos no pleno das celebrações. 2017 não representará o início e sim o cume das manifestações em todo o mundo”. Com efeito – como refere a agência de imprensa da Federação das igrejas evangélicas na Itália - em 2015 já se desenvolveram numerosas iniciativas ligadas ao cinquentenário. Entre estas: o encontro de maio passado na Tanzânia, intitulado “De Marangu a Wittenberg”, que comemorou os sessenta anos da constituição da seção africana da LWF; a conferência internacional juvenil “Libertados pelo amor de Deus para mudar o mundo”, que se desenvolveu em Wittenberg no mês de agosto; a constituição do grupo “Mulheres em movimento”, nascido para recolher experiências, dados e reflexões sobre a contribuição da realidade feminil nas comunidades eclesiais e na sociedade. Além disso, precisamente nestes dias, está em programa uma conferência teológica internacional, com a contribuição de uns oitenta peritos, para refletir sobre os efeitos da Reforma.

Na carta enviada às Igrejas, o secretário gral da Federação Luterana Mundial indicou alguns elementos gerais que marcarão todas as iniciativas ligadas ao aniversário, a partir da valorização do caráter policêntrico da reforma protestante, nascida no século dezesseis por impulso de teólogos em diálogo entre si porém autônomos uns dos outros, e que se difundiu nos séculos subsequentes em cada contexto e região do mundo, tanto que os quinhentos anos da Reforma serão celebrados por toda parte, das ilhas Fiji à Finlândia, da Coréia do Sul á América do Norte.

Precisamente esta dimensão mundial do protestantismo estará no centro do último ano da “Década de Lutero” (2007-2016) que será lançado no próximo dia 31 de outubro em Estrasburgo, na França, com o título “A Reforma e o mundo”. Grande importância será dada ao lema Igreja reformada sempre reformante, sublinhando como a reforma protestante é um processo em contínuo devir, busca de uma renovada fidelidade ao evangelho com respeito aos desafios levantados pelos contextos em que a fé é vivenciada.

O reverendo Junge sublinhou “o espírito de abertura ecumênica” que caracteriza o aniversário, cuja preparação tomará em conta “os resultados do diálogo ecumênico”. Uma perspectiva, esta última, sustentada e encorajada também pelo cardeal Koch, presidente do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos.

Nos últimos meses a LWF também pôs em rede um site com o intento de permitir às comunidades membro de “conectar-se, contribuir e participar” das iniciativas do sesquicentenário. O site (http://2017.lutheranworld.org), servirá como inspiração às igrejas para a programação dos eventos em vista do aniversário da Reforma”, explicou o secretário geral. E a principal fonte de inspiração será precisamente o slogan Libertados pela graça de Deus. “Estas palavras – é explicado na página inicial – captam o coração do Evangelho de Jesus Cristo e a alma da Reforma luterana. Palavras que se conectam às intuições fundamentais de Lutero que abriram o caminho à Reforma: a salvação só se consegue pela graça de Deus”.

Isto é o que chamamos “justificação somente pela fé”. Em tal perspectiva, o site da LWF convida a refletir no período que vai até 2017, sobre como o amor gratuito de Deus (através da vida e do mistério de Cristo, e com base nas diversas e concretas realidades locais luteranas) possa inspirar os cristãos de hoje a serem operadores de cura espiritual e de reconciliação num mundo dilacerado por lutas e desigualdades. O tema da graça e de suas implicações concretas está, além disso, explicitamente presente nos títulos das três principais temáticas da futura assembleia de Windhoek: “Os seres humanos não estão à venda”; “A Criação não está à venda”; “A salvação não está à venda”.