04 Setembro 2015
“Seria preciso inventar uma espécie de missão em cárceres para raciocinar sobre a fé. Mas também para fazer entender que sem a misericórdia recíproca, também entre detentos, não se vai muito longe. Antes, se volta para trás”. Dom Sandro Spriano, capelão de Rebibbia, quatro institutos carcerários no qual estão reclusas 2.300 pessoas, imagina uma cidade e uma Igreja que vão aos lugares de pena. “Também isto é passar uma Porta Santa. Significa recompor o espírito de reconciliação”. Em suma, o mundo dos ‘restritos’ não é só coisa que diz respeito a voluntários e sacerdotes como ele que se dedicam completamente àquele mundo: “Neste ano celebrei os 25 anos de cárcere”, diz com um sorriso.
A entrevista é de Gianni Santamaria, publicada por Avvenire, Edição 09/2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
Como acolheu a comparação entre a porta de uma cela e a Porta Santa?
É uma novidade absoluta. Quando se fala de cárcere, ninguém fala de santidade. E responde também às perguntas que nos faziam a respeito da participação dos detentos no encontro previsto para novembro na Praça São Pedro. O tema do passar por uma porta para chegar à liberdade é aqui muito mais sentido do que fora.
Como se insere a carta no caminho jubilar da comunidade de fé nos lugares de detenção?
Estamos começando a imaginar iniciativas que possam realmente caminhar no sulco da misericórdia e em direção a uma liberdade interior concreta. E esta carta nos dá motivos a mais para construir um ano jubilar importante, para inventar percursos verdadeiramente libertadores. Mas, também no cárcere muita gente consegue repensar a própria vida, o próprio estado e modo de ser.
Experimentastes isto na visita do Papa Francisco em abril. Foi uma sacudida. O Papa saudou 500 detidos e nenhum lhe solicitou ajudas materiais. Todos asseguraram preces por ele e as solicitaram para eles mesmos. O gesto da acolhida por si só está em condições de amolecer um coração endurecido. O lava-pés foi não só um gesto comovente, mas tocou realmente a consciência de todos. Depois, por certo deve seguir um percurso.
O que significa passar as portas de um confessionário também somente por uma hora?
Quando levamos os detentos à igreja, àquela grande que está fora das celas, fazemos uma caminhada. Na qual não há mais as grades, se sai do ambiente cotidiano pesado, não há guardas. É uma experiência sensível, além de tantos discursos, que suscita perguntas sobre a fé como instrumento de libertação.
Jubileu e anistia. De que modo vão juntos?
O Papa está cônscio que no cárcere estão principalmente os pobres. E a anistia deve considerar sobretudo a eles. Porque são pessoas que, sem querer desculpar os delitos cometidos, eles tiveram um adicional de pena. Por exemplo, não têm tido suficiente defesa. Pelo mesmo melão roubado, uso uma imagem, há quem faz sete meses e que sequer teve um dia [livre].
Qual seria o efeito de uma eventual anistia?
Faria justiça a opressões feitas de maneira superficial, gratuitamente, só porque as pessoas eram débeis diante da lei. Depois, viu-se quando João Paulo II solicitou o indulto: não é que todos aqueles saídos do cárcere naquela ocasião depois retornaram? As pessoas que recebem um dom sabem apreciá-lo.
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O capelão de Rebibbia: por trás das barras terra de missão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU