29 Julho 2015
"Em poucos dias, se completará o segundo aniversário desde que, na Síria, o padre Paolo Dall'Oglio foi sequestrado", disse o Papa Francisco durante o Ângelus no último domingo. "Dirijo um aflito e urgente apelo pela libertação desse estimado religioso. Não posso esquecer também os bispos ortodoxos sequestrados na Síria."
A reportagem é de Pietro Vernizzi, publicada no sítio Il Sussidiario, 27-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O padre Dall'Oglio foi sequestrado no dia 29 de julho de 2013 por alguns extremistas próximos da Al-Qaeda. O jesuíta trabalhou na Síria de 1982 a 2011, quando foi expulso pelo presidente Assad, mas em 2013 decidiu voltar clandestinamente para a parte da Síria controlada pelos rebeldes.
Os dois bispos sírios sequestrados são Boulos Yazigi e Yohanna Ibrahim, e foram raptados entre os dias 22 e 23 de abril de 2013. Falamos a respeito com Gregório III Laham, patriarca siro-católico com sede em Damasco.
Eis a entrevista.
Que significado tem o apelo do Papa Francisco pelos três religiosos sequestrados?
Estamos muito gratos ao papa pelo seu contínuo compromisso em favor da paz na Síria, dos refugiados, dos requerentes de asilo, daqueles que atravessam o mar nos botes. Eu só posso compartilhar o apelo de Bergoglio em favor do padre Dall'Oglio, dos dois bispos sequestrados, um dos quais irmão do patriarca greco-ortodoxo Youhanna X, e dos muitos outros sacerdotes e leigos nas mãos dos sequestradores. Gostaria de lembrar também Antoine Boutros, sacerdote greco-melquita tomado como refém há dez dias. Esses sequestros são uma grande tragédia para todos nós e, por isso, agradecemos ao Senhor por todas as iniciativas de Sua Santidade. Muitas vezes, trata-se de pessoas que foram capturadas há anos, e das quais ninguém soube mais nada.
Por quem o padre Dall'Oglio e os dois bispos foram sequestrados?
Quem sabe? Pergunte a Obama e à CIA. Se eles são capazes de espionar Angela Merkel, também podem saber onde estão os religiosos sequestrados.
Que medidas de segurança o senhor toma quando vai à Síria?
Nunca tomei nenhuma medida de segurança nem mudei os meus programas. Estou sempre a serviço do meu povo. Normalmente, passo de dois a três dias no meu escritório em Beirute e de dois a três dias em Damasco, mas às vezes permaneço até 15 dias ou um mês seguido na Síria.
A situação para a Igreja na Síria é cada vez mais difícil. O que lhe dá a força para seguir em frente nessa situação?
Aos discípulos no Lago de Tiberíades, Jesus disse: "Coragem, sou eu, não tenham medo". São João, na primeira carta, nos adverte: "A vitória que vence o mundo é a nossa fé". A fé dos cristãos sírios é uma escola da qual eu mesmo nunca deixo de aprender. Não nos esqueçamos de que a Síria, junto com a Palestina, é o país que foi o berço do cristianismo. Tudo isso nos dá a paciência, a coragem e a força para suportar. No entanto, apesar de tudo isso, a cada dia os cristãos fogem da Síria, alguns pelo mar, e muitos até a pé até a Alemanha.
Aos cristãos sírios, você aconselha a ficarem na Síria ou a fugirem?
Nunca poderemos encorajar alguém a ir embora. Aos que têm a possibilidade, nós aconselhamos de permanecer na Síria, porque as lideranças da Igreja estarão com eles até o fim e morrerão com eles. Mas quando alguém decide partir, sob a própria responsabilidade, nós fazemos de tudo para ajudá-lo. Nestes dias, por exemplo, eu me encontro na Alemanha, onde estou tentando organizar a pastoral para os refugiados sírios.
A cúpula da Igreja está disposta a ficar ao lado pelos cristãos sírios até a morte?
Sim, já repetimos isso muitas vezes, mas também temos um grande desejo de permanecer vivos. Nós somos filhos de vida, estamos atravessando uma Via Sacra, mas também estamos a caminho rumo à Ressurreição. Como disse o Papa Francisco, "nunca deixem que a chama da fé e da esperança se apaguem nos corações".
Mas, do ponto de vista puramente humano, existe alguma esperança de trazer a paz para a Síria?
Haveria uma esperança se a Rússia, a União Europeia e os Estados Unidos unissem as suas forças e chamassem à unidade o próprio mundo árabe, a fim de ter uma estratégia comum e combater o Isis. Em particular, eles devem apoiar, e não se enfileirar contra os governos da Síria e do Iraque.
Você acredita que Assad deve ser apoiado?
Se uma parte das potências mundiais ajuda Damasco, e uma parte, o Isis, não se chegará a resultado algum. A Síria e o Iraque, os dois Estados que mais sofrem por causa do Isis, devem ser ajudados com o máximo de empenho. Ajudar uma vez Damasco e uma vez os grupos rebeldes não é uma estratégia eficaz.
Por que não apoiar também os rebeldes moderados?
Na Síria, combatem 28 grupos rebeldes diferentes: estão divididos, fracos e incapazes. Quando o Ocidente lhes fornece dinheiro e armas, imediatamente eles vão acabar nas mãos dos grupos mais fortes, isto é, em última análise, o Isis.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Os bispos estão prontos para morrer para defender os cristãos da Síria'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU