Por: Patricia Fachin | Tradução: Moisés Sbardelotto | 01 Setembro 2018
Apesar de existir uma gama de respostas para explicar os fenômenos da expansão chinesa no mundo e sua influência geopolítica, “uma das questões de longo prazo que ainda precisa ser respondida é como a China mantém uma estrutura política centralista e autoritária quando a sua população está muito mais envolvida com o mundo não chinês”, enfatiza o jesuíta australiano Michael Kelly na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, embora os chineses estejam espalhados por todas as partes do mundo, “os chineses ricos estão fazendo de tudo para sair da China e para se estabelecer em outros países. Isso não vai parar”.
Observador das mudanças culturais, políticas e sociais do mundo chinês, Kelly garante que a “melhor abordagem” para tentar prever o que acontecerá na China no futuro “é olhar para o que aconteceu em circunstâncias semelhantes no passado”. Neste momento, menciona, “a melhor chave para entender a China é reconhecer a importância duradoura do período de mais de um século de ‘grande humilhação’ infligida pelas potências coloniais europeias desde as Guerras do Ópio até quando Mao anunciou que a China havia ‘se levantado’, em 1949”. Kelly frisa que “a China vê a si mesma” “como destinada a ser um grande poder”, mas o país “tem um longo caminho a percorrer para se equiparar aos Estados Unidos (em termos econômicos e militares) e pode não chegar lá, devido ao envelhecimento de sua população e às suas complexidades econômicas”.
O próprio poder do atual presidente chinês, Xi Jinping, informa, está “sob ameaça” por conta de três fatores: a economia chinesa “está começando a mostrar os efeitos da falsa administração, das falsas estatísticas e de um período de crescimento massivamente financiado por dívidas; a guerra comercial com os Estados Unidos está ficando fora de controle e só pode significar problemas para a China; uma série de escândalos médicos e farmacêuticos que minam a confiança que os chineses depositam no governo fornecedor de tudo”.
Michael Kelly | Foto: UCA News
Michael Kelly é um jesuíta australiano, e atualmente vive na Tailândia, onde é diretor executivo do sítio ucanews.com. Antes de ser ordenado jesuíta em 1984, padre Kelly trabalhou como jornalista na Agência de Notícias Católica UCA em Hong Kong. Em 1989, fundou a Jesuit Publications e a Eureka Street.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor já declarou que a China de hoje é bastante diferente de qualquer outro período da sua história. Por que e como a China mudou nos últimos anos?
Michael Kelly – Como em qualquer país ou região, há continuidades com o passado e diferenças acentuadas. E o período atual tem vários paralelos na história da China. Quando eu fiz meu comentário, foi em referência aos 150 anos após a efetiva derrota da China nas Guerras do Ópio e os Tratados Desiguais dos anos 1840 — a época à qual os chineses se referem como o período da “grande humilhação” nas mãos das potências imperiais europeias, especialmente os franceses, os ingleses e os alemães.
As continuidades são claras e facilmente identificáveis. A China é governada por uma ditadura impiedosa e imperialista, e Xi é o novo imperador. Ele desmantelou as pequenas concessões feitas às reformas de Deng Xiao Ping e devolveu o controle total de tudo no governo e na economia às mãos do Partido. O partido foi enormemente abalado pelos acontecimentos na Praça Tiananmen em 1989 e temeu que seu controle total estivesse prestes a desaparecer. Esse medo se intensificou à medida que aumentava a reação pública negativa à extensa corrupção no Partido e sob a administração do Partido das questões econômicas e políticas durante as duas décadas após a Praça Tiananmen. Então, a queda da União Soviética foi uma história de advertência para a liderança do Partido Comunista sobre o que poderia estar vindo pela frente para eles.
No entanto, o que se restaurou recentemente foi uma aproximação mais estreita — reforçada por uma tecnologia de cibersegurança ainda mais intrusiva desenvolvida pela polícia da China — ao tipo de controle leninista que o fundador da República Popular da China exerceu a tal efeito destrutivo até a sua morte em 1976. Mas essa versão leninista do controle social e político era apenas uma versão rebatizada das mesmas estruturas e processos introduzidos durante a dinastia Manchu/Ching no século XVIII E.C.
O que diferencia o atual período na China é que ela é relativamente mais próspera do que foi desde o século XVIII e está muito mais envolvida com o resto do mundo do que no século XVIII, quando a entrada no Reino do Meio era cuidadosamente controlada, senão até completamente bloqueada. Uma das questões de longo prazo que ainda precisa ser respondida é como a China mantém uma estrutura política centralista e autoritária quando a sua população está muito mais envolvida com o mundo não chinês.
IHU On-Line – Quais são as principais características da China contemporânea e no que se diferem da "velha China"?
Michael Kelly – Mao procurou substituir o marxismo-leninismo pelo confucionismo como a “cola” que une a sociedade chinesa. Resta pouca confiança entre os chineses no marxismo-leninismo como uma força econômica e sempre houve ressentimento e frustração — expressada apenas ocasionalmente — para com a ditadura repressiva, autoritária e centralista do Partido Comunista. No entanto, a maioria dos chineses está pronta para viver com a repressão se tiverem trabalho, comida e liberdade para desfrutar de suas famílias.
Mas o que se perdeu com o desaparecimento forçado do confucionismo “feudalista” que ligou a China por mais de dois milênios foi tudo, desde as civilidades comuns que regulavam a interação social até um sentimento de algo maior como o propósito social da China em vez da satisfação do imediato interesse próprio. Ao “Pensamento Marxista-Leninista de Mao Zedong”, somou-se recentemente a chegada do “Pensamento de Xi” como o mapa orientador para a realização do “Sonho Chinês” a ser entregue por um líder que tem controle total das alavancas políticas e militares do poder.
IHU On-Line – O que foi a Revolução Cultural Chinesa (1966-1975) e quais são as suas consequências na China nos dias de hoje?
Michael Kelly – Hoje, os chineses ficam constrangidos com os excessos da Revolução Cultural, mas não o dizem, porque isso leva diretamente ao reconhecimento de como Mao Tsé-tung era louco. A Revolução Cultural não foi nem cultural nem revolucionária. Foi uma disputa interna do Partido Comunista entre Mao e aqueles que achavam que ele se tornara desastroso para a China. Mao venceu.
As consequências hoje: a China vive em um mundo cultural onde a sua história real não é conhecida na China nem é a base dos próximos passos que o país precisa dar. Denúncias rituais da Revolução Cultural não são profundas, e a geração mais jovem parece não saber nada sobre isso. A repressão cultural nessa escala leva ou a uma repetição do que ocorreu ou à continuação de uma circunstância em que uma nação e seus líderes procedem em uma bolha histórica de mentiras e enganos.
IHU On-Line – Em artigo recente, o senhor citou uma frase de Philippe Paquet, segundo o qual “o conhecimento sobre o passado é a melhor maneira para entender o presente da China”. Quais são os fatos passados mais relevantes para se entender a China hoje?
Michael Kelly – O povo chinês se refere constantemente à história para contextualizar quaisquer circunstâncias atuais, e os comentaristas chineses mais instruídos sempre invocam a literatura e a história de seu país para reforçar qualquer interpretação que desejam oferecer. Além disso, para um observador externo como eu, se você quiser imaginar o que o governo ou o povo chinês farão em quaisquer circunstâncias determinadas, a melhor abordagem é olhar para o que aconteceu em circunstâncias semelhantes no passado.
Exatamente agora, a melhor chave para entender a China é reconhecer a importância duradoura do período de mais de um século de “grande humilhação” infligida pelas potências coloniais europeias desde as Guerras do Ópio até quando Mao anunciou que a China havia “se levantado”, em 1949. A China vê a si mesma justamente como destinada a ser um grande poder e acredita que o mundo só precisa se acostumar com essa ideia. Mas, igualmente, há uma grosseira reação exagerada diante da assunção por parte da China de um novo lugar nas questões econômicas e políticas internacionais, por exemplo, nas reações a suas atividades no Mar do Sul da China. O que a República Popular da China está fazendo lá nada mais é do que afirmar a sua liderança na região. É um erro interpretar essa afirmação em termos europeus como uma apropriação colonial de terras.
IHU On-Line – Em artigo recente, no qual comenta o livro A Call to Mission: A History of the Jesuits in China 1842-1954, do padre David Strong, o senhor afirma que de 1842 a 1954 ocorreram seis grandes eventos de agitação social e política que tiraram a antiga civilização à força dos padrões culturais e políticos que prevaleceram por mais de dois milênios. Quais foram esses seis grandes eventos e quais foram suas implicações?
Michael Kelly – O primeiro já foi mencionado: as Guerras do Ópio e os Tratados Desiguais; depois, foi a Rebelião de Tai Ping, clamada como a revolução que, em termos relativos, custou mais vidas do que qualquer levante na história humana; depois veio a Rebelião dos Boxers, à qual os europeus responderam com uma eficiência implacável; a próxima reviravolta foi a revolução inspirada em Sun Yet Sen, que acabou com a dinastia Ching; que foi seguida por um período de guerra civil que durou, de uma forma ou de outra, duas décadas — o governo versus os Senhores da Guerra; depois, seguiu-se a invasão japonesa, que só terminou com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, o que permitiu a retomada da guerra civil e que os comunistas tomassem Beijing e expulsassem os nacionalistas para Taiwan em 1949.
IHU On-Line – Quais são os três pontos fundamentais do livro A Call to Mission: A History of the Jesuits in China 1842-1954, do padre David Strong, para compreender a China?
Michael Kelly – David está em melhor posição para falar por si mesmo sobre isso. Mas eu acho que há mais do que três pontos fundamentais a serem tirados de um estudo de 1.000 páginas (e o meu resumo é necessariamente parcial e simplista de um trabalho tão vasto).
São eles: o livro é o registro de 1.200 europeus na China que demonstraram um monumental autossacrifício ao se entregarem a serviço de um povo que eles frequentemente não entendiam; essa auto-oferta está ligada ao DNA dos jesuítas; esse período de envolvimento jesuíta estava em forte contraste com o período anterior, do século XVI ao século XVIII, porque o período anterior foi algo desenvolvido nos termos estabelecidos pelo governo imperial chinês, enquanto o período a partir de 1842 foi facilitado pelas potências imperiais; os jesuítas vindos da Europa e dos Estados Unidos, muitas vezes, não estavam bem equipados para incorporar e incluir os católicos chineses naquilo que estavam desenvolvendo, considerando-os não aptos à tarefa; no entanto, o que permaneceu depois da sua partida foi aquilo sobre o qual a Igreja hoje foi construída.
IHU On-Line – Quais os maiores desafios e os maiores erros quando se busca compreender a China hoje?
Michael Kelly – O maior desafio é: como desenvolver uma missão que atue sobre pressupostos e recursos chineses, e não europeus ou americanos.
Os maiores erros: hoje nós já superamos a crença errônea de que os comunistas logo cairão por serem apenas um governo interino, mas isso abre caminho para desenvolver tanto uma noção romantizada de quão bem e de quão facilmente os católicos podem trabalhar com a China, quanto um cinismo enrijecido que acredita que nunca poderemos trabalhar com a China enquanto os comunistas estiverem no comando. O progresso será lento e só acontecerá em pequenos passos.
IHU On-Line – Por quais razões o Partido Comunista da China tem conseguido se manter no poder desde 1949?
Michael Kelly – Mao tem a resposta: o poder político cresce a partir do cano de uma arma. Controlar o Exército, a polícia e o crescente aparato de segurança e de inteligência significam que o Partido, por meio de todos os seus instrumentos, mantém a gestão íntima, direta e micro de todo e qualquer cidadão, até mesmo daqueles que estão além das fronteiras geográficas da China.
Mas a outra coisa é que o Partido Comunista da China tem proporcionado prosperidade a muitos chineses, que há muito tempo caíram na armadilha da pobreza por causa da rígida dedicação a um modelo econômico (a economia marxista) que simplesmente não funciona.
IHU On-Line – Quais são as particularidades do comunismo na China? Quais suas principais diferenças em comparação com o comunismo que havia no Ocidente?
Michael Kelly – Uma pergunta estranha. Não há comparações com o comunismo chinês no Ocidente. Isso terminou em 1989. A única comparação possível é Cuba, e o seu governo se baseia nas mesmas coisas (controle político, militar e policial), junto com a aceitação da economia marxista, que simplesmente não funciona.
A China deixou de ser uma economia marxista com as reformas de Deng a partir de 1978. Politicamente, ela continua sendo um Estado leninista, que é apenas um exemplo nada notável de totalitarismo.
IHU On-Line – Alguns analistas chamam atenção para a aceitação do atual presidente chinês, Xi Jinping, no Partido Comunista da China - PCC, mas também advertem que isso pode mudar no 20º Congresso do PCC a ser realizado em 2022. Qual sua leitura de Xi Jinping, sua influência e aceitação no PCC e sua relação com o Ocidente e o Oriente?
Michael Kelly – Uma pergunta ampla ou uma série de perguntas às quais — neste contexto limitado — eu só posso apenas oferecer alguns breves comentários.
A ascensão de Xi foi facilitada pela corrupção flagrante de alguns de seus principais concorrentes no Partido e, depois, pela repulsa geral dos chineses comuns ao alcance e à extensão da corrupção no Partido. Xi sabia que a limpeza do Partido era uma questão “ou vai ou racha” para a retenção de poder do Partido.
Xi tomou a iniciativa permitida por essa circunstância (concorrentes corruptos e desacreditados) de agarrar tanto poder quanto podia, culminando na concessão a si mesmo de um mandato sem fim à frente do Partido, que agora não tem nenhum limite de tempo e, na realidade, subsume o governo.
No entanto, três coisas estão levando muitos comentaristas a verem o seu domínio inquestionável sob ameaça: a economia chinesa está começando a mostrar os efeitos da falsa administração, das falsas estatísticas e de um período de crescimento massivamente financiado por dívidas; a guerra comercial com os Estados Unidos está ficando fora de controle e só pode significar problemas para a China; uma série de escândalos médicos e farmacêuticos que minam a confiança que os chineses depositam no governo fornecedor de tudo.
A estas coisas, eu acrescentaria mais uma: uma população envelhecida cuja composição está agora muito comprometida por causa da política do filho único.
IHU On-Line – Qual é o projeto deste novo governo para a China? Ainda nesse sentido, como o Partido Comunista Chinês vislumbra a inserção chinesa no mundo?
Michael Kelly – O governo de Xi é totalitário e, como todos os governos totalitários, espera interagir com o mundo em geral nos seus próprios termos. O plano Belt and Road é um exemplo clássico disso.
Política e militarmente, a China espera interagir com o mundo como uma grande potência respeitada, o que preocupa alguns de seus vizinhos e a maior potência militar do mundo — os Estados Unidos.
A Iniciativa Belt and Road, de US $ 8 trilhões, da China, tem como objetivo financiar projetos de infraestrutura e indústrias extrativistas que abrangerão pelo menos 70 nações. (Foto: Mercator Institute for China Studies/ EcoDebte )
IHU On-Line – Quais são hoje os principais parceiros da China e, de outro lado, quais são os principais países que se opõem à expansão chinesa?
Michael Kelly – A China tem uma política externa que busca se engajar com todos e neutralizar a oposição. Seus principais concorrentes são o Japão, os Estados Unidos, a Rússia e a Índia. Seus “amigos” se encontram principalmente na Ásia — Coreia do Norte, Camboja, Mianmar. Depois, há muitos outros com os quais a China tem fortes relações comerciais, mas pelos quais sente pouca simpatia — como Austrália, Malásia, Indonésia, Cingapura, Vietnã.
IHU On-Line – Muitos analistas têm chamado atenção para uma reorganização geopolítica no mundo a partir da ascensão chinesa. Como o senhor vê essa possibilidade e quais seriam as consequências políticas, econômicas e culturais disso para o mundo como um todo?
Michael Kelly – Estamos no fim do século estadunidense. A China tem um longo caminho a percorrer para se equiparar aos Estados Unidos (em termos econômicos e militares) e pode não chegar lá, devido ao envelhecimento de sua população e às suas complexidades econômicas.
O resto do mundo fará aquilo que o resto do mundo precisa fazer para acomodar uma China em crescimento. Mas nada está garantido sobre a ascensão da China, como mostra o exemplo do Japão. Depois de mais de duas décadas de crescimento econômico explosivo, o Japão definhou em estagnação econômica nos últimos 25 anos. Muitos preveem que esse é o destino ao qual a China está se dirigindo.
Os chineses estão por toda parte no mundo, e os chineses ricos estão fazendo de tudo para sair da China e para se estabelecer em outros países. Isso não vai parar. De fato, é um padrão que tem centenas de anos em muitas partes do Sudeste Asiático. Agora, com o transporte e as comunicações como estão e a mobilidade do capital e do trabalho, isso só aumentará.
IHU On-Line – Como tem observado as relações entre o governo chinês e o Vaticano? Quais os avanços mais recentes na busca pelo estreitamento dos laços nessa relação? Ainda nesse sentido, quais são os principais impasses dessa relação?
Michael Kelly – O Vaticano e Pequim chegaram à proposta de reaproximação a partir de lugares muito diferentes. O interesse do Vaticano é garantir a vida ordenada e protegida da Igreja na China. O governo chinês está interessado em assegurar a participação ordenada e controlada dos católicos na China. Mas a recente reabertura das discussões — principalmente sobre a nomeação de bispos — chega em um momento de crescente assédio e ampliação do controle de todas as comunidades religiosas na China, porque o governo comunista da China vê as comunidades religiosas, assim como todos os governos chineses viram as comunidades religiosas ao longo da história chinesa, como centros de sedição.
As discussões podem continuar, mas eu espero que seja necessário que haja uma oscilação periódica no sentimento do governo chinês para que mais passos sejam dados e para que sejam feitos progressos reais.
IHU On-Line – Por que o senhor tem argumentado que um possível acordo do Vaticano com a China será um erro?
Michael Kelly – Neste estágio, seria um erro, porque uma grande oscilação está acontecendo contra as religiões na China, e qualquer coisa que os negociadores chineses possam oferecer ao Vaticano seria agora inevitavelmente anulado na prática pelas autoridades pelo modo como a Frente Única, na realidade, administra o acordo.
IHU On-Line – Como observa as práticas religiosas na China? Há espaço e liberdade para manifestação religiosa?
Michael Kelly – A repressão está crescendo — crianças não podem ir à igreja para a missa; fiéis são pressionados e postos sob escrutínio; freiras católicas são impedidas de oferecer serviços; budistas tibetanos são perseguidos; muçulmanos são postos em campos de reeducação... e a lista continua. Mas, embora as coisas estejam feias agora, elas não precisam e não devem continuar assim.
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As ameaças que podem impedir a ascensão chinesa. Entrevista especial com Michael Kelly - Instituto Humanitas Unisinos - IHU