30 Mai 2008
"Cinco atitudes filosóficas sobre a técnica" era o título da conferência proferida pelo professor italiano Luiggi Perissinoto, no último evento que marcou o Simpósio Internacional Uma sociedade pós-humana? Possibilidades e limites das nanotecnologias, durante a tarde do dia 29-05-2008. Luiggi trouxe mais do que algumas formulações sobre a técnica. Ele levantou reflexivos questionamentos a respeito dela e submeteu-a a cinco posicionamentos: rejeição, exaltação, subvalorização, ontologização e estranheza. Para ele, a técnica está inserida em nossa vida e pode desempenhar diferentes posturas em relação a diferentes situações a que somos expostos.
A IHU On-Line conversou com Perissinoto antes da conferência. Muito simpático, ele nos falou sobre as relações entre a vida e a natureza humana em relação justamente à técnica e relacionou-a com o desenvolvimento das nanotecnologias. “O principal problema ético é de manter viva a ética”, afirmou ao refletir sobre a ética na idade da técnica.
Luiggi Perissinoto é professor da Università Ca’ Foscari Venezia, na Itália. Ele ensina Filosofia da Linguagem e Filosofia da Comunicação. É membro da “Sociedade Filosófica Italiana”, da “Sociedade Italiana de Filosofia Analítica” e da “Wittgenstein Gesellschaft” (Áustria), além de redator da revista Filosofia e Teologia.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como se estabelecem as relações entre a natureza humana e a técnica? Qual é o lugar e o papel das nanotecnologias nesse sentido?
Luiggi Perissinoto – Esta é uma questão muito complexa. As nanotecnologias são apenas uma versão particular, porque o problema é conceitualmente humano. Não temos categorias mentais suficientes para interpretar o que elas estão trazendo. Nosso maior desafio está voltado para o que podem causar em nós e não em como podemos utilizá-las.
IHU On-Line - O que caracteriza a interferência da técnica na natureza e na vida humana?
Luiggi Perissinoto – A técnica oferece e abre um campo de possibilidades. Eu penso que o fundamental seja pensar a técnica. Precisamos pensar a técnica, mais do que ter medo ou exaltá-la. Quando surgem coisas novas, em diferentes categorias, sempre nos perguntamos: até onde deveríamos ir? Ou: o que não deveríamos fazer no campo tecnológico? (esta tendo uma visão moral mais restrita). E também: o que é tecnicamente possível que se faça? (ou seja, experimentar para ver no que vai dar).
IHU On-Line - Qual é a contribuição para esse debate da obra Psiche e Techne – O homem na idade da técnica, de Umberto Galimberti?
Luiggi Perissinoto – A obra de Galimberti é de suma importância do ponto de vista quantitativo para reflexão sobre a técnica. Como sou amigo de Umberto Galimberti, permito-me aqui uma crítica à sua obra. Sua obra é impositiva quando fala da própria metadisposição sobre a técnica, desde a antiguidade até hoje; e negativa quando analisa a técnica de forma demoníaca. A técnica, em si, não tem intenção ou pretensão de dar sentido. Quem oferece sentido somos nós e aí há uma preocupação, porque muita novidade surgiu, em onde buscar esse sentido. As pessoas que manipulam a técnica estão com falta de sentido. Os tecnólogos, por sua vez, estão muitos cegos na capacidade de saber o que fazer com o que surge de novo, isto é, precisam abrir os olhos. Os cientistas, que têm todo o conhecimento da área, às vezes consideram de menos os que não pertencem à sua área, e, por isso, pensam que se há um sentido os responsáveis por dá-lo e não consideram suficientemente a humanidade em geral.
IHU On-Line – Como o senhor analisa a diferença da técnica, em relação às nanotecnologias, aplicadas pelos pesquisadores que estão dentro de universidades e dos pesquisadores que são contratados por corporações?
Luiggi Perissinoto – Direi duas coisas: a primeira é que há muitas pesquisas feitas dentro das universidades são financiadas pelas grandes corporações, pela indústria. Segundo: quando não é financiada, são selecionadas conforme sua aplicação. Por exemplo: a maioria das pesquisas que fazem sobre doenças são daquelas próprias de países ricos. Também se realizam pesquisas para melhorar o automóvel, mas não para melhorar o transporte público. Acredito que haja pouca diferença entre os pesquisadores de universidades e de corporações de fora da universidade. É claro que dentro da universidade a margem de liberdade é mais ampla. Ainda temos um campo nas universidades que não são manipulados pelo interesse econômico.
IHU On-Line – Como o senhor repensa a ética a partir da idade da técnica e da inserção das nanotecnologias em nossa sociedade?
Luiggi Perissinoto – Creio que o problema ético seja central. O principal problema ético é de manter viva a ética. Precisamos manter viva a visão de ética. Precisamos manter a consciência moral e não somente a consciência científica.
IHU On-Line – Como o senhor confronta a questão da técnica?
Luiggi Perissinoto – São cinco, como apresentei na conferência, os modos de confrontar a questão da técnica. Cinco para mim, pois isso vai da imaginação de cada um, do ponto de vista filosófico. São elas: a rejeição, a exaltação, a subvalorização, a ontologização – que pretende dar um fundamento filosófico à técnica – e, por fim, a estranheza. A filosofia, atualmente, deve manter viva a visão sobre a técnica. Caso percamos isto, a técnica terá grande potência, mas estaremos impotentes em relação a ela.
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A revolução bionanotecnológica. Cinco atitudes. Entrevista especial com Luiggi Perissinoto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU