14 Dezembro 2007
Ainda não conseguimos exterminar as ações de preconceito no Brasil. No entanto, estudos da psicóloga Daniela Barbetta Ghorayeb revelam que homossexuais da classe média, ao contrário do pensamento que predomina no imaginário popular, “não estão isolados em guetos”. Segundo a pesquisadora, eles se “inserem em meios comuns aos dos heterossexuais quanto ao mercado de trabalho, escolarização, relações sociais e entretenimento”. Isso se explica, segundo ela, porque tanto heterossexuais como homossexuais têm acesso “ao consumo de modo muito semelhante”.
A diferença entre esses grupos é caracterizada pelos transtornos mentais. Homossexuais sofrem mais de depressão e correm risco de suicídio, o que, segundo a psicóloga, nesta entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, “parece estar associado ao preconceito e discriminação, não apenas a partir de relações sociais mais amplas, mas também a partir das relações familiares”.
Daniela Barbetta Ghorayeb é graduada em Psicologia e mestre em Ciências Médicas, pela Unicamp. É membro do laboratório de Saúde Mental, Cultura, História e Epistemologia do Depto. de Psicologia Médica e Psiquiatria - FCM Unicamp.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como você avalia a qualidade de vida dos homossexuais no Brasil, atualmente?
Daniela Barbetta Ghorayeb - A minha pesquisa foi realizada a partir do Laboratório de Saúde Mental e Cultura da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e investigou a saúde mental, a qualidade de vida, a religiosidade e a identidade psicossocial de um grupo de 60 sujeitos de orientação homossexual. Nesse sentido, esta é uma pesquisa pioneira no Brasil, embora tais temas já sejam investigados há cerca de duas décadas nos Estados Unidos e Inglaterra.
Assim, é preciso ressaltar que os resultados se restringem ao grupo investigado, que apresentou qualidade de vida semelhante ao grupo controle de heterossexuais. Concluiu-se que, embora haja preconceito social, os sujeitos da pesquisa, de classe média, se inserem em meios comuns também aos dos heterossexuais quanto ao mercado de trabalho, escolarização, relações sociais e entretenimento, uma vez que têm acesso ao consumo de modo muito semelhante. Esses dados minimamente mostram que, ao contrário do que se imagina a partir do senso comum, essas pessoas não estão isoladas em guetos ou mesmo correspondem aos estereótipos presentes no imaginário social.
IHU On-Line - O que é preciso ser feito para que as condições de vida dos homossexuais melhorem?
Daniela Barbetta Ghorayeb - Encontramos diferença entre a prevalência de transtornos mentais entre os homossexuais e os heterossexuais, sendo maior a prevalência de depressão e risco de suicídio no grupo de homossexuais, o que parece estar associado ao preconceito e discriminação, não apenas a partir de relações sociais mais amplas, mas também a partir das relações familiares. Esses resultados corroboram os estudos internacionais. Desse modo, a pesquisa aponta para o impacto do preconceito na saúde mental dos sujeitos estudados. Portanto, parece que a informação e discussão qualificada do tema da homossexualidade pode ser um fator contribuinte para a melhoria das condições gerais de vida dos homossexuais. É nesse sentido que esse estudo terá continuidade a partir do próximo ano, quando realizarei a investigação do tema no período da adolescência. Já existe em andamento a mesma investigação com sujeitos homossexuais de terceira idade.
IHU On-Line - A qualidade de vida dos homossexuais depende da educação dos heterossexuais?
Daniela Barbetta Ghorayeb - Parece depender, em termos da mudança social como um todo, pois o “campo social” é o cenário onde as relações se estabelecem. Seus atores, sejam eles homossexuais ou heterossexuais, participam igualmente das construções de representações sobre a sexualidade e seus desdobramentos. Enfim, embora entendamos a questão do preconceito como uma “guerra entre heterossexuais e homossexuais”, a questão se apresenta para além dessa dicotomia.
IHU On-Line - Os homossexuais estão hoje inseridos na sociedade ou fechados em grupos isolados?
Daniela Barbetta Ghorayeb - O grupo estudado mostrou certa inserção social, mas eu diria que há grupos isolados também.
IHU On-Line – Qual é a dimensão da presença da religiosidade entre os homossexuais? Há diferenças de gênero nessa presença?
Daniela Barbetta Ghorayeb - A religiosidade nesse grupo está presente sim, de modo particular, uma vez que esta se dá através de uma religiosidade seletiva, o que chamamos de “individualismo religioso”. Embora a religiosidade seja parte da cultura e assim um fenômeno compartilhado, social, esses sujeitos sabem da condenação de sua orientação sexual pela maioria das religiões, fazendo com que a identidade homossexual pareça, a princípio, excludente em relação à identidade cristã. O que então ocorre é uma “negociação individual” entre os valores e doutrinas das religiões e a própria dimensão subjetiva de cada sujeito para que possam viver sua religiosidade. Não foram notadas diferenças entre gêneros quanto a essa dimensão estudada.
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Qualidade de vida dos homossexuais no Brasil. Entrevista especial com Daniela Barbetta Ghorayeb - Instituto Humanitas Unisinos - IHU