07 Dezembro 2007
Jovem poeta, Mariana Ianelli lançou recentemente seu quinto livro de poesias, Almádena (São Paulo: Iluminuras, 2007). Ela conversou, por e-mail, com a IHU On-Line e falou sobre seus trabalhos. “O trabalho com a palavra se dá na dimensão humana do encontro, de um pacto com o outro que acaba por fazer da sua solidão uma solidão acompanhada. Se imaginarmos o poeta na ponta de um fio, este fio sendo o poema, como a corda de um instrumento, o leitor está ali na outra ponta, mantendo a corda retesada”, contou-nos.
Mariana Ianelli é graduada em Jornalismo e mestre em Literatura e Crítica Literária, pela Pontifícia Católica Universidade de São Paulo (PUC-SP). Além de Almádena, é autora de Trajetória de antes (São Paulo: Iluminuras, 1999), Duas Chagas (São Paulo: Iluminuras, 2001), Passagens (São Paulo: Iluminuras, 2003) e Fazer silêncio (São Paulo: Iluminuras, 2005).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - No início, sua poesia parecia ter uma dicção mais prosaica (de Trajetória de antes e Duas chagas) e, aos poucos, seu verso foi se aproximando mais da musicalidade (como vemos em Fazer silêncio e Almádena). Existe essa transição, em seu trabalho, de forma consciente?
Mariana Ianelli - Hoje, passados oito anos desde a publicação do Trajetória de antes, e seis desde o Duas chagas, vejo nesses livros o começo de um processo, com todos os riscos que isso implica, o risco do erro, o risco do difícil. Parece-me que o prosaico, aí, veio de um traçado ao ar livre que acabou sacrificando ao poema um pouco da penumbra que também lhe era necessária. Assim, considero Passagens (2003), de certo modo, o meu primeiro livro. Ali o pensamento foi se limpando de um ruído e outro, foi se afinando por dentro, para só então ter o seu lugar no poema. Mas o processo todo se deu em função de muito trabalho, muita calma para ouvir uma outra voz, da qual aos poucos fui me descobrindo parte; intuitivamente no caso de Trajetória e Duas chagas, mais conscientemente a partir de Passagens. Creio que a musicalidade depende de uma escuta interna, digamos, de uma decantação de pequenas interferências que tem a ver com meditar na palavra, e não simplesmente passar por ela, “desmemoriá-la”. Os poemas de Fazer silêncio e Almádena procuram esse espaço da memória, esse tempo que não se adequa à pressa e que nos foge se o pensamento ou o coração está fechado. Mas para buscar esse espaço, esse tempo, foi preciso desbastar muito e aprender com a poesia que o gesto preciso muitas vezes se esconde por trás uma aparente desatenção.
IHU On-Line - Seus poemas, sobretudo os de sua primeira obra (Trajetória de antes), têm encadeamentos mais longos. A partir daí, parece haver uma ruptura maior, com uma síntese dos versos. De que modo pensa que esses caminhos se cruzam?
Mariana Ianelli - A conquista da síntese, da densidade poética, a meu ver, supõe ouvir o poema mentalmente, sem forçar-lhe uma forma ou duração que não seja a que ele próprio solicita para ter seu fluxo, sua força orgânica. Como já dizia Drummond (1) tão lindamente: “Convive com os teus poemas antes de escrevê-los. / Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. / Espera que cada um se realize e consume / com seu poder de palavra / e seu poder de silêncio”. Mas o poema, para ser encontrado, pede do poeta uma aposta total, de corpo e alma, uma coragem que também contempla a possibilidade do desvio, do desacerto. E os longos encadeamentos do Trajetória são resultado dessa aposta inicial. Não creio que, a partir daí, tenha havido uma ruptura, mas sim um passo adiante, o desdobramento de uma procura, como eu dizia, a procura da poesia, que foi me ensinando a ter calma para ouvir o poema e conviver com ele antes de escrevê-lo. Ou seja, foi preciso não ter medo de errar, de aceitar um convívio com a palavra nem sempre pacífico, mas sempre prazeroso, surpreendente. A síntese só me foi possível a partir dessa assimilação da paciência, de um zelo poético que resulta tanto em poemas curtos quanto longos, não importa, pois o tempo e o espaço em que a poesia acontece não dizem respeito ao tempo do relógio nem à extensão do poema na página, dizem respeito à sua densidade, ao seu poder de palavra e de silêncio.
IHU On-Line - Como imagina trabalhar a tensão amorosa presente em todas as coisas em seu trabalho?
Mariana Ianelli - De fato, para mim não existe uma vivência da poesia que seja desvinculada do amor. Em minha opinião, o trabalho com a palavra se dá na dimensão humana do encontro, de um pacto com o outro que acaba por fazer da sua solidão uma solidão acompanhada. Se imaginarmos o poeta na ponta de um fio, este fio sendo o poema, como a corda de um instrumento, o leitor está ali na outra ponta, mantendo a corda retesada. Há um poema no livro Almádena, chamado Ariadne, que diz: “Vibra o cordão / Eu estremeço contigo”. Mas não só o poema vai em busca do outro para ter sua vibração, como ele precisa ser amado enquanto está sendo escrito. Pode se tratar de um poema difícil, violento, colérico, e seja como for, ele tem de ser amado para vibrar na sua verdade, que é uma verdade secreta, ao mesmo tempo real e inexplicável. Vejo na poesia uma possibilidade de transubstanciação, na medida em que o poeta vai incorporando uma outra voz, que não é mais simplesmente sua voz subjetiva, mas aquela que poderá ser também a voz de um leitor, graças àquilo que poeta e leitor têm em comum, sua pulsação vital. A tensão amorosa ocorre na experiência desse estado de abertura para algo que escapa à subjetividade do poeta e que, no entanto, o poema ele mesmo pode tocar na sua margem de silêncio e indeterminabilidade.
IHU On-Line - Quais são seus autores/as em poesia aos/às quais sempre volta?
Mariana Ianelli - Uma poeta por excelência, que constantemente me surpreende, que leio e releio, é Wislawa Szymborska (2). Yeats (3) é outro poeta que me encanta, o grande W. H. Auden (4), as elegias e cartas de Rilke (5), que me acompanham desde a adolescência, Emily Dickinson (6), com sua modernidade imperecível. Alberto Caeiro (7) é uma companhia à parte, poeta para todos os dias, Hilda Hilst (8), na sua lição de elegância, Sophia de Mello Andresen (9), Luis Cernuda (10), Wallace Stevens (11). Outros singularíssimos que faço questão de ter por perto são, por exemplo, Augusto dos Anjos (12), Rimbaud (13), Paul Celan (14). Também releio com freqüência Henri Michaux (15), Laura Riding (16), que descobri recentemente, e Alejandra Pizarnik (17), deslumbrante. Drummond, sempre.
IHU On-Line - Por utilizar bastante a primeira pessoa em seus poemas, acredita que seu trabalho poético seja confessional, ou esse conceito não se aplica mais à poesia de modo geral, levando em conta as subjetividades múltiplas da vida contemporânea?
Mariana Ianelli - Essa é uma pergunta interessante, já que a voz em primeira pessoa nos poemas, sobretudo a partir de Passagens, aparece como uma voz masculina. Nesse livro, os poemas carregam um rastro da leitura do Antigo Testamento, que na época me levou a pensar na parte humana de muitos de nós que ainda hoje vivem sob o signo das lamentações bíblicas e do apelo de Jó por um sentido. Já não é a minha pessoa que fala, mas um pensamento que procura onde sonhar. Se estou ali, é para dar voz a alguma coisa que me escapa, e se recorro a uma vivência pessoal, é para extrair dela aquele instante em que um outro de repente se reconheça. Também em Almádena os poemas buscam o seu lugar, um lugar que está ali no próprio corpo de quem toma a palavra para sonhá-la. Em vez de uma multiplicação da subjetividade, vejo nessa voz, aparentemente anônima, uma abertura para além do pessoal, um dispor-se ao desconhecido, uma reconciliação com a densidade do tempo e o merecimento das coisas, que me parece mais do que necessária nos dias atuais.
IHU On-Line - Em “Variações para a morte”, você cita, na epígrafe, Hilda Hilst. Como o trabalho dessa poeta influenciou em seu trabalho?
Mariana Ianelli - Descobri a poesia de Hilda Hilst nove anos atrás. Ainda não havia lido nada a seu respeito quando folheei pela primeira vez Da Morte. Odes Mínimas. O que dizer? Foi um arrebatamento. Antes de tudo, por sua escrita refinada, precisa, de uma limpidez que traz para o poema isto que ela chama de “cólera sagrada”, em outras palavras, toda uma sutileza que pouco a pouco foi me levando à perplexidade e que me mostrou o quanto a poesia pode ser selvagem sendo sagrada, e verdadeiramente arrojada sendo clássica. Além disso, a intimidade de tocar a morte, dando-lhe o nome de “negra cavalinha”, “feixe de flautas”, “Velhíssima-Pequenina”, não para cantar o luto, mas a vida, a paz dos contrários, ensinou-me quanta ousadia pode existir na delicadeza. Sem dúvida que Hilda Hilst foi – e é – uma de minhas autoras mais queridas. Não só nos poemas, mas nas suas crônicas e ficções, fica guardado aquele segredo que marcou a busca de toda a sua obra: “Deus? Uma superfície de gelo ancorada no riso”.
IHU On-Line - Em muitos poemas, você investe na descrição de pessoas. Em que medida pensa que as pessoas podem despertar poemas?
Mariana Ianelli - A matéria do poema, sua partitura, é essencialmente humana. A meu ver, porém, a palavra poética transcende os limites do lingüístico, bem como a presença do corpo, na poesia, aponta para uma força que o ultrapassa. Wislawa Szymborska, em um poema chamado "Torturas", diz: “Nada mudou. / Talvez só as maneiras, a dança, as cerimônias. / O gesto da mão protegendo a cabeça / permanece o mesmo todavia”. Diante desse gesto, idêntico para todos os homens, há milênios, não estamos mais na medida da palavra, senão que provamos do seu poder de silêncio e na sua força entrevemos a desmedida do humano. Acessar o poema, entrar em contato com ele, nos dispõe a ouvir "a música do pensamento", como falava George Steiner. Nesse sentido de transcendência da linguagem e transubstanciação do sonho, creio que o homem sempre despertou e sempre despertará poemas. Não se trata apenas de investir na sua descrição, mas de encontrar em um traço qualquer que lhe seja particular a força vital daquele gesto que vai além da palavra, e que permanece o mesmo desde séculos atrás.
IHU On-Line - Poemas seus estiveram expostos na mostra “Intolerância”, de Siron Franco. De que modo se apresenta a influência pictórica em seu trabalho poético?
Mariana Ianelli - Venho de uma família de artistas plásticos de que muito me orgulho. Almádena traz na capa uma pintura de meu tio Rubens e também na abertura de cada poema um desenho seu. Os outros quatro livros trazem obras de meu avô Arcangelo Ianelli. Fazer silêncio, inclusive, título do meu quarto livro, é originalmente o nome da obra escolhida para a capa, uma vibração em tons de verde. Esse “exercício de admiração” talvez seja fruto do reconhecimento de uma das maiores motivações da escrita que encontrei no convívio com a pintura, especialmente no caso da obra de meu avô, cuja trajetória foi marcada por uma progressiva conquista da abstração. A passagem da figuração para o abstracionismo sempre me pareceu ter um forte parentesco com a essência da poesia. Em uma de suas anotações sobre pintura, meu avô escreveu algo que jamais esqueci e que vale a pena citar: “Enganam-se os que julgam que um quadro colorido é aquele que contém variedades e acúmulo de cores dominando uma superfície mal disposta. A sutileza e elaboração da própria cor, quando criadas pelo verdadeiro artista, poderão conter uma riqueza infinita de matizes dentro de um só azul ou de um só gris”. Esse despojamento do supérfluo, na arte, em busca do que há de mais exuberante e substantivo, é uma lição que devo ao trabalho do meu avô e que, não tenho dúvida, será para toda a vida.
IHU On-Line - Para parafrasear o verso de seu poema Duas chagas, somos “pobres autores de nós”?
Mariana Ianelli - Somos donos de uma virtude rara, esta mesma que Pico della Mirandola (18), em seu célebre Tratado sobre a dignidade humana (XV) define como a virtude da indeterminação, ou seja, o fato de o homem ser, entre todas as criaturas de Deus, a única que não tem um lugar pré-estabelecido dentro da ordem do mundo. Dessa falta nos criamos para a vida possível, para o poema possível nos formamos na palavra. Há um outro trecho do poema ("Duas Chagas"), que diz: “Por todo esse tempo formamos o alvo certo / e nos arremessamos em riste, / humanamente, perdidamente. / Histórias justificadas, rompidas, libertas / valem nada se uma palavra esvanecida nos serve”. Somos pobres autores de nós se esvaziamos a palavra em vez de vivificá-la, se não usamos da nossa falta como virtude do gesto possível, se não lançamos raízes a partir da liberdade que nos foi dada. Para lembrar um poema de Juan Ramón Jimenez (19): “Raízes e asas. Mas que as asas enraízem / e as raízes voem”.
IHU On-Line - Giorgio Agamben, num de seus escritos, afirma que a modernidade trouxe consigo o fim da experiência. Acredita que isso se aplica à poesia feita atualmente?
Mariana Ianelli - Agamben (20) se refere à ausência da experiência como fundamento da poesia moderna, e vai mais longe ao dizer que, diante da expropriação da experiência, é o “Inexperenciável” que aponta para a “nova morada do homem”. Não por acaso, o filósofo Alain Badiou (21), em seu Pequeno manual de inestética, propõe que a verdadeira relação do poema se estabelece hoje “entre o pensamento, que não é mais de um sujeito, e a presença, que ultrapassa o objeto”. A meu ver, as duas proposições se cruzam nesta afirmação de Badiou: “O poema exige que se entre na sua operação e o enigma é essa própria exigência”. Isso se aplica à poesia de um modo amplo, e reserva ao poeta a tarefa de manter no poema seu enigma; ao leitor, o envolvimento no poema e participação em seu enigma.
Notas:
(1) Carlos Drummond de Andrade é considerado um dos principais poetas da literatura brasileira devido à repercussão e alcance de suas obras. Nasceu em Minas Gerais e formou-se em em farmácia. Com Emílio Moura e outros companheiros, fundou A Revista para divulgar o modernismo no Brasil. Drummond, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta por Mário de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo. Sobre o autor, a IHU On-Line dedicou a edição 232.
(2) Wislawa Szymboska nasceu em 1923, no vilarejo polonês de Bninie Durante a Segunda Guerra, foi funcionária do departamento de estradas de ferro. Mais tarde, trabalhou como secretária, ilustradora e, durante décadas, como editora de uma revista cultural. Começou a escrever poesia na década de 1940. Em 1949, seu primeiro livro foi censurado pelo regime comunista, que o considerou obscuro demais para as massas.
(3) William Butler Yeats foi um poeta irlandês, dramaturgo e místico. Yeats teve um papel preponderante no Renascimento Literário Irlandês e foi co-fundador do Abbey Theatre. As suas primeiras obras eram caracterizadas por uma tendência romântica exuberante e fantasiosa, que transparece no título da sua colectânea de 1893, The celtic twilight ("O crepúsculo celta"). Mais tarde, contudo, por volta dos seus 40 anos, e em resultado da sua relação com poetas modernistas, como Ezra Pound e também do seu envolvimento activo no nacionalismo irlandês, o seu estilo torna-se mais austero e moderno. Foi também Senador irlandês, cargo que exerceu com dedicação e seriedade. Foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura de 1923.
(4) Wystan Hugh Auden foi um poeta e crítico inglês. Para os jovens intelectuais de esquerda ele foi a grande voz dos anos 1930: algumas vezes demasiadamente político, sempre implicitamente radical e incômodo, pela freqüência com que lançava mão, em seus poemas, de espiões, bordéis e impulsos reprimidos - sua homossexualidade estava por trás de várias referências pessoais, aparecendo insistentemente em sua poesia.
(5) Rainer Maria Rilke foi um dos mais importantes poetas de língua alemã do século XX. Em 1894 fez sua primeira publicação, uma coleção de versos de amor, intitulados Vida e canções (Leben und Lieder). Em 1899, Rilke viajou para a Rússia a convite de Lou Andreas-Salomé (conhecida por seu envolvimento amoroso com Sigmund Freud e por quem Nietzsche fora apaixonado) e que foi sua amante por anos. Sua passagem pela Rússia imprimiu uma inspiração religiosa em seus poemas. Rilke passou a enxergar a natureza, dada as dimensões e exuberância das paisagens russas, como manifestação divina presente em todas as coisas. Em 1905, publicou O livro das horas, de grande repercursão à época. A obra de Rilke influenciou muitos autores e intelectuais em diversas partes do mundo. Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira metade do século XX.
(6) Emily Dickinson foi uma poetisa americana. Em torno de Emily, construiu-se o mito acerca de sua personalidade solitária. Tanto que a denominavam de a “Grande Reclusa”. Foi somente em torno do ano de 1858 que Emily deu início a confecção dosmanuscritos com suas composições, produzidos e encadernados à mão. É intensa a sua produção de 1860 até 1870, quando compôs centenas de poemas por ano. A partir de 1864, surpreendida por problemas de visão, arrefece um pouco o ritmo de sua escrita. Uma curiosidade na obra de Emily Dickinson é que, apesar de ter escrito em torno de 1800 poemas e quase 1000 cartas, ela não chegou a publicar nenhum livro de versos, enquanto viva. Toda a sua obra foi editada postumamente, sendo reconhecida e aclamada pelos críticos. Veja-se traduções dela em Alguns poemas (Trad. de José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2006).
(7) Alberto Caeiro é considerado o mestre dos heterônimos de Fernando Pessoa, apesar da sua pouca instrução. Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirma que pensar retira a visão. Proclama-se assim um anti-metafísico. Afirma que, ao pensar, entra num mundo complexo e problemático onde tudo é incerto e obscuro. À superfície é fácil reconhecê-lo pela sua objetividade visual que faz lembrar Cesário Verde, sendo este citado muitas vezes nos seus poemas pelo seu interesse pela natureza, pelo verso livre pela linguagem simples e familiar. Apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos" que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade. É um poeta de simplicidade completa e dá especial importância ao ato de ver. Considera que a sensação é a única realidade para nós.
(8) Hilda de Almeida Prado Hilst foi uma poeta, escritora e dramaturga brasileira. Hilda Hilst escreveu por quase cinqüenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil. Sua obra completa vem sendo editada pela Globo.
(9) Desde o livro de estréia, Poesia, de 1944, Sophia de Mello Breyner Andresen anunciava as principais características da sua arte poética: um rigor clássico traduzido numa enorme simplicidade de linguagem para dizer a aliança do ser com o mundo através de imagens nítidas como a terra, o sol e o mar. Nascida no Porto, esteve muito cedo ligada à luta antifascista e, a seguir ao 25 de Abril, foi deputada à Assembléia Constituinte. Os seus principais poemas de resistência política foram reunidos na antologia Grades (1970), sem prejuízo de a aspiração à liberdade e à justiça impregnarem toda a sua obra, como uma ética poética que lhe fosse natural. Viu a sua carreira consagrada com o Prêmio Camões, em 1999. Faleceu em Lisboa em 02 de julho 2004.
(10) Luis Cernuda Bidón, nasceu em Sevilha, em 1902. Em 1919, começou a estudar Direito na Universidade de Sevilha onde conheceu a Pedro Salinas, seu professor, que lhe introduziu no mundo literário. Mudou-se para Madrid e ali, entrou em contato com os ambientes literários do que logo viria a ser chamado a "Geração de 27". Foi em 1927, que publicou sua primeira obra "Perfil Del Aire". Suas principais influências procederam de autores românticos como Keats e Bécquer entre outros. Durante um ano, trabalhou como leitor de espanhol na Universidade de Toulouse onde, começou a escrever os poemas de seu livro Un rio, un amor (1929). Durante a Guerra Civil, participou ativamente, desde as trincheiras culturais como na fundação da revista "Hora de España", junto com poetas como Alberti ou Gil Albert ou como na participação do "II Congreso de Intelectuales Antifascistas" realizado em Valencia. O primeiro livro a ser publicado no exílio foi Las Nubes, em 1940.
(11) Wallace Stevens foi um poeta estadunidense modernista. Foi agraciado com o Prêmio Pulitzer em 1955. Nasceu em 1879 em Reading, Pensilvânia, estudou na Universidade de Harvard e publicou seu primeiro livro, Harmonium em 1923, mas só obteve reconhecimento fora dos círculos especializados após receber o prêmio National Book Award, em 1954, com a publicação do livro Collected Poems.
(12) Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos foi um poeta paraibano, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano, mas muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, concordam em situá-lo como pré-moderno. É conhecido como um dos poetas mais estranhos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada (e detestada) tanto por leigos como por críticos literários. Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e outras poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor. Sua poesia chocou a muitos, principalmente aos poetas parnasianos, mas hoje é um dos poetas brasileiros que mais foram reeditados. Sua popularidade se deveu principalmente ao sucesso entre as camadas populares brasileiras e à divulgação feita pelos modernistas.
(13) Jean-Nicolas Arthur Rimbaud foi um poeta francês. Na maioria das vezes, a história de Rimbaud é apresentada como principal ponto de partida para a leitura de sua obra, o que torna quase impossível olhar-se a obra de Rimbaud com olhos livres. Entre os livros que reúnem a produção de Rimbaud destacam-se Une saison en enfer e Iluminations, além de poemas como "Le bateau ivre" ("O barco ébrio").
(14) Paul Celan foi um poeta romeno radicado na França. Sobrevivente do Holocausto, Celan foi um dos mais importantes poetas modernos da língua alemã. Filho de judeus de língua alemã, enaltecido como um dos maiores poetas do pós-guerra, carregou e registrou em sua obra a marca do terror nazista. A desolação pela perda dos pais, mortos em um campo de extermínio do qual fugiria, trouxe até nós um texto denso, vigoroso e envolto em silêncio e dor.
(15) Henri Michaux é um escritor, poeta e pintor de origem belga, mas naturalizado francês em 1955. Seu texto está ligado ao surrealismo, porém não faz parte do movimento. Para além dos textos meramente poéticos, redigiu cadernetas de viagens reais (Equador em 1929 e Ásia em 1933) ou imaginárias (noutro lugar em 1948, entre muitos outros).
(16) Laura Riding foi uma poeta, crítica e novelista norte-americana. Seu primeiro volume de poemas foi publicado em 1926. Sua poesia tinha-se tornado muito mais original, geralmente abandonando medidores tradicionais para um formulário altamente anti-conventional do verso livre. Foi traduzida para o português por Rodrigo Garcia Lopes, em Mindscapes (São Paulo: Iluminuras, 2004).
(17) Alexandra Pizarnik nasceu em Buenos Aires, em 1936. Estudou história da religião e literatura francesa, na Sorbone, durante uma temporada que ficou residindo na França. Quando volta para a Argentina, em 1964, publica suas três principais obras - Los trabajos y las noches, Extraccion de la piedra de loucura e El inferno musical. Durante a vida teve vários problemas psiquiátricos, morrendo de uma dose intencional de secanol, em 1972, quando passava uma temporada fora da clínica onde estava internada.
(18) Giovanni Pico della Mirandola foi um erudito, filósofo neoplatônico e humanista do Renascimento italiano. Em Roma, no ano de 1486, Giovanni, com apenas 23 anos de idade, publica as suas polêmicas 900 teses, intituladas Conclusiones philosophicae, cabalisticae et theologicae, por meio das quais acreditava ter desvelado as bases de todo o conhecimento da humanidade, combinando elementos do neoplatonismo, hermetismo e cabalismo, além de versar sobre lógica, matemática, física. Ele se oferece para pagar as despesas de qualquer um que estivesse disposto a vir até Roma e enfrentá-lo em uma discussão pública sobre as teses. Neste ano publica o seu trabalho mais conhecido, De hominis dignitate oratio (Discurso sobre a Dignidade do Homem), que serve como uma introdução às 900 teses. Entretanto, das 900 teses, treze foram consideradas heréticas pela Igreja Católica e ele é proibido de ir adiante com as discussões públicas. Uma comissão de inquérito da igreja convida Geovani para retratar-se, o que ele efetivamente faz. Giovanni tenta ainda defender as suas treze teses com o opúsculo Apologia Ioannis Pici Mirandolani, concordiae comitis, mas não obtém sucesso. Ao final de sua vida, destrói seus trabalhos poéticos e torna-se um defensor do Cristianismo contra os judeus, muçulmanos e astrólogos. Giovanni é considerado o primeiro erudito cristão a mesclar elementos da doutrina cabalística e teologia cristã.
(19) Juan Ramón Jiménez Mantecón foi um poeta espanhol, ganhador do Nobel de Literatura em 1956. Entre outras obras, escreveu Platero e Eu.
(20) Giorgio Agamben nasceu em Roma, em 1942. Formado em Direito, com uma tese sobre o pensamento político de Simone Weil, é responsável pela edição italiana da obra de Walter Benjamin . Foi professor da Universitá Di Verona e da New York University, cargo ao qual renunciou em protesto à política de segurança do governo norte-americano. Atualmente leciona Estética na Facoltà Di Design e Arti della IUAV (Veneza). Sua produção centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política. Entre suas principais obras, estão Infância e história, Estâncias, A linguagem e a morte e Homo sacer I: o poder soberano e a vida nua I (todos lançados pela editora UFMG) e Estado de exceção e Profanações (lançados pela Boitempo). Leia também a edição 81 da Revista IHU On-Line sobre Estado de exceção e vida nua, baseado nas teorias de Agamben.
(21) Alain Badiou é um filósofo, dramaturgo, e novelista francês. Realizou estudos de filosofia na École Normale Supérieure de Paris entre 1956 e 1961. Foi membro fundador do PSU (Parti Socialiste Unifié) em 1960. Envolvidos nos movimentos políticos em torno do maio francês e simpatizante com a esquerda maoísta, ingressou na Union des communistes de France Marxiste-Léniniste em 1969. Atualmente, participa do grupo L`Organisation Politique, junto com Sylvain Lazarus e Natacha Michel.
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"Vejo na poesia uma possibilidade de transubstanciação". Entrevista especial com Mariana Ianelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU