12 Outubro 2007
A relação entre aquecimento global, biocombustíveis e alternativas energéticas é analisado pelo professor Jorge Luiz Fernandes na entrevista do dia de hoje, concedida à IHU On-Line por telefone. Nela, Jorge fala sobre desenvolvimento sustentável, sobre os benefícios e malefícios da utilização do álcool como fonte de energia e ainda aborda as pesquisas desenvolvidas no Brasil, a utilização do gás natural e o debate em torno do aquecimento global. “Se há duas teorias e as duas trabalham com uma ferramenta muito importante que é a estatística e trabalham também com modelos numéricos, fazem simulações, então, quem será que está com a razão?”, questiona Jorge em relação às teorias relacionadas aos problemas climáticos.
Jorge Luiz Fernandes é graduado em Meteorologia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com especialização em Planejamento Regional e Desenvolvimento Territorial, pela mesma universidade. É mestre em Planejamento Estratégico, pela UFRJ, e doutor Engenharia Civil, pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra. É, atualmente, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O que falta para o Brasil assumir um compromisso social em relação ao aquecimento global e se desenvolver sustentavelmente?
Jorge Luiz Fernandes – Eu acho que falta bastante coisa para o Brasil assumir um compromisso social em relação ao aquecimento global e desenvolver-se sustentavelmente. Porém, uma medida importante é utilizar, para a geração de energia, tecnologias consideradas limpas, que gerem mais empregos, seja nas áreas rurais ou nas áreas urbanas. Atualmente, os biocombustíveis são alternativas energéticas que geram esses empregos. Além de emitirem menos gases de efeito estufa, essas tecnologias ajudam no desenvolvimento sustentável. Ou, pelo menos, podem ajudar, pois elas apresentam vantagens sociais, ambientais e econômicas. Esse é meu ponto de vista.
IHU On-Line – A partir dos seus estudos, quais são os principais benefícios que os biocombustíveis trazem ao meio ambiente?
Jorge Luiz Fernandes – Eles trazem benefícios ao meio ambiente, pois emitem menos gases de efeito estufa e reduzem resíduos provenientes da queima da biomassa. Então, eles são ambientalmente bem mais limpos e aceitáveis.
IHU On-Line – Por que especificadamente o álcool é bom em termos de aquecimento global?
Jorge Luiz Fernandes – O que acontece é o seguinte: tudo está no balanço do que é emitido e do que é consumido. Quando você queima cana, álcool, você está emitindo CO2 para a atmosfera. Por sua vez, quando você planta cana para produzir o álcool, ela retira o CO2 da atmosfera. Então, no balanço geral, você tem um balanço fechado. O que é emitido com a queima depois é absorvido com o crescimento da cana para a produção do álcool. É nesse aspecto que nós consideramos o álcool um combustível melhor do que a gasolina. Por outro lado, ele traz mais problemas em termos de qualidade do ar, formando aldeídos e outros gases que, na atmosfera, são irritantes, irritam as narinas, os olhos etc. Em termos de aquecimento global, portanto, o álcool é bom, mas em termos de qualidade do ar deixa a desejar. Isso é o que as pessoas têm que pensar nos grandes centros urbanos, pois eu acho que, com o número elevado da população nessas localidades, a qualidade do ar deve ser levada em conta.
IHU On-Line – O aquecimento global poderia ser reduzido com estudos e pesquisas mais regionais?
Jorge Luiz Fernandes – É claro que o aquecimento global é algo que se dá localmente. Ele é global quando você junta todas as contribuições que ocorrem no Planeta. Mas esse aquecimento se dá localmente. O Brasil é federativo, mas você mora em um município, e a poluição, conseqüentemente, é gerada na sua cidade, no seu bairro, na sua casa. Quando você não tem acesso à coleta de lixo, por exemplo, está produzindo poluição. Eu acho que as pesquisas regionais são importantes para você conhecer, primeiramente, o potencial de cada região, de cada local, de onde essa poluição é gerada. O desmatamento, as queimadas no Norte e no Centro-Oeste do País geram uma quantidade de poluição, de gases de efeito estufa muito grande para a atmosfera. Além disso, esse desmatamento e essas queimadas geram, também, uma quantidade de material particulado, que é transportado através da circulação geral da atmosfera para distâncias muito além da sua fonte geradora. Alguns professores e pesquisadores fizeram análise da chuva e constataram a presença de material gerado no Brasil Central. Como é que esse material chegou até lá? Chegou através da circulação geral da atmosfera, dos ventos que transportam esses produtos gerados pelo desmatamento e pela queima da floresta. Eu acho que conhecer, primeiramente, as fontes poluidoras ou potencialmente poluidoras é o primeiro passo que deve ser dado. E depois, para reduzir isso, precisamos ter ações, metas para combater esses locais que apresentam essas condições potenciais de poluição.
IHU On-Line – O que é preciso, no Brasil, para o desenvolvimento das energias solar, eólica e de biomassa?
Jorge Luiz Fernandes – Primeiramente, eu acredito que precisamos de vontade política, pois essas fontes alternativas de energia já são bem conhecidas e bem aceitas. Entretanto essas energias não serão viabilizadas enquanto o preço do barril de petróleo for viável, o que é um grande problema. O País precisa ter vontade política e começar a colocar em prática. Os biocombustíveis já mostram que o País tem vontade política em termos de biomassa. A energia eólica já está sendo bem aceita. Então, no Norte, onde existe um potencial eólico muito forte, essas energias já estão entrando na nossa matriz energética, o que contribui bastante. Agora, com relação à energia solar, eu acho que ela é ainda muito incipiente, embora o País apresente um grande potencial para a utilização dessa energia. Nós não podemos esquecer que trazemos o Brasil para dentro da área equatorial e tropical.
IHU On-Line – De que forma o gás natural pode contribuir para a redução da poluição?
Jorge Luiz Fernandes – O gás natural, por ser um gás isento de enxofre, é considerado mais limpo que o diesel. Eu realizei um estudo na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no qual eu fiz uma modelagem da substituição do diesel, da redução das emissões, ou seja, eu simulei a substituição do diesel por gás natural nos motores, considerando um motor desenvolvido exclusivamente para uso do gás natural. Lá, verifiquei que o gás natural emite quase metade menos de CO2. Além disso, emite também quase 50% menos de composto orgânico volátil (conhecido como hidrocarboneto) e quase 50% de material particulado a menos, não emitindo, por outro lado, óxidos de enxofre. Todavia, verifiquei também que o gás natural emite mais NOX que o motor a diesel, o que é um problema, pois o NOX contribui para formação de ozônio. Isso se dá em função de que o gás natural tem um poder calorífico muito alto, aumentando muito a temperatura de um motor a diesel. Temos, então, a formação de grande quantidade de NOX, que quando está na atmosfera com a presença do composto orgânico volátil, além da radiação solar que temos em abundância, contribui para a formação de ozônio troposférico, que é o ozônio que nós respiramos. Esse ozônio é considerado poluente ao contrário do ozônio que está lá em torno de 25 quilômetros de altura, considerado um gás benéfico que nos protege contra as radiações ultravioleta potente. Aqui embaixo, o ozônio é não só poluente mas também um gás estufa. É claro que o seu potencial de aquecimento global não é tão forte quanto o CO2, metano e outros gases.
IHU On-Line – Qual é a sua opinião sobre o debate em torno do aquecimento global?
Jorge Luiz Fernandes – Em relação ao aquecimento global, eu acho que está havendo um certo exagero da mídia. Há duas semanas, eu dei uma palestra na qual uma pessoa falou sobre os impactos na economia do aquecimento global e uma outra falou sobre o IPCC e seu papel. Enquanto isso, eu já dei mais um enfoque diferente, não respondendo às perguntas, na tentativa de mostrar às pessoas um outro lado de toda esse problema que está sendo colocado pela mídia que é a questão do efeito estufa. Mostrei para as pessoas que também existem outras teorias que falam de um aquecimento e de um resfriamento do planeta. Há um grupo que discorda do IPCC e acredita que o responsável pelo aumento da temperatura do planeta não está no aumento da concentração do CO2 como um gás estufa, mas sim no número de manchas solares. Eles apresentam também gráficos, estudos consistentes correlacionados que falam que em anos em que o sol apresenta baixa atividade, ou seja, emite poucas manchas solares, existem poucas explosões, são anos frios e a temperatura não se eleva muito. Em anos em que ocorre muita atividade solar, temos uma temperatura mais elevada. Eles apresentam a Pequena Era do Gelo, que foi um período em que o sol teve uma atividade mínima, em que o número de manchas solares foi muitíssimo pequeno. Nesse período, ocorreu um evento climático muito importante, conhecido como Pequena Era do Gelo. Nesse período, os londrinos tiravam suas férias no Tamisa. Há até fotos de elefantes se deslocando sobre o Tâmisa congelado. Então, você agora entende como a coisa se processa. Nós ficamos nos perguntando o seguinte: se há duas teorias e ambas trabalham com uma ferramenta muito importante que é a estatística e com modelos numéricos, fazem simulações, então, quem será que está com a razão? Fica aqui a pergunta.
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Aquecimento global, um mito? Entrevista especial com Jorge Luiz Fernandes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU