12 Novembro 2025
Na França, quatro em cada cinco padres dizem sentir-se felizes. Vivem contentes, apesar dos desafios da secularização, do declínio das vocações e de 17 por cento não sentir “confiança nem apoio da parte do seu bispo ou da sua hierarquia”. São felizes por serem “testemunhas privilegiadas das maravilhas que Deus opera nos corações” das pessoas (53%), por poderem conhecer “pessoas muito diferentes e de todas as classes sociais” (34%) e por verem crescer o número de catecúmenos adultos (62%).
A informação é publicada por 7 Margens, 10-11-2025.
A sondagem conduzida pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) em outubro deste ano revela um estado de espírito entre os padres muito diferente daquele que um estudo de 2020 tinha mostrado. Hoje, segundo o Ifop, quase metade (45%) do clero sente-se “em paz, determinado, feliz e fiel à sua vocação”, enquanto um terço (35%) diz-se “menos idealista diante da dura realidade, mas em paz e feliz”. Apenas 15 por cento reconhecem estar “um tanto desiludidos e cansados, mas em paz e felizes” e 5 por cento reconhecem viver a depressão. Contudo, um em cada dez diz-se “pessimista perante um Igreja vista como cada vez mais difícil”
Estes resultados são muito surpreendentes na medida em que a sondagem de 2020 sobre a saúde do clero que recolheu a opinião de 2.656 padres revelou que 17,6 por cento dos entrevistados apresentavam sintomas depressivos, um número mais de três vezes superior ao verificado junto da população masculina em França.
Além da falta de apoio por parte dos seus bispos, aos padres inquiridos este ano custa-lhes “testemunhar o desaparecimento da fé nas pessoas” (16%) e “sentir que têm de gerir o declínio humano e espiritual de uma instituição enfraquecida” (16%). Por outro lado, “as dificuldades inerentes ao celibato sacerdotal” revelam-se muito pesadas para 15 por cento dos entrevistados, enquanto 14 por cento sofrem com a “falta de fraternidade entre os sacerdotes”.
Muitos dos padres que responderam ao inquérito expressaram o desejo de ter “uma equipe confiável e autônoma de leigos” para os apoiar, mas a sua opinião sobre o papel dos diáconos raramente é ouvida, ou debatida, embora o número de ordenações ao diaconato permanente esteja a aumentar.
Três quartos dos entrevistados são párocos ou vigários e a maioria acredita que sua presença é essencial para os fiéis, particularmente durante os serviços fúnebres — que, no entanto, são cada vez mais conduzidos por diáconos ou leigos formados para esse acompanhamento.
Mais de metade admite uso “excessivo ou difícil de controlar” dos celulares
O artigo da edição do jornal La Croix de 6 de novembro, ao tratar os dados desta pesquisa, sublinha um retrato surpreendentemente moderno dos padres na França, sobretudo no que diz respeito a “aspetos mais íntimos da sua vida”: mais de metade praticam desporto, tantos quantos se dedicam a atividades intelectuais e atividades culturais; apenas 5 por cento “não têm atividades fora do ambiente da igreja”. Mas, mais surpreendente ainda, é a sua relação com os ecrãs: “52 por cento passam entre duas a quatro horas por dia nos seus smartphones”; destes, 58 por cento admite praticar um uso “excessivo ou difícil de controlar” dos celulares. Quanto às redes sociais, 43 por cento utilizam-nas diariamente como leitores, mas apenas 18 por cento as usam para comunicar.
A sondagem “O Sacerdócio Hoje”, realizada pelo Ifop em outubro de 2025 para o Observatório Francês do Catolicismo, em parceria com a RCF-Radio Notre-Dame e a revista Famille Chrétienne, continha 50 questões e foi conduzida junto de 5.000 padres, dos quais apenas 766 responderam. De acordo com os últimos números disponibilizados pela Conferência do Bispos de França, em 2023 existem 12.019 padres no país.
O Observatório Francês do Catolicismo foi lançado em junho de 2025 por um grupo de leigos tendo como missão produzir dados regulares sobre a evolução do catolicismo na França. É financiado por doadores privados, incluindo o Fundo do Bem Comum, criado pelo empresário Pierre-Édouard Stérin.
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