Metas climáticas apresentadas à ONU levam mundo a aquecimento de 2,5ºC até 2100

Foto: MarcusLange | pixabay

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29 Outubro 2025

UNFCCC divulga relatório síntese das NDCs. Corte de emissões fica em 17%, enquanto Ciência diz que seria necessário cortar 60% da emissões de gases até 2035.

A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 28-10-2025. 

O secretariado da ONU para mudanças climáticas divulgou na madrugada desta terça-feira (28), no horário de Brasília, o Relatório Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas de 2025 (NDC Synthesis Report 2025), consolidando as metas climáticas apresentadas pelos países entre janeiro de 2024 e setembro de 2025. Segundo a própria ONU, as metas não estão de acordo com a necessidade para o enfrentamento climático.

O documento era aguardado há várias semanas, pois é a primeira vez em cinco anos que a ONU revela o quão perto – ou quão longe – o mundo está na corrida de limitar o aquecimento global em 1,5ºC.

Os números mostram que o comprometimento dos países signatários do Acordo de Paris – o maior acordo climático global e que prevê a apresentação de novas NDCs quinquenalmente – “está aquém” do que seria necessário.

Nem todas as partes apresentaram suas metas, incluindo grandes poluidoras, como União Europeia e China, que ainda não submeteram formalmente suas NDCs – China apenas anunciou, mas não formalizou -, o que torna a análise apenas parcial. Além disso, as metas apresentadas representam corte de apenas 17% nas emissões globais até 2035, quando a Ciência diz que o corte deveria ser de 60% no mesmo período.

“Com suas emissões de GEE em 2035 estimadas, em média, em 17% (entre 11% e 24%) abaixo dos níveis de 2019, a escala total da redução de emissões esperada para ser alcançada pelo grupo de Partes (observando que este grupo representa apenas cerca de 33% das Partes do Acordo de Paris) por meio da implementação de suas novas NDCs fica aquém do necessário”, diz o relatório.

Relatório síntese em números

O documento divulgado nesta terça-feira compila as metas climáticas de 64 das 195 signatárias do Acordo de Paris, que representam cerca de 30% das emissões globais.

Das partes que apresentaram, apenas 7 são membros do G20, responsáveis por 80% das emissões globais. Além das ausências de China e União Europeia, citadas anteriormente, o relatório também considerou a NDC dos Estados Unidos, submetida ainda na administração Biden em 2024, mas que se sabe que não será implementada por Trump.

“Com esse cenário [de poucas NDCs apresentadas], a gente tem um retrato nada fiel, porque é muito pouco. No entanto, isso mostra para a gente uma falta de comprometimento dos países com o enfrentamento do maior desafio de todos os tempos, o maior desafio da história da humanidade, então ele é revelador nesse sentido”, diz Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima.

A avaliação do Observatório do Clima é corroborada por outras organizações brasileiras. Para o Instituto Talanoa, a trajetória potencial caso estas NDCs sejam implementadas coloca o aquecimento da terra entre 2,4ºC e 2,6ºC até 2100. Ou seja, fora da zona de segurança climática projetada pelo painel científico da ONU para mudanças climáticas, o IPCC.

Se quiséssemos manter o aquecimento em até 2ºC, seriam necessárias reduções de pelo menos 27% até 2035, diz a Ciência.

“As metas ficaram mais sofisticadas, mas o problema é o mesmo: estamos gerindo uma crise sem a urgência de uma crise. Há algo de profundamente equivocado em celebrar uma queda de 17% nas emissões quando a ciência diz que precisamos de 60%. É a ilusão do progresso incremental. Belém precisa ser o momento em que o constrangimento gera uma resposta coletiva dos países à crise das NDCs”, diz Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.

Além das metas insuficientes para 2035, de acordo com o Talanoa, no relatório-síntese de 2025 não houve alteração significativa das metas para 2030. Isso significa que, politicamente, os compromissos seguem inalterados e em um ritmo muito abaixo do necessário para a descarbonização das economias nesta década.

Alguns avanços, pouco dinheiro

Apesar das metas não ambiciosas, as NDCs apresentadas mostram algum avanço em certos aspectos. Segundo o relatório, as novas NDCs representam um progresso em qualidade e abrangência, já que 89% agora têm escopo de economia inteira, e 88% foram elaboradas levando em conta os resultados do Balanço Global (Global Stocktake – GST).

De forma geral, as novas NDCs revelam um esforço crescente para integrar mitigação, adaptação e justiça social. As ações nessas áreas, no entanto, continuam a depender criticamente de financiamento previsível, tecnologia e capacitação.

Segundo o relatório, a necessidade de financiamento para implementação das NDCs soma US$ 1,97 trilhão: US$ 1,34 trilhão para mitigação e US$ 560 bilhões par adaptação, considerando os números das 64 metas apresentadas.

Este valor de US$ 1,97 trilhão não se refere à meta de US$ 1,3 trilhão negociado na COP29, no Azerbaijão, já que este último é exclusivamente dedicado a países em desenvolvimento. O valor representa as necessidades de todos os países, desenvolvido e em desenvolvimento, incluídos no relatório-síntese de 2025.

No colo da COP30

A análise de especialistas é que os números apresentados nesta terça-feira evidenciam ainda mais a necessidade de o Brasil se posicionar com ênfase, durante a COP30, para que os países participantes do encontro se comprometam de forma mais efetiva com o enfrentamento da crise climática.

“A COP30 precisa dar uma resposta a isso [ao relatório]. Os países precisam renovar o comprometimento, precisam se comprometer com um processo que acelere a implementação dessas NDCs, que acelere a implementação das decisões que eles fizeram há dois anos, principalmente quando se trata de nos afastarmos dos combustíveis fósseis, mas também as florestas e tudo mais. É muito importante que a gente [Brasil, na presidência da COP30] dê uma resposta à altura do desafio”, diz Stela Hershman, o OC.

Para Marta Salomon, especialista em política climática do Instituto Talanoa, o relatório pode ser usado como ferramenta para cobrar transparência, consistência e ambição dos países que ainda não apresentaram suas NDCs.

“Às vésperas da COP30 em Belém, o relatório funciona como um chamado para cobrar os países que estão descumprindo o Acordo de Paris por não terem ainda apresentado suas NDCs. Além disso, é preciso reconhecer que estamos diante de uma crise real, que exige uma resposta conjunta, coordenada e à altura da emergência climática na COP30”, diz Salomon.

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