Sob as mãos de ferro dos EUA e as flores arrancadas da Venezuela e da América Latina. Artigo de Ivânia Vieira

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23 Setembro 2025

"Qual será, no capítulo deste quarto de século XXI, a nossa conduta diante desse poder de mando imperial? Contar a quantidade de ataques, de mortos por esses ataques, acompanhar o triunfo estadunidense na velha regra de encaixotar as nações para fazer à moda Trump a 'América Grande'?", escreve Ivânia Vieira.

Ivânia Vieira é jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Processos Socioculturais da Amazônia, articulista do jornal A Crítica de Manaus, cofundadora do Fórum de Mulheres Afro-ameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).

Eis o artigo.

Os ataques da Marinha norte-americana contra barcos venezuelanos resultaram em 14 mortes, até agora. O presidente dos EUA, Donald Trump, disse terem sido realizadas três operações no mar do Caribe, desde o dia 2 de setembro. O pretexto para atacar o país é antigo: combater o tráfico.

Em nome do combate ao terrorismo, o governo de Israel estabeleceu, na atualidade uma das mais vorazes ações genocidas contra o povo palestino. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou na terça-feira (16) que “Gaza está em chamas”, após o início de mais uma série de bombardeios. Nessa região, os que detém o poder no mundo disseram sim ao genocídio praticado pelo governo sob liderança de Netanyahu.

As ameaças de sanções feitas ao governo israelense não passaram desse nível. E isso após a circulação de imagens de crianças desnutridas, bebês mortos pela fome, multidões encurraladas e soterradas em seguida levaram milhares de pessoas a organizar manifestações de protesto em centenas de cidades em diferentes regiões do mundo.

Na manhã de sábado (13), professores vinculados a Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes-SN), grêmios e centros estudantes universitários, representantes de vários movimentos protestaram em frente a sede da Embaixada de Israel, em Brasília, sob vigilância de policiais militares, o mesmo ocorreu em outras cidades. Nada freou mais uma operação de morte e de tentativas de aniquilação de Gaza como símbolo da luta palestina pelo direito de ser estado reconhecido e ter vida livre.

Em alguma medida, o governo Trump utiliza, agora na Venezuela, tática próxima da de Netanyahu. Decide que países quer atacar, dissemina uma ideia ou uma desinformação e maneja os artefatos de guerra para produzir ataques, medo, instabilidade e morte. Parcela da mídia global acompanha e apoia o ‘novo’ roteiro do império na América Latina e em outros países da África.

Na Venezuela foram aplicadas 150 sanções e patrocinadas 11 tentativas de golpe desde 2014. Destas punições, a maioria veio de governos estadunidenses (Brasil de Fato/2020). O bloqueio gerou mais de 40 mil mortes entre 2017 e 2018, desestabilização política e econômica – queda do PIB venezuelano em 60% e prejuízo médio de 30 bilhões de dólares. O bloqueio gerou romaria de venezuelanos em travessias arriscadas em busca de trabalho, comida e direito de viver. O terrorismo não é da Venezuela é da política estadunidense.

As operações militares no mar do Caribe são ameaças reais de novos ataques a Venezuela e aos demais países da região, como o Brasil. A promoção da instabilidade é um tipo de investimento com alvos certos que o governo de Donald Trump faz e, de igual modo, recebe o sim de parte do poder do mundo. O plano de intervenção no país caribenho é antigo pelo petróleo venezuelano e, principalmente, pela estratégica localização da ilha. Nessa lógica, é preciso domar a Venezuela e toda a região. As ditaduras de longa duração na América Latina têm uma impressão digital – EUA – que permanece agindo.

Em abril deste ano, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, declarou “vamos recuperar nosso quintal” ao se referir à América Latina. É o que estão buscando concretizar. Logo, a ‘questão Venezuela” não é o combate às drogas, ao tráfico, e sim a retomada de ações intervencionistas por parte de Trump na latino-americana. O governo dos EUA, se preocupado está com o comercio de drogas, poderia fazer operações internas. É ali que está um grande filão de negócio e de usuários.

Qual será, no capítulo deste quarto de século XXI, a nossa conduta diante desse poder de mando imperial? Contar a quantidade de ataques, de mortos por esses ataques, acompanhar o triunfo estadunidense na velha regra de encaixotar as nações para fazer à moda Trump a “América Grande”? Ou reagir ao império e aos seus apoiadores, inclusive no Brasil onde servidores públicos remunerados com verba pública estão publicamente em campanha pela invasão das forças de repressão dos EUA?

Aliás, essas pessoas, como o deputado Eduardo Bolsonaro, já deveriam ter sido punidas. No caso dele, a perda do mandato. O que se vê é um movimento, sinalizado na Câmara dos Deputados, para manter o mandato dele e a vida do parlamentar golpista nos EUA.

Então recordemos trecho de um poema: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim/ E não dizemos nada/ Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada/Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada” – Eduardo Alves da Costa em “No Caminho com Maiakóvski

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