X Tribuna das águas discute ecologia integral. Artigo Sandoval Alves Rocha

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28 Junho 2025

"A prevalência da busca do lucro e do ímpeto economicista sobre as outras dimensões tem causado graves problemas sociais e o colapso do planeta", escreve Sandoval Alves Rocha, SJ.

Sandoval Alves Rocha é doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJEMG), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.

Eis o artigo.

No dia 21 de junho, o Fórum das Águas do Amazonas realizou mais uma intervenção na Praça Heliodoro Balbi, centro da cidade. A X Tribuna das Águas teve como tema Ecologia Integral e a Defesa das Águas. Diversas organizações participaram do evento entre as quais estava a comissão de defesa dos igarapés, o colégio Amazonense, o instituto Iberr, instituto mãos que criam arte, a Associação dos docentes da Ufam, o coletivo Salve o Parque dos Bilhares, o coletivo Periferia Amazônia, o coletivo GTA, o Instituto Sumauma, o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação socioambiental, o movimento Elas por Elas com Eles e Coletivo Amigos da Praça.

Através desta iniciativa o Fórum das Águas levou para a Praça a discussão sobre as limitações do sistema econômico capitalista que tem incentivado a produção ilimitada de riquezas, à custa da espoliação humana e da devastação ambiental. Frente aos desastres sociais, ambientais e culturais, o coletivo propôs a adoção dos princípios da ecologia integral, que implica a busca de um equilíbrio entre as dimensões econômicas, sociais, culturais e políticas. Somente através deste equilíbrio podemos proteger as condições necessárias para a vida no planeta.

A prevalência da busca do lucro e do ímpeto economicista sobre as outras dimensões tem causado graves problemas sociais e o colapso do planeta. Para os participantes da X Tribuna das Águas, as mudanças climáticas são resultados da ação individualista e gananciosa do ser humano que não se compromete com o bem comum nem com os Direitos da Natureza. Nesta dinâmica, as instituições e empresas públicas são desvalorizadas e desmontadas em nome da iniciativa privada que promete eficiência e responsabilidade, mas na prática não chegam a cumprir com tais expectativas. Assim, a devastação das águas é consequência direta da atuação do agronegócio, da mineração, da construção de hidrelétricas, do garimpo ilegal, do assoreamento dos rios, do desmatamento e outras atividades predatórias.

Tribuna destacou a falta de água potável em vários países, no Brasil e na Amazônia. Um dos palestrantes frisou que quando há água potável ela se apresenta com baixa qualidade prejudicando os consumidores populações vulneráveis. Esta situação tem gerado graves conflitos entre países, grandes empresas e cidadãos. Diante disto, é urgente que os poderes públicos se empenhem na universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, superando a ideologia da privatização que já tem mostrado a sua inviabilidade em vários países do mundo, inclusive na cidade de Manaus.

Segundo a liderança, a agricultura, o agronegócio e os conglomerados internacionais são os que se apropriam da maioria das águas, não pagando impostos ou recebendo múltiplos benefícios fiscais sem oferecer serviços de qualidade e ainda contribuindo com a poluição dos corpos hídricos. Outra liderança alerta para que a sociedade no seu conjunto faça a sua parte na construção de um mundo mais harmônico. Neste sentido, é necessário que cada pessoa dê a sua colaboração neste processo de transformação global. Não é possível admitir a omissão dos poderes públicos e das agências reguladores neste combate às mudanças climáticas sob o risco do desaparecimento da vida no planeta.

Outras lideranças destacaram a importância da educação ambiental, não somente para resolver o problema das águas, mas também para curar as feridas da terra. Ações que incentivam a reciclagem devem ser multiplicadas em todas as partes do país, sobretudo no seu aspecto mais prático. Para isso, seria necessário criar órgãos e departamentos públicos com responsabilidade direta sobre as questões ambientais, incluindo a reciclagem, a compostagem e a limpeza pública. A preservação dos rios e igarapés depende desta educação ambiental que implica o envolvimento de todos.

Os participantes da Tribuna das Águas também se mostraram preocupados com as estiagens que se abateram no território amazônico nos últimos anos. São fenômenos com os quais a população não está acostumada, promovendo desespero e preocupação com as gerações futuras. Os efeitos das secas nas cidades, nas florestas, nas águas não deixaram ninguém intacto, necessitando que as autoridades públicas tomem medidas de prevenção e cuidados com os rios da região. Para estes palestrantes é urgente que os debates e boas práticas sejam adotadas nas escolas, praças, universidades, empresas, movimentos sociais e órgãos públicos visando sensibilizar o máximo a sociedade sobre a gravidade da problemática.

A mobilização também chamou a atenção dos conflitos no Oriente Médio, envolvendo Israel, Palestina, Irã e Estados Unidos da América. Os participantes demonstraram indignação pela violência praticada na região e incentivada pela maior potência mundial a partir de ações irresponsáveis do governo de extrema-direita liderado por Donald Trump. Em uma só voz, os presentes externaram sua posição com o grito: “Do rio ao mar Palestina livre já”. Vidas inocentes não podem ser perdidas por motivos tão mesquinhos. É necessário o envolvimento de todos para a construção da paz mundial!

A Tribuna das Águas também fez referência à Conferência Municipal das Cidades, que estava acontecendo na Universidade Estadual do Amazonas. No evento, representantes de todos os setores da sociedade manauense fizeram propostas de políticas públicas visando construir uma cidade mais justa, democrática e sustentável.

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