19 Março 2025
"Certa vez, comemorando o aniversário do levante de 1959, eu disse aos meus compatriotas que, embora tivéssemos que nos opor às ações da China comunista, eu jamais poderia odiar o povo chinês. Acrescentei que, especialmente sob a perspectiva de nossa luta pela liberdade, o ódio por um povo inteiro seria uma fraqueza, não uma força. Também os lembrei das palavras de Buda: o ódio só gera mais ódio", escreve Dalai Lama, mais alto líder espiritual do budismo tibetano, em artigo publicado por La Lettura, 16-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os sofrimentos e os problemas são uma parte inevitável da vida humana; a questão é como lidamos com eles. Quando o sofrimento é causado por desastres naturais, geralmente conseguimos gerir a dor sem ceder ao derrotismo ou à amargura. Tragédias desse tipo também fazem aflorar o melhor da humanidade, e as pessoas reagem naturalmente com compaixão. Por outro lado, há o sofrimento causado pelo homem, cuja causa direta somos nós, seres humanos. Esse tipo de sofrimento é mais difícil de suportar e sua gestão exige mais força de nossa parte. Há o risco de ceder ao desespero e ao ódio, ou de responder à violência com mais violência.
Infelizmente, nós, seres humanos, tendemos a repetir esse ciclo em continuação. O segredo é nunca perder de vista nossa humanidade comum, compartilhada por aqueles que cometem o crime, por aqueles que o sofrem e até mesmo por nós. É exatamente por esse motivo que sempre exortei os meus compatriotas a tomar cuidado com o ódio contra os chineses. Certa vez, comemorando o aniversário do levante de 1959, eu disse aos meus compatriotas que, embora tivéssemos que nos opor às ações da China comunista, eu jamais poderia odiar o povo chinês. Acrescentei que, especialmente sob a perspectiva de nossa luta pela liberdade, o ódio por um povo inteiro seria uma fraqueza, não uma força.
Também os lembrei das palavras de Buda: o ódio só gera mais ódio. E isso não é um simples ensinamento espiritual, mas um conselho prático. Eu realmente acredito que, por mais nobre que possa ser uma causa, um movimento enraizado no ódio destrói a própria base sobre a qual construir uma solução duradoura para o futuro. De fato, os ensinamentos budistas enfatizam a importância de considerar os adversários – aqueles que criam problemas para nós – como mestres espirituais, pois, independentemente de suas intenções, eles nos oferecem a oportunidade de praticar a paciência e a compaixão. Os adversários são os mestres mais preciosos, é um fato demonstrável: os amigos podem nos ajudar de muitas maneiras, mas são os adversários que nos desafiam, levando-nos a desenvolver as virtudes essenciais para cultivar a paz interior e alcançar a verdadeira felicidade.