25 Fevereiro 2025
Mesmo se conflito acabasse hoje, pacientes seguiriam precisando de assistência por muito tempo.
A informação é da assessoria de comunicação da Médicos Sem Fronteiras.
Três anos após a invasão da Ucrânia pelas forças russas, que intensificou dramaticamente o conflito armado iniciado em 2014, as pessoas continuam sofrendo as consequências devastadoras da guerra. Os impactos são visíveis na perda de vidas, no grande número de pessoas mutiladas e na destruição de seus lares. As necessidades humanitárias médicas resultantes são mais evidentes do que nunca. A pressão sobre os serviços médicos da Ucrânia só aumentou, agravada pelos frequentes ataques a hospitais, ambulâncias e estruturas médicas.
Desde 2022, Médicos Sem Fronteiras tem atendido mais pacientes com traumas relacionados à guerra que precisam de reabilitação precoce, ou seja, fisioterapia pós-amputação. Há também um aumento no número de pacientes que necessitam de tratamento para transtorno de estresse pós-traumático. Em áreas próximas às linhas de frente, os bombardeios diários significam que alguns dos mais vulneráveis, incluindo idosos e pessoas com doenças crônicas, têm acesso extremamente limitado a cuidados médicos.
MSF administra um projeto de reabilitação precoce com centros em Cherkasy e Odesa, onde os pacientes recebem fisioterapia pós-operatória, apoio em saúde mental e cuidados de enfermagem após traumas violentos. A organização tratou 755 pacientes em 2023 e 2024. De um ano para o outro, houve um aumento de 10% no número de pacientes que necessitaram de cuidados pós-operatórios para amputações de pernas.
Em 2024, metade dos pacientes do projeto foram diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático ou depressão. A necessidade de suporte em saúde mental na Ucrânia é significativa. Além dos centros em Cherkasy e Odesa, MSF estabeleceu um projeto focado em transtorno de estresse pós-traumático em Vinnytsia.
“A ferocidade desta guerra não diminuiu, e as necessidades humanitárias médicas só se tornaram mais complexas”, afirmou Thomas Marchese, coordenador de programas de Médicos Sem Fronteiras na Ucrânia. “Mesmo que a guerra acabe amanhã, centenas de milhares de pessoas precisarão de anos de fisioterapia de longo prazo ou de apoio psicológico para transtorno de estresse pós-traumático. Garantir esse cuidado exige um compromisso humanitário contínuo”, lembrou ele.
Atualmente, o sistema de saúde da Ucrânia enfrenta uma pressão imensa, equilibrando respostas emergenciais com as necessidades contínuas dos pacientes afetados pela guerra. Durante três anos, ataques diários com drones e mísseis têm ocorrido, em alguns casos atingindo cidades a mais de 1.000 km da linha de frente. As instalações médicas e os sistemas de saúde foram forçados a se adaptar ao tratamento de pacientes em abrigos subterrâneos ou porões, além de lidarem com cortes frequentes de energia causados por ataques à infraestrutura energética.
Em resposta a essa situação, MSF opera ambulâncias para transferir pacientes de hospitais sobrecarregados próximos à linha de frente para instalações médicas em regiões no centro e oeste da Ucrânia com maior capacidade. Nos últimos três anos, as ambulâncias da organização transferiram mais de 25.000 pacientes, sendo que mais da metade sofreu ferimentos causados por traumas violentos.
Em 2024, as equipes de ambulâncias e clínicas móveis de MSF que trabalhavam perto das linhas de frente viram um aumento significativo nos encaminhamentos de pacientes com doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, diabetes e câncer. Em 2023, esses casos representavam 24% de todas as referências, subindo para 33% em 2024. No entanto, os bombardeios e ataques contínuos significam que o acesso das equipes de MSF não é garantido. Muitas das pessoas que vivem com doenças crônicas são idosas e têm mobilidade reduzida. Em algumas áreas, as pessoas começaram a viver em seus porões ou em bunkers, devido ao intenso bombardeio.
“Para algumas das pessoas mais vulneráveis, o deslocamento não é uma opção”, disse Marchese. “Nem todo mundo é capaz de deixar suas casas e começar sua vida novamente, mas os combates contínuos significam que essas pessoas são frequentemente impedidas de receber cuidados médicos, assim como as equipes médicas de MSF às vezes não conseguem viajar para certas áreas devido ao bombardeio contínuo”.
No momento em que a guerra na Ucrânia entra em seu quarto ano, as equipes de MSF testemunham diariamente o agravamento da crise humanitária médica. A força do sistema de saúde ucraniano diante da violência extrema é clara, mas a necessidade de cuidados médicos sustentados e apoio à saúde mental é maior do que nunca.
A infraestrutura da Ucrânia também sofreu danos massivos, com hospitais sendo diretamente atacados. Centenas de milhares de pessoas precisarão de cuidados, reabilitação e terapia contínuos para o trauma muito depois da última bomba cair. Médicos Sem Fronteiras continua trabalhando na Ucrânia, tanto perto da linha de frente quanto em outras áreas do país, mas mais apoio é necessário.