15 Janeiro 2025
"O convite para a Semana, que há muitos anos, eu diria que tradicionalmente, levava a assinatura de um bispo católico, de um metropolita ortodoxo e do presidente da FCEI, este ano é dirigido pelos representantes de um grande número de igrejas cristãs, creio que a mais ampla confluência que já registramos: católicos, ortodoxos, anglicanos, armênios, coptas, protestantes, evangélicos...", escreve Daniele Garrone, professor de Antigo Testamento na Faculdade Valdense de Teologia, em Roma, em artigo publicado por Riforma, 15-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos está prestes a começar. Agora é uma recorrência fixa, um compromisso que se renova. Das recorrências, tem todas as qualidades e limitações; qualidades e limitações andam juntas. Como protestantes, não podemos deixar de observar que este ano a Semana é vivida na esfera católica no âmbito de um Ano Santo proclamado, que, embora interpretado como ocasião de renovação espiritual e alimentado por referências bíblicas, ainda assim está ligado à concessão de indulgências e acentua o papel de mediação da Igreja de Roma. Por outro lado, no entanto, e apesar de tudo, nos encontraremos juntos, para olhar além e para cima, não para observar os cristãos que somos, mas para pedir para nos tornarmos os cristãos que ainda não somos.
Como de costume, as modalidades variarão de acordo com os lugares e os contextos. Não pode deixar de ser assim, em um país onde os cristãos de outras denominações que não a que continua sendo majoritária, apesar do altíssimo grau de secularização, somam pouco menos de um milhão, e isso graças aos numerosos ortodoxos que hoje são a segunda maior denominação cristã do país. Em alguns casos, os eventos da Semana terão sido preparados em conjunto por “conselhos de igrejas cristãs” ou redes ecumênicas ativas.
Em alguns casos, haverá trocas de púlpitos e, em alguns contextos, a Semana é apenas uma das oportunidades anuais de encontro, porque protestantes, evangélicos, ortodoxos e católicos têm hábitos bem consolidados de oração e reflexão comuns durante todo o ano. Uma tradução literária ecumênica do Novo Testamento será apresentada em breve e, mais uma vez, veremos como a leitura e o estudo da Bíblia são o solo mais arado e fecundo, talvez mais arado porque mais fecundo.
Este ano haverá algumas particularidades especiais, que gostaria de mencionar brevemente aqui. O convite para a Semana, que há muitos anos, eu diria que tradicionalmente, levava a assinatura de um bispo católico, de um metropolita ortodoxo e do presidente da FCEI, este ano é dirigido pelos representantes de um grande número de igrejas cristãs, creio que a mais ampla confluência que já registramos: católicos, ortodoxos, anglicanos, armênios, coptas, protestantes, evangélicos... Essa iniciativa surgiu da segunda “Conversa Espiritual entre as Igrejas Cristãs na Itália” promovida pela Conferência Episcopal Italiana. Isso me parece ser mais um passo significativo na direção de um caminho ecumênico tomado ao decidirmos juntos se algo será feito, o que será feito e como será feito.
No mesmo contexto, foi decidido realizar (em Nápoles, em 21 de janeiro) um encontro ecumênico nacional, cuja preparação contou com o envolvimento de um grande número de denominações cristãs presentes na cidade, incluindo todas as nossas. Pequenos sinais, mas ainda assim sinais, de que o ecumenismo não é uma atividade setorial especializada, prerrogativa de poucos interessados e eventualmente apaixonados, mas uma dimensão da tentativa de ser cristão hoje.
O ano de 2025 é também o aniversário da formulação do Credo Niceno (325, mil e setecentos anos), que está entre os textos nos quais todas as nossas famílias confessionais veem uma expressão completa e compartilhada da fé cristã.
O aniversário - em si mesmo um fato “exterior” - nos lembra, porém, de um fato essencial: a fé compartilhada no único Senhor não é o ponto final de nossas boas intenções de nos aceitar, concordar, nos reconhecer - como se a comunhão das igrejas fosse uma obra de diplomacia eclesial - mas o fundamento e o critério da palavra e da ação das igrejas, todas chamadas a receber e dar testemunho do amor de Deus em Cristo.
Como de costume, acima da Semana tem uma palavra bíblica, dessa vez a pergunta que Jesus faz a Marta na narrativa da ressurreição de Lázaro: “Tu crês nisso?” (João 11,26).
Este é o verdadeiro desafio deste ano: colocar a fé no centro do nosso encontro, em um tempo em que parece que cada vez mais o discurso dos cristãos se reduz à ética, ao convite para tentar ser mais bom, ao nos questionar “o que podemos fazer”, porque na realidade escapamos do desafio de descobrir e dizer o que Deus fez e está fazendo pelo mundo e por nós. Tenham uma boa semana.
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Os cristãos que ainda não somos. Artigo de Daniele Garrone - Instituto Humanitas Unisinos - IHU