08 Novembro 2024
O artigo é de Consuelo Vélez, teóloga colombiana, publicado por Religión Digital, 06-10-2024.
Ele também disse em sua instrução:
“Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Marcos 12, 38-44).
Jesus ensina os valores do reino e o faz com exemplos fáceis de entender e que são evidentes em seu entorno. No evangelho de hoje, Jesus apresenta o contraste entre dois personagens: os escribas e uma viúva pobre. Dos primeiros, faz uma forte crítica: eles desfilam com amplas vestes, querem ser saudados nas praças e ocupar os primeiros lugares. Todas essas atitudes são as que garantem a honra na sociedade do tempo de Jesus e, guardadas as diferenças de contexto, continuam sendo atitudes que garantem a importância das pessoas na sociedade atual. Jesus olha tudo isso com desconfiança. A “honra”, tão importante para a sociedade judaica, não cabe entre os valores do reino. O valor importante é o de “servir”, como Jesus disse tantas vezes a seus discípulos. Além disso, Jesus denuncia o comportamento dos escribas: devoram os bens das viúvas sob o pretexto de longas orações. Esta atitude não é estranha hoje em dia, frente a tantas fraudes que, em nome de Deus, são cometidas por alguns pregadores e negociantes da fé.
Mas voltemos ao texto. Jesus, após reprovar essa conduta dos escribas, senta-se diante do cofre das esmolas do templo e faz um julgamento crítico sobre o que acontece ali: certamente, muitos ricos vão e colocam muito dinheiro. Mas a viúva pobre (pode-se pensar que é uma dessas viúvas enganadas pelos escribas ou uma das mulheres viúvas que ficavam totalmente desamparadas após a morte do marido) oferece tudo o que tem para viver. Jesus se refere à moeda de menor valor da época e é esta que a mulher deposita no cofre. Com esse contraste, Jesus mostra o verdadeiro significado de compartilhar bens, que em nosso contexto poderíamos interpretar como dar do que sobra ou dar do pouco que se tem.
No primeiro caso, não há uma solidariedade efetiva. Se lhe sobrava, é porque estava acumulando algo que não lhe pertencia ou vivia na dependência de acumular e possuir, convencido de que nisso reside a felicidade. A verdadeira solidariedade é a da viúva, que sabe dar e se dar, repartir e compartilhar. A solidariedade não se mede pelo excesso de bens doados, mas pela capacidade de sentir a situação do outro e se solidarizar com ela.
Agora, esses exemplos não se referem a temas para serem considerados, mas a atitudes que devem ser vividas pelos discípulos de Jesus. A eles, Jesus se dirige no fim do texto e lhes mostra com fatos reais em que consiste o verdadeiro discipulado. Nem honrarias, nem prestígio, como no caso dos escribas. Nem vanglória por muitas riquezas, usando-as também para ser louvado, como no caso dos ricos. O discipulado segue a linha daquela viúva pobre que dá o que tem para viver porque seu amor é efetivo, sua solidariedade é profunda.
Se no domingo passado o evangelho nos mostrou que o escriba que dialoga com Jesus sabia que o primeiro mandamento era amar a Deus e ao próximo, neste, ele nos mostra que é a viúva que não “sabe”, mas “faz” e, nisso, consiste o verdadeiro discipulado. As obras são as que testemunham quem somos, as que mostram que nosso seguimento realmente é guiado pelos valores do reino.
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Uma viúva pobre como exemplo de discipulado. Artigo de Consuelo Vélez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU