24 Outubro 2024
Câmara de Conciliação do CNJ intermediou acordo para que fazendeiro respeitasse os limites da retomada ao pulverizar lavoura. Este é o segundo caso em menos de uma semana
A reportagem é da Assessoria de Comunicação do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, 23-10-2024.
A retomada tekoha Yvyju Avary voltou a ser atingida na manhã desta quarta-feira (23) por agrotóxicos pulverizados pelos tratores da fazenda sobreposta ao território tradicional Avá-Guarani. Situada nos limites da Terra Indígena Guasu Guavirá, entre os municípios de Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná, a área sofreu ataque no último dia 17. Na ocasião, além de atirar contra os indígenas da aldeia, o bando armado também despejou veneno sobre a comunidade.
Conforme a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), em face da opção dos ocupantes não indígenas pelos ataques químicos contra a comunidade, o desembargador Fernando Prazes, da Câmara de Conciliação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), intermediou um acordo entre as partes para que o fazendeiro respeitasse os limites da retomada e passasse os agrotóxicos na lavoura apenas com a presença da Força Nacional e longe das moradias e espaços de circulação dos Avá-Guarani. O bando, escoltado pela Polícia Militar (PM), tentou retirar as marcações dos limites.
“Estamos em guerra, essa é a verdade. O fazendeiro não respeita os acordos. Mais uma vez ele jogou veneno nas nossas casas e não fez isso com a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), mas os tratores foram escoltados pela Tropa de Choque da Polícia Militar. Dr. Fernando veio e mostrou os limites, mas ele não respeitou isso”, declarou um indígena de Yvyju Avary – não identificada por razões de segurança. Os indígenas denunciam ainda que pessoas não identificadas estão deixando doces supostamente envenenados em ponto de ônibus com circulação de crianças e jovens Avá-Guarani.
Para a CGY, a Polícia Militar segue fazendo segurança privada sob as vistas do Estado. “Tem a Força Nacional aqui para cuidar da segurança, mas a Polícia Militar vive entrando na área. Não confiamos porque já nos tacaram, já atiraram contra a gente. Precisa que a Polícia Militar não venha mais, seja retirada da Terra Indígena”, ressalta o indígena. Ele salienta que apesar da situação, a comunidade não irá se retirar da retomada.
A TI Guasu Guavirá tem o Relatório Circunstanciado de Delimitação e Identificação (RCDI) publicado desde 2018, mas a demarcação propriamente dita está paralisada. São cerca de 21 tekohas e sete retomadas, entre elas Yvyju Avary, em três áreas que juntas contabilizam 24 mil hectares de território tradicional reivindicado. A violência contra as retomadas teve uma escalada neste ano a partir de uma série de ataques iniciados no final de 2023.
Desde julho, as comunidades da TI Tekoha Guasu Guavirá sofreram uma série de ataques armados, que deixaram barracos destruídos, pelo menos dois indígenas feridos por atropelamentos propositais e sete por disparos de arma de fogo, quatro com mais gravidade. A violência contra as comunidades motivou a manutenção a Força Nacional na região, além de idas de autoridades do governo federal e de uma Missão de Direitos Humanos ao território.
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Escoltados pela Polícia Militar do Paraná, tratores pulverizam veneno sobre retomada Avá-Guarani e atropelam conciliação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU