18 Setembro 2024
A explosão simultânea dos sinais sonoros de milhares de membros do Hezbollah no Líbano parece ser o resultado de uma infiltração na cadeia logística do movimento islâmico pró-iraniano e constituiria - em princípio - um sucesso para os serviços secretos isralenses.
A reportagem é de Daphne Benoit, publicada por AFP, e reproduzida por Página|12, 18-09-2024.
Uma fonte próxima ao Hezbollah disse à AFP que “os pagers (um dispositivo de mensagens) que explodiram dizem respeito a um carregamento recentemente importado pelo Hezbollah de mil dispositivos”, que parecem ter sido “hackeados na fonte”.
“De acordo com as gravações de vídeo, um pequeno explosivo plástico estava certamente escondido junto à bateria (dos pagers), para que pudesse ser ativado remotamente através do envio de uma mensagem”, considerou Charles Lister na rede social X, especialista no Instituto do Oriente Médio (MEI).
Segundo Lister, isto significa que a Mossad, o serviço de inteligência estrangeiro de Israel, “infiltrou-se na cadeia de abastecimento”.
Os agentes poderão ter-se "infiltrado no processo de produção e acrescentado aos pagers um componente explosivo e um detonador capaz de ser ativado remotamente, sem levantar suspeitas", afirmou o analista militar Elijah Magnier, radicado em Bruxelas, que aludiu a "uma grande falha de segurança nos protocolos do Hezbollah".
“Seja fazendo-se passar por fornecedor ou incorporando o equipamento manipulado diretamente na cadeia logística do Hezbollah através de seus pontos de vulnerabilidade (caminhões de transporte, navios mercantes), eles conseguiram distribuir os bipes dentro da organização”, disse Mike DiMino, especialista em segurança e ex-CIA analista.
Outra hipótese, segundo Riad Kahwaji, analista de segurança radicado em Dubai, seria que, como “Israel controla grande parte das indústrias eletrônicas do mundo, talvez uma das fábricas que possui tenha fabricado e enviado aqueles dispositivos explosivos que explodiram hoje”.
Esta operação, um ataque cibernético sofisticado mas com ferramentas muito antiquadas, representaria um novo sucesso espetacular para os serviços israelenses, após o assassinato em Teerã, no fim de julho, do líder político do movimento islâmico palestiniano Hamas, Ismail Haniyeh.
Segundo o New York Times, naquela ocasião uma bomba havia sido escondida dois meses antes no prédio.
O especialista Mike DiMino considerou as explosões de terça-feira “uma operação clássica de sabotagem, o trabalho dos serviços de inteligência no seu melhor”.
“Organizar adequadamente uma operação dessa magnitude leva meses, senão anos”, acrescentou DiMino na rede social X.
A explosão dos sinais sonoros ocorreu num contexto de tensões crescentes entre Israel e o Hezbollah, um aliado do Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou esta terça-feira que o regresso dos residentes do norte do país, que tiveram de abandonar as suas casas devido aos tiroteios transfronteiriços do Hezbollah, é um dos objetivos do seu governo.
O ataque “radical” de terça-feira, “realizado com equipamento muito básico, provavelmente aumentará o estresse e o constrangimento dos líderes do” movimento libanês, comentou o ex-agente de inteligência israelense Avi Melamed.
A explosão deixou 11 mortos e quase 4.000 feridos, incluindo 200 gravemente. Entre as vítimas estão os filhos de dois deputados do Hezbollah e um embaixador ficou ferido. O governo libanês confirmou que os pagers chegaram recentemente ao país.
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Caos no Líbano: como a sabotagem de pagers deixou 11 mortos e 4.000 feridos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU