08 Agosto 2024
"Como escreve o Papa, um bom livro abre a mente, estimula o coração, treina para a vida", escreve Mimmo Muolo, vaticanista italiano, em artigo publicado por Avvenire, 07-08-2024. A tradução é de Luiza Rabolini.
Em sua mensagem dirigida aos seminaristas, mas também aos agentes pastorais e a todos os batizados, o Papa recorda o valor da leitura de romances e poemas na formação de cristãos capazes de dialogar com a cultura e as pessoas do próprio tempo.
Na formação dos seminaristas – mas, de forma mais geral, de cada bom cristão e especialmente dos agentes pastorais – a literatura não pode faltar. Porque, como escreve o Papa, um bom livro abre a mente, estimula o coração, treina para a vida. Francisco, que sempre se mostrou atento aos escritores e poetas, frequentemente citados também em seus discursos e documentos, decidiu dedicar um texto ao tema. A "Carta sobre o papel da literatura na formação", escrita em 17 de julho, foi publicada no domingo, 4 de agosto, possivelmente para inseri-la no clima de férias deste período.
"Muitas vezes", lembra o Pontífice, "no tédio das férias, no calor e na solidão de alguns bairros desertos, encontrar um bom livro para ler se torna um oásis que nos afasta de outras escolhas que não são boas para nós. Além disso, há os momentos de cansaço, de raiva, de decepção, de fracasso, e quando nem mesmo na oração conseguimos encontrar a quietude da alma, um bom livro pelo menos nos ajuda a enfrentar a tempestade, até que possamos ter um pouco mais de serenidade. E talvez essa leitura abra novos espaços interiores que nos ajudem a evitar um fechamento naquelas poucas ideias obsessivas que nos aprisionam de forma inexorável. Antes da onipresença das mídias, das redes sociais, dos celulares e de outros dispositivos, essa era uma experiência frequente, e aqueles que a vivenciaram sabem bem do que estou falando". Mas mesmo hoje, o Papa nos lembra, "não se trata de algo ultrapassado".
Com relação aos seminários, em particular, é bom, segundo Francisco, "que se dedique tempo à literatura, a momentos de serena e gratuita leitura, para falar sobre esses livros, novos ou antigos, que continuam a nos dizer tantas coisas". No entanto, lamenta o Papa, "é preciso, com pesar, constatar que no percurso formativo daqueles que estão a caminho do ministério ordenado, a atenção à literatura não encontra atualmente um lugar adequado. Esta última é frequentemente considerada, de fato, como uma forma de entretenimento, ou seja, como uma expressão menor da cultura que não pertence ao caminho de preparação e, portanto, à experiência pastoral concreta dos futuros sacerdotes". Com poucas exceções, observa o Pontífice, "a atenção à literatura é considerada como algo não essencial".
Para o Papa Bergoglio, que em sua juventude também foi amigo do grande poeta argentino José Luis Borges, "essa abordagem não é boa. Está na origem de uma forma de grave empobrecimento intelectual e espiritual dos futuros sacerdotes, que ficam assim privados de um acesso privilegiado, por meio da literatura, ao coração da cultura humana e, mais especificamente, ao coração do ser humano".
De fato, "para um crente que deseja sinceramente entrar em diálogo com a cultura de seu tempo, ou simplesmente com a vida das pessoas concretas, a literatura se torna indispensável", observa Francisco. Também porque "a literatura se inspira na cotidianidade da vida, nas suas paixões e nos seus acontecimentos reais". Portanto, ressalta o Pontífice, "como podemos chegar ao cerne das culturas antigas e novas se ignorarmos, descartarmos e/ou silenciarmos seus símbolos, mensagens, criações e narrativas com as quais capturaram e quiseram desvendar e evocar seus mais belos feitos e ideais, bem como suas mais profundas violências, medos e paixões? Como podemos falar ao coração dos homens se ignoramos, relegamos ou não valorizamos "aquelas palavras" com as quais quiseram manifestar e, por que não, revelar o drama de suas vidas e sentimentos por meio de romances e poemas?"
Em essência, com os livros como companheiros de viagem, os futuros pastores poderão levar às pessoas um Cristo feito carne. O Papa lembrou que, durante seus anos de sua docência em uma escola jesuíta em Santa Fé, teve que estudar El Cid, mas os alunos pediam para ler García Lorca. "Então decidi que estudariam El Cid em casa, e durante as aulas eu trataria dos autores que os alunos mais gostavam". Dessa forma, os estimulou a passar para outros autores. Da mesma forma, nunca se deve perder de vista "a 'carne' de Jesus Cristo". Aquela carne "feita de paixões, emoções, sentimentos, histórias concretas, mãos que tocam e curam, olhares que libertam e encorajam, hospitalidade, perdão, indignação, coragem, intrepidez: em uma palavra, amor". Por essa razão, enfatiza Francisco, "uma assídua frequência à literatura pode tornar os futuros sacerdotes e todos os agentes pastorais ainda mais sensíveis à plena humanidade de Cristo, na qual sua divindade é plenamente derramada". Em última análise, a literatura serve "a propiciar uma eficaz experiência de vida". E assim, "ao ler um texto literário", vemos através dos olhos dos outros, "descobrimos que o que sentimos é universal" e ficamos menos sozinhos.
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Francisco: a literatura nos abre aos outros e nos torna mais sensíveis à humanidade de Cristo. Artigo de Mimmo Muolo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU