E Mandela dançou. Artigo de Edelberto Behs

Foto: Wikimedia Commons

18 Julho 2024

Hoje, 18 de julho, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra o Dia Internacional Nelson Mandela, lembrando a data de nascimento do líder sul-africano em Mvezo, no ano de 1918.

O artigo é de Edelberto Behs, jornalista.

Eis o artigo.

Em 5 de agosto de 1962, o regime de apartheid da África do Sul prendia Mandela, mantendo-o 27 anos na prisão. Que têmpora uma pessoa precisa ter para ficar tanto tempo aprisionado e ainda assim manter viva a chama pela libertação do povo negro das presas do apartheid. E ainda assim declarar: "Não olhe para o outro lado; não hesite. Reconheça que o mundo está faminto por ação, não por palavras. Aja com coragem e visão."

Eu estive com Mandela, que compareceu à Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) reunida na Universidade de Harare, no Zimbabwe, em 1998. O que é que esse combatente antiapartheid foi fazer num encontro de igrejas?

Uma multinacional do petróleo fornecia óleo diesel subsidiado ao exército da África do Sul, força que oprimia e pisoteava o povo negro do país, quando não matava os seus líderes. O CMI decidiu, então, promover um boicote aos produtos da Shell em toda a Europa, além de prestar ajuda humanitária ao povo majoritário da África do Sul, quando foi acusada de apoiar as forças rebeldes que lutavam contra o apartheid.

De início, a multinacional pouco se importou com a ação do CMI. O panorama mudou, porém, quando o boicote começou a fazer efeito, a tal ponto que a empresa teve que rever a sua política. Mandela foi especialmente a Harare para agradecer ao CMI pelo apoio que prestou à luta antiapartheid.

Depois do discurso de agradecimento, Mandela subiu ao palco do salão nobre da Universidade de Harare e postou-se junto a um coral da África do Sul, presente na ocasião, que empolgou a plateia de delegados e delegadas à Assembleia com seus tons envolventes, fazendo o povo se mexer.

E Mandela, então com 80 anos de idade, dançou, com sorriso aberto no rosto, remelexo e movimento das mãos. Foi, sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes que passei entre tantos outros como profissional, ao ser enviado para cobrir o evento.

Nelson Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Ele faleceu em 2013.

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