02 Julho 2024
Com o coração entristecido e grato a Deus por ter conhecido e convivido com Matilde Cechin (nascida em 05/11/1936, uma entre os quinze filhos de pais pobres que trabalhavam na chácara dos maristas em Santa Maria, falecida em 01-07-2024, em Caçapava do Sul, RS aos 87 anos).
O texto é publicado nas redes sociais, 01-07-2024.
Eminente educadora popular e professora da Unisinos, ela começou seu trabalho de Educação nos moldes freireanos dentro da perspectiva da teologia das mulheres pobres e organizando-as em Clube de Mães. Ela explica: passou a “dar uma metodologia” ao trabalho do irmão (Antônio Cechin). A respeito da atuação das mulheres, Matilde escreveu: "o Evangelho entrou em nosso continente através de duas vertentes: a Missão [por meio das instituições religiosas] e a Devoção [desenvolvida pelo povo]. [...] Na esfera devocional, coube à mulher transmitir de geração em geração [...] as primeiras orações, juntamente com as primeiras práticas e representações religiosas. Daí ter sido ela a propulsora principal do Catolicismo Popular" (CECHIN, 1990b, p. 8).
Se entendemos que as mulheres têm papel-chave na dinâmica das Comunidades Eclesiais de Base (como, por sinal, sempre tiveram na história da Igreja), vemos que Matilde é figura central no desencadeamento dessas ações femininas. É ela quem coloca o “fermento”, ao enfatizar que o comportamento das mulheres é comunitário, agrega pessoas e contribui para o “jeito novo de ser Igreja” (as CEBs, a Igreja enraizada nas comunidades).
Em Canoas, Matilde Cechin enfatizou as práticas das mulheres do bairro, as quais se reuniam nas suas casas, formavam Clubes de Mães e, na sequência, Comunidades Eclesiais de Base. Como é o caso de dona Erondina (viúva recém-chegada do interior, com filhos) que reuniu mulheres para fazer acolchoados de trapos, na sua casa, e com isso deu origem à Comunidade N. S. do Perpétuo Socorro, na Vila Santo Operário (CECHIN, 1990b, p. 11).
São mulheres que, na perspectiva de nossos agentes religiosos, tiveram o “fogo comunitário despertado por Maria, seguidora fiel dos apelos do Espírito Santo”. Uma mística religiosa que acompanha os textos e depoimentos produzidos por Irmão Antônio e por Matilde, e que registramos certos de que eles formam uma das matrizes do movimento comunitário que proporcionou a ocupação de terras na Mathias Velho, a partir do Natal de 1979.
Articulou o livro de memórias de seu irmão Antonio Cecchin. Tomou parte do Grupo Emaús, durante anos com seu irmão Antônio. Enxergamos na professora Matilde aquela que estabeleceu a metodologia capaz de congregar as pessoas e criar os passos de ações efetivas, de caráter religioso e político. Reunia-se com alegria profunda com moradores/as das periferias da região metropolitana – particularmente do bairro Mathias Velho. São mulheres e crianças na sua maioria – mães, esposas e filhos de trabalhadores, muitos deles sem qualificação profissional que alimentam sua esperança nas palavras e toques suaves de Matilde.
O Irmão Antonio Cecchin faleceu em 10-11-2016 aos 89 anos. Podemos afirmar com toda certeza que se o Evangelho chegou aos confins das terras siberianas pelas mãos e palavra e escrita cirílica por dois irmãos, Cirilo e Metodio, agora se poderá afirmar que a boa-noticia de Jesus que primeiro se levantou nas terras gaúchas pela voz de São Sepé Tiaraju em tempos atuais a mensagem da liberdade se encarnou nas ilhas de Porto Alegre entre os papeleiros e ecologistas gaúchos, pelas palavras e testemunho de dois santos irmãos Antonio e Matilde Cecchin. Orate pro nobis. Fraternidade ativa na terra e hoje nos céus.
– CECHIN, Matilde. A mulher na Igreja. In: Clareando, [POA] Regional Sul 3 / CNBB, nº 242, nov. 1990b, p. 7-13.
– ANTÔNIO CECHIN: 80 ANOS. (Revista do Instituto Humanitas Unisinos, 11 jun 2007) Acesso 20 / 07 / 2012.
– Biografia de Antonio Cecchin: Seguindo o caminho em busca da Terra Sem Males. Documentário sobre o esforço missionário de Antônio Cecchin junto aos catadores das ilhas do Guaíba, aos índios de São Gabriel e aos sem-terra em geral. 800 páginas.
Organizado por sua irmã Matilde Cecchin, e pelo Centro de Editoração Marista, o livro recebeu uma edição gráfica primorosa de Clô Barcellos, fundadora da Editora Libretos, que lhe deu o aspecto dinâmico de um jornal. É um calhamaço de dois quilos vendido a R$ 40 nas bancas da Entrelivros e da Palmarinca. Uma verdadeira biblioteca da solidariedade.
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Matilde Cechin, apóstola das mulheres pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU