13 Abril 2024
“Liberdade” e “universidade” são sinônimos desde o início: mas é uma liberdade que foi conquistada fatigantemente e que, depois, teve que ser sempre defendida, ao longo dos séculos, de poderes mutáveis, mas sempre desconfiados e impacientes com quem se dedicava sobretudo ao conhecimento.
O comentário é do historiador da arte Tomaso Montanari, professor da Universidade Federico II de Nápoles. O artigo foi publicado no caderno Il Venerdì, do jornal La Repubblica, 12-04-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É graças aos túmulos dos professores universitários do século XIV, especialmente de Bolonha, que podemos “ver” uma aula acadêmica medieval. Neste caso maravilhoso, perdemos a placa de mármore com o professor na cátedra, mas conservamos a de seu auditório: concentrado, encantado, sonhador.
Pierpaolo e Jacobello Dalle Masegne, “Estudantes universitários em aula”, fragmento do túmulo de Giovanni da Legnano, anteriormente em San Domenico em Bolonha. Mármore de Carrara, 1385, Museu Cívico Medieval de Bolonha (Fonte: Wikimedia)
Giovanni da Legnano certamente era um grande jurista e um professor de habilidade consumada: mas o que vemos é apenas uma das facetas da vida universitária, que certamente não ocorria apenas dentro da sala de aula.
De fato, as universidades, estas extraordinárias invenções medievais, nasceram sob a insígnia do conflito. As disputas jurídicas e as teológicas forçavam papas, imperadores e cidades a se servirem da consultoria de estudiosos, que, por sua vez, usavam sua relação com o poder para construir espaços de liberdade nos quais podiam formar outros estudiosos.
“Liberdade” e “universidade” são sinônimos desde o início: mas é uma liberdade que foi conquistada fatigantemente e que, depois, teve que ser sempre defendida, ao longo dos séculos, de poderes mutáveis, mas sempre desconfiados e impacientes com quem se dedicava sobretudo ao conhecimento.
Quando o poder político estadunidense queria forçá-lo a fazer o juramento macarthista contra o comunismo, o grande historiador Ernst Kantorowicz (que certamente não era de esquerda) escreveu que “há três profissões que têm o direito de usar uma toga: o juiz, o padre e o acadêmico. Essa veste atesta a maturidade mental de quem a veste, sua independência de julgamento e sua responsabilidade direta em relação à sua consciência. Deveriam ser as últimas profissões a aceitarem agir sob coação”.
Os estudantes medievais, que o escultor nos mostra tão educados e comportados, animavam a vida das cidades com comportamentos desregulados e muitas vezes tumultuosos, obrigando professores e reitores a lutarem com unhas e dentes para evitar que o poder se aproveitasse disso para impor um disciplinamento e um controle: precisamente aquela coação de que falava Kantorowicz.
É exatamente o que acontece na Itália hoje, quando as ainda tímidas manifestações de indignação das estudantes e dos estudantes pelo massacre na Palestina se tornam o pretexto para tentar impor controles, repressões, ortodoxias.
Mas, há mais de 1.000 anos, a universidade é completamente livre, ou não é. E, como laicíssimos santos padroeiros, os estudantes retratados no túmulo de Giovanni da Legnano zelam pela liberdade de seus sucessores, em sala de aula e fora dela.
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Universidade significa liberdade. Artigo de Tomaso Montanari - Instituto Humanitas Unisinos - IHU