29 Março 2024
Na sua celebração na noite de Quinta-feira Santa, a Igreja recorda a última ceia de Cristo, durante a qual Jesus institui a Eucaristia (segundo os três evangelhos sinóticos) e lava os pés dos discípulos (segundo o evangelho de João). É importante discernir essa diferença, porque os evangelhos sinópticos, os mais antigos, não falam do lava-pés e João não fala da Eucaristia. Desde o final do primeiro século, havia, portanto, uma diversidade à qual poderíamos nos inspirar hoje. Não é necessário, aliás é até contraindicado, exigir uma Igreja universal que pratique os mesmos ritos, utilize os mesmos textos, com um clero sujeito à mesma disciplina.
O comentário é de por Jacques Neirynck, publicado em baptises.fr, 28-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os dois ritos têm finalidades distintas.
A Eucaristia celebra a reunião da comunidade (a Igreja) em torno de Jesus e materializa-a com uma refeição, mais simbólica do que real. O lava-pés nos lembra que aquele que preside não exerce um poder, mas presta um serviço. De fato, o primeiro rito tomou todo o espaço e o segundo é reduzido à parcela congruente de uma única celebração por ano, e apenas alusiva.
É verdade que em todos os países do mundo as pessoas participam de refeições, enquanto lavar os pés é algo que diz respeito a um país quente onde se usam sandálias em solo poeirento... Seja como for, o clericalismo, doença da Igreja Católica segundo o Papa Francisco, não é contrariado pelo ritual habitual, por uma invocação repetida.
A importante comemoração da Quinta-feira Santa celebra, na realidade, nem mais nem menos, a criação de uma comunidade de fiéis reunidos em torno de um, denominado “celebrante”. A partir disso, é preciso voltar a construir uma Igreja Católica menos centralizada, mais ecumênica, menos organizada em termos de poder, mais fiel à mensagem inicial. É a obra iniciada pelo Concílio Vaticano II, mas que foi interrompida. Um indício entre outros para tal interrupção: a não aplicação das resoluções do Sínodo sobre a Amazônia sobre a ordenação de viri probati e sobre o diaconato feminino.
A celebração da Quinta-feira Santa deveria ajudar a Igreja a retornar à sua vocação inicial, apagando séculos de conivência com os poderes políticos, os hábitos mentais e regras ultrapassadas.
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Quinta-feira Santa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU