27 Março 2024
Numa celebração internacional, igrejas filiadas à Federação Luterana Mundial (FLM) parceiras ecumênicas nos Estados que fazem fronteira com o Rio Uruguai, questionaram a construção de barragens ao longo dessa via fluvial.
A reportagem é de Edelberto Behs.
No dia 9 de março, pastores e congregações das igrejas do Brasil, Argentina e Uruguai, contando ainda com a participação da Diocese de Santo Ângelo da Igreja Católica, reuniram-se perto de Porto Lucena (RS), onde o rio liga os dois países, para a VII Celebração Ecumênica Binacional pelos Rios Livres, já com vistas ao Dia Mundial da Água, 22 de março.
“Embora estejamos testemunhando agora a dor causada pelas mudanças nos ciclos naturais, trazendo morte e destruição de todos os lados e para todas as pessoas, e especialmente para a população socioeconômica desfavorecida, depositamos as nossas esperanças na cruz vazia, na ressurreição e na ‘Vida’ em abundância”, proclamou o pastor Fábio Rucks, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), na pregação do dia.
O Rio Uruguai tem cerca de 1,8 mil quilômetros de extensão e delineia parte da fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai. Seu principal uso econômico é a geração de energia elétrica. Ele abriga duas barragens: a de Salto Grande, na parte baixa do rio, concluída em 1979 e com um reservatório de 783 quilômetros quadrados, é compartilhado pela Argentina e pelo Uruguai; mais a montante, está a barragem de Itá, no Brasil, construída em 2000 e um reservatório de 141 quilômetros quadrados.
Há planos para a construção de mais duas megabarragens no Rio Uruguai, entre a Argentina e o Brasil, informa o serviço de imprensa da FLM. Trata-se da hidrelétrica Garabí-Panambi. Em 2015, o processo de aprovação ambiental da Usina Panambi foi suspenso por decisão judicial. “Esse foi um grande sucesso para o nosso trabalho de defesa de direitos”, disse Rucks.
Por que não querem a construção desse complexo? Porque além das consequências ambientais, explicou o pastor, essas barragens quase sempre impactam de modo negativo as pequenas famílias de agricultores, sem-terra, populações indígenas, pescadores, ribeirinhos, quilombolas, mas também a população da cidade.
Para que a água se torne um “instrumento para a paz”, a ONU Água apela para a gestão da água baseada nos direitos humanos. A campanha “Rios Livres”, tocada pelas igrejas luteranas Unida (Argentina/Uruguai), de La Plata (Argentina/Uruguai), IECLB e Diocese de Santo Ângelo, juntamente com o Movimento dos Atingidos por Barragens, luta pelo direito à terra dos grupos populacionais afetados por barragens e exige um modelo energético novo, alternativo e orientado para as pessoas.