14 Fevereiro 2024
"Se os custos evitáveis dos sistemas agroalimentares fossem reduzidos pela metade, por exemplo, já seria suficiente para propiciar uma alimentação mais saudável, para reduzir a degradação ambiental e para direcionar recursos para a transição energética e para a descarbonização da economia, medidas necessárias para se evitar um desastre climático de grandes proporções", escreve José Eustáquio Diniz Alves, Doutor em demografia, em artigo publicado por EcoDebate, 22-01-2024.
Existem grandes desperdícios e equívocos na produção global de alimentos, que contribui para o desequilíbrio do clima e a degradação dos recursos naturais, além da falta de difusão de dietas saudáveis.
Por isto, está cada vez mais difícil se atingir a meta global de fome zero e fazer a transição para a descarbonização da economia.
Os atuais sistemas agroalimentares representam enormes custos ocultos para a saúde, o meio ambiente e a sociedade. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no seu relatório anual sobre a “Situação mundial da alimentação e da agricultura” (2023) estimou um custo oculto de mais de US$ 10 trilhões por ano, o equivalente a 10% do PIB global.
Segundo a FAO, quase 73% dos custos ocultos estão relacionados com “dietas pouco saudáveis, com prevalência de alimentos ultraprocessados, gorduras e açúcares”, que afetam especialmente países de renda alta e média-alta. Essas dietas podem causar obesidade e doenças como a diabetes, que levam a perdas na produtividade do trabalho.
A FAO também estima que 22% dos custos ocultos estão ligados ao meio ambiente, considerando, em particular, as emissões de gases de efeito de estufa e de nitrogênio, as alterações no uso do solo (como o desmatamento) e o uso da água.
Se os custos evitáveis dos sistemas agroalimentares fossem reduzidos pela metade, por exemplo, já seria suficiente para propiciar uma alimentação mais saudável, para reduzir a degradação ambiental e para direcionar recursos para a transição energética e para a descarbonização da economia, medidas necessárias para se evitar um desastre climático de grandes proporções.
A FAO divulgou, em 02 de fevereiro de 2024, o Índice de Preços dos alimentares da FAO (FFPI) situou-se em 118,0 pontos em Janeiro de 2024, uma queda de 1,2 pontos em relação ao seu nível revisto de Dezembro, uma vez que as diminuições nos índices de preços dos cereais e da carne mais do que compensaram um aumento no índice de preços do açúcar, enquanto os de laticínios e óleos vegetais registraram apenas ligeiros ajustes. O índice situou-se 13,7 pontos abaixo do valor correspondente de há um ano.
Considerando os últimos 3 anos, o FFPI apresentou o mais alto valor dos últimos 100 anos, só comparável ao triênio 1973-75, quando os preços subiram rapidamente em função do choque do petróleo. Na década de 1990 o FFPI atingiu o seu valor mais baixo. Porém, a tendência é de aumento do preço dos alimentos nos anos 2000, pois são muitos fatores (conhecidos ou ocultos) que estão pressionando os custos diretos e indiretos.
Reprodução: EcoDebate
A época da comida barata acabou, pois existe uma demanda crescente por produtos dos sistemas agroalimentares, ao mesmo tempo que aumenta a degradação ecológica e se agrava a crise climática e ambiental. O mundo possui mais de 8 bilhões de pessoas para serem alimentadas, mas isto precisa ser feito de maneira saudável e com sustentabilidade ambiental.
ALVES, JED. Economia Ecológica e dinâmica demográfica global e nacional: cenários para o século XXI, ECOECO, 24/06/2021 https://www.youtube.com/watch?v=baxzJkmgazE
FAO. 2023. The State of Food and Agriculture 2023 – Revealing the true cost of food to transform agrifood systems. Rome. https://doi.org/10.4060/cc7724en
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os custos dos sistemas agroalimentares e o preço dos alimentos. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU