14 Dezembro 2023
Segundo professor de arquitetura e urbanismo, foram dadas licenças ambientais sem monitoramento e fiscalização.
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 12-12-2023.
O presidente Lula da Silva se reuniu, nesta terça-feira (12), com o governador de Alagoas Paulo Dantas e o prefeito de Maceió João Henrique Holanda Caldas, JHC, para tratar sobre o caso da Braskem na capital alagoana. O presidente da Câmara Arthur Lira e o senador Renan Calheiros, ambos de Alagoas, também participaram do encontro. A pauta da reunião foi a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para tratar do afundamento do solo em Maceió.
No último domingo (10), a mina de número 18 da Braskem rompeu no bairro Mutange. Como a área já estava isolada, não houve feridos, mas os danos socioambientais são diversos. Para falar sobre esse assunto, o programa Central do Brasil desta terça-feira conversou com Dilson Ferreira, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
“A água continua entrando na mina, sim existe o risco de colapso das outras minas que estão muito próximas, porque são 35 minas. Havendo isso formarão outras cratera e a conjunção dessas crateras podem se tornar um lago gigantesco colocando abaixo todo o bairro do Mutange, que já está afundando”, explicou o professor.
Uma exploração desenfreada e mal planejada foram algumas das razões para colocar a cidade de Maceió na atual situação, disse Ferreira. “Na década de 1960, encontraram jazidas de sal puro, o sal gema. Antes, na década de 1970, instalaram uma fábrica em um bairro chamado Pontal, que já foi um crime, pois ele está lá em cima de uma área de restinga e por 40 anos foram exploradas jazidas em uma área urbana, o que também já era uma coisa que não poderia ter sido feita. As licenças foram dadas e o monitoramento não foi feito, foram dadas licenças ambientais sem monitoramento e sem fiscalização”, pontua.
Ferreira afirmou que a Universidade Federal de Alagoas vem alertando desde a década de 1970 que a indústria não deveria ter sido instalada em Alagoas. “Essa extração toda foi feita em uma área urbana, onde tem cinco bairros e configura aproximadamente 20% da cidade de Maceió, ou seja, a gente suprimiu por conta desse crime 20% dos bairros dessa região toda, 200 mil pessoas afetadas, 14 mil imóveis desmobilizados, ou seja virou uma cidade fantasma”, acrescenta.
De acordo com o especialista, os bairros estarão condenados nas próximas décadas. “Estão condenados por pelo menos 20 anos, até que se estabilize ou não, ou que se transforme num grande parque, que é o que o governador do Estado de Alagoas quer”, afirma. Prejuízos ambientais após o rompimento da mina também são uma realidade do local, “a tendência é que se amplie a salinidade da Lagoa Mundaú e tenha sim prejuízo ao meio ambiente.”
O professor da UFAL também criticou a falta de dados sobre o funcionamento das minas. “Não existe uma base de dados sólida onde haja todos os dados das minas, dados científicos e dados de monitoramento hora a hora, onde a imprensa, os órgãos ambientais, a universidade e a sociedade tenham acesso e que tenham segurança. Não existe nada lá além das notas que a Defesa Civil emite para imprensa”, alerta.
“A universidade já vem fazendo uma crítica há mais de 10 anos sobre esse processo de exploração e a gente tem especialista na área que poderia dar uma contribuição, analisar esses dados e participar do processo de reconstrução desses bairros e de uma solução ambiental que viesse a resolver o problema, ou pelo menos mitigar esse problema”, lamenta.
A entrevista completa está disponível na edição desta terça-feira (12) do Central do Brasil no canal do Brasil de Fato no YouTube.
Assista agora ao programa completo:
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Crime da Braskem: “existe risco de colapso das outras minas”, alerta professor da UFAL - Instituto Humanitas Unisinos - IHU