01 Novembro 2023
Nestes tempos de violência e de ódio em todo o mundo, seguir a confiança de Santa Teresa de Lisieux é crucial para que o mundo recupere o equilíbrio, disse o bispo de Lisieux neste encerramento do mês de outubro, o mais movimentado na cidade francesa do norte da Normandia, terra natal da santa conhecida como “Pequena Flor”.
A reportagem é de Caroline De Sury, publicada em OSV News, 31-10-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Duas semanas após o lançamento da exortação apostólica do Papa Francisco “C’est la confiance” (“É a confiança”), publicada no dia 15 de outubro por ocasião do 150º aniversário do nascimento de Santa Teresinha do Menino Jesus, e em tempos de grande turbulência para o mundo, especialmente no Oriente Médio e na Ucrânia, Dom Jacques Habert, bispo de Bayeux-Lisieux, enfatizou que “Teresa falou da confiança no amor misericordioso de Deus”.
“Ela passou por muitos eventos difíceis e dolorosos ao longo de sua vida. Mas experimentou concretamente o amor e a misericórdia infinitos de Deus”, disse ele ao OSV News.
Para Habert, o papa, com sua exortação, quis chamar a atenção, por meio de Santa Teresa de Lisieux, “por um lado, à perseverança na oração, mesmo quando tentados pelo desânimo e pelo desespero, e, por outro lado, ao amor ao próximo, mesmo quando só podemos fazer coisas muito comuns, como quando Teresa cuidou de uma freira carmelita doente e um tanto irascível”, disse ele.
“Esse amor muito comum ao próximo é um caminho aberto a todos, incluindo os não-cristãos, em todas as circunstâncias”, acrescentou Habert. “É um caminho universal de encontro com Deus”, disse ele.
Em sua carta, o papa insiste que “o centro da moral cristã é a caridade, que é a resposta ao amor incondicional da Trindade”. Por conseguinte, disse o Santo Padre, “as obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito” [n. 48].
“Em última análise, só o amor importa”, escreveu Francisco. Foi para aí que Teresa “fixou o olhar e o coração” [n. 49].
“Não se trata de rebaixar as exigências morais da Igreja”, destacou Habert. “Quando Jesus disse que as prostitutas entrarão no reino de Deus antes de nós, ele não estava defendendo a prostituição.”
“Há coisas que nos ofendem, que nos chocam, que nos magoam, porque são ambíguas e erradas”, disse ele. “Mas, antes de julgar e condenar, devemos recordar a ‘síntese’ oferecida por Teresa, como disse o Papa Francisco: o centro da moral cristã é o amor misericordioso de Deus.”
“Hoje em dia, enfrentamos uma violência terrível”, continuou Habert. “Nesse contexto, o que Teresa pode nos dizer? O condenado [Henri] Pranzini, por quem ela rezava, também era um assassino terrível. O que ela diz é: diante da violência que nos assola, sejamos radicais no amor. Quando tudo está saindo fora de controle, procuremos realizar todos os pequenos atos de bondade que pudermos. Aí reside a fonte da alegria que rompe a espiral do medo e constrói confiança.”
O bispo falou enquanto o número de vítimas em Gaza ultrapassava 8.000 nos ataques de Israel em resposta aos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro, que mataram 1.400 no sul de Israel. Desde então, as tensões têm aumentado na França, com um ataque brutal no dia 13 de outubro contra um professor, Dominique Bernard, que foi esfaqueado até à morte por um jovem islâmico checheno radicalizado, em Arras, enquanto o Palácio de Versalhes e o Museu do Louvre eram evacuados após ameaças, e a França era posta em alerta vermelho após o incidente. Sete mil soldados foram destacados para todo o país, e a vigilância foi reforçada em torno das escolas.
Para Habert, há também muitos julgamentos e condenações em relação ao Sínodo que acabou de terminar em Roma.
“Não é um sínodo sobre questões do sacerdócio, do casamento ou da moral sexual e familiar. Seu objetivo não é tomar decisões desse tipo”, disse ele. “Seu objetivo é promover um estado de escuta e partilha mútuas, enraizado na oração e na convicção de que Deus é misericordioso. Isto nos permitirá enfrentar as situações que a Igreja tem à sua frente hoje. Aqui também precisamos ser confiantes e atenciosos.”
“São tempos difíceis e áridos”, observou Habert. “Na França, o número de padres tem caído drasticamente. Minha diocese tem hoje 15 paróquias, em vez de 150 como em 1990, e temos apenas um seminarista... Mas, assim como Teresa, tentamos seguir em frente com confiança.”
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Assim como Teresa, é preciso ser “radical no amor” diante da violência, diz bispo de Lisieux - Instituto Humanitas Unisinos - IHU