31 Julho 2023
"A batalha pelo meio ambiente, diante dos obstinados negacionismos de todo tipo, é a batalha das novas gerações", escreve Massimo Recalcati, psicanalista italiano e professor das universidades de Pavia e de Verona, em artigo publicado por La Repubblica, 29-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A garota chamada Giorgia não apresenta ao Ministro do Meio Ambiente e Segurança Energética uma pergunta qualquer, mas declara com grande emoção a sua angústia. Trata-se, na realidade, de uma angústia que não é só sua, mas reflete a de toda uma geração. Ela a chama, talvez em uma forma um tanto desafinada, de eco-ansiedade. É a angústia de quem vê morrer o mundo e, com ele, as suas esperanças e o seu futuro. O ministro agradece a pergunta e depois também se comove.
Talvez Giorgia tenha apertado o botão certo? Talvez as gerações mais velhas não possam deixar de reconhecer suas próprias culpas? Não podem continuar mais fingir que tudo está normal? A emoção que aparece nos dois interlocutores vale mais do que qualquer discurso retórico em defesa do meio ambiente.
Caberia a uma boa política transformá-la em prática, traduzir esse diálogo entre duas gerações em um novo projeto.
Cormac McCarthy fala disso de forma pungente em seu livro-testamento intitulado A estrada. Talvez nenhum livro como este conseguiu descrever a situação do mundo contemporâneo: o planeta aparece, em sua história, assolado por uma catástrofe ecológica sem precedentes, incinerado, sem luz, sem dia, sem alvorada, sem vida, reduzido a um amontoado de ruínas. Os sobreviventes vagueiam pelas estradas como figuras espectrais prontas para a se assaltar, se estuprar, se matar, se devorar para sobreviver.
Mas esse pai e esse filho - que não têm nome porque representam a velha e a nova geração - têm a tarefa de resistir, de não se deixar arrastar para a barbárie da "guerra de todos contra todos".
Em 2013 dei uma definição à nova geração: “Geração Telêmaco”. São os nossos filhos que, ao contrário de Édipo, o filho maldito, descrito pela tragédia de Sófocles, não querem a pele do pai, mas, sem definhar numa espera sem esperança que o pai Ulisses retorne, decidem de pôr em movimento, iniciam corajosamente a sua jornada. É um fato: a autoridade simbólica da qual o pai é símbolo desapareceu irreversivelmente, deixando as novas gerações sem bússola. Mas se esse desaparecimento coincidisse com a morte do pai-patrão do patriarcado e de sua velha moralidade disciplinar seria algo positivo. O problema é que com essa morte também desapareceu o sentido da Lei. Isso é o que mostra dramaticamente Cormac McCarthy. Invocamos a falta de respeito às regras sem perceber que perdemos de vista o sentido da Lei que, como nos lembra a Torá, antes mesmo de ser escrita nas tábuas de pedra deve ser inscrita na "carne do coração".
Seria inútil conceber o remédio para o mal-estar da juventude contemporânea tentando restaurar os valores da tradição: disciplina, obediência, hierarquia. O pesar nostálgico gera, de fato, apenas monstros piores do que aqueles que gostaria de combater. Pelo contrário, o problema que aflige a geração Telêmaco, de que Giorgia é, aos meus olhos, a enésima testemunha, é como dar novamente sentido à própria vida, como trazer novamente o sentido da Lei a Ítaca.
Não é de estranhar que em alguns jovens de hoje existe uma busca de sentido que já não consegue encontrar respostas na tradição patriarcal, mas, no entanto, não se contenta com aquelas oferecidas pelo circo das mídias e das redes sociais. A angústia de Giorgia e sua oração não são relativas às possibilidades de ter sucesso na vida, mas àquela de poder ser mãe, habitar a sua terra, ainda ter futuro.
É a responsabilidade política que o ministro talvez assinala por meio de sua comoção: as velhas gerações legaram em herança às novas uma terra desgastada, um horizonte desmoronado, uma precariedade sem perspectivas.
O retorno à política ou à espiritualidade de algumas de nossos filhos hoje sinaliza sua recusa resoluta de se tornarem cúmplices desse legado. Não foi por acaso que Lacan associou a oração à revolta. O que têm em comum? A rejeição da ordem das coisas já estabelecidas, da resignação e a necessidade de invocar um novo horizonte possível de vida, de não se acostumar com a ofensa e com a injustiça.
A revolta como a oração dilatam, em vez de estreitar, o horizonte do mundo, introduzem o amplo respiro de redenção e da renovação. A batalha pelo meio ambiente, diante dos obstinados negacionismos de todo tipo, é a batalha das novas gerações. Eles, assim como a criança protagonista de A estrada, deveriam levar seus pais para o sul, para o mar, para a vida, a não considerar a destruição do mundo como o nosso único destino possível.
Essa criança é, na verdade, o irmão de Telêmaco: lembra às gerações mais velhas que é necessário ver mais longe, pensar no futuro, cultivar ainda a esperança. Jean-Paul Sartre dizia isso à sua maneira, em sua última entrevista antes de sua morte. Devemos distinguir duas formas de pensar a relação entre esperança e transcendência. A "esperança da transcendência" traduz o modo tradicionalmente religioso: esperar que exista em algum lugar um mundo melhor do que este. A "transcendência da esperança" sugere, ao contrário, que é precisamente neste mundo que um resgate deve ser cumprido porque a demanda de sentido que se encarna na oração e na revolta não é para outro mundo, para um mundo além deste mundo, mas para tornar este mundo mais digno do encanto que traz consigo.
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Clima, pacto entre gerações. Artigo de Massimo Recalcati - Instituto Humanitas Unisinos - IHU