21 Julho 2023
O presbítero e artista Marko Rupnik foi declarado expulso da Companhia de Jesus, devido à sua “recusa repetida” de abordar com os responsáveis da congregação as alegações de abuso sexual e de cumprir as restrições a ele impostas.
A reportagem é de Manuel Pinto, publicada por 7Margens, 18-07-2023.
A informação acaba de ser prestada pelo superior direto de Rupnik, o padre Johan Verschueren, que não fez, por ora, qualquer comentário a uma posição do Centro Aletti, onde o artista trabalhava, segundo a qual o próprio Rupnik havia solicitado a sua saída dos jesuítas, já em 21 de janeiro deste ano, “observando todas as condições canônicas exigidas”.
Em qualquer caso, o desfecho passaria pela saída do padre. De acordo com a posição da Companhia, ele tinha até sexta-feira passada, dia 14, para recorrer da decisão de expulsão, tornando-se esta efetiva, caso não houvesse resposta, o que aconteceu.
A separação da Companhia de Jesus não acarreta o abandono do ministério presbiteral, ainda que Marko Rupnik precise de encontrar um bispo que aceite acolhê-lo e incardiná-lo na sua diocese, para que possa exercer como padre.
Com a saída de Rupnik há vários aspectos que se mantêm indefinidos. Um deles, que o padre Verschueren não referiu, é o que acontecerá aos restantes padres jesuítas que trabalhavam com Rupnik no Centro Aletti e que, segundo a diretora desta instituição artística e editorial, Maria Campanelli, tinham pedido igualmente para abandonar a Companhia.
Por outro lado, o Centro Aletti, fundado por Rupnik em meados dos anos 90, ocupa um edifício que foi doado aos jesuítas para dar vida e desenvolvimento ao projeto artístico, ao passo que a instituição que nele funciona passou a ser uma “associação pública de fiéis”, reconhecida e dependente da arquidiocese de Roma. O cardeal vigário, que representa o Papa Francisco como bispo, prometeu, há alguns meses, dar a conhecer oportunamente decisões que teriam de ser tomadas quanto ao Centro, não o tendo feito até agora, pelo menos publicamente.
Finalmente, cabe referir que a carta de defesa de Rupnik, divulgada no último mês pela diretora do Centro Aletti, considerava as múltiplas e graves denúncias de abusos sexuais e de poder por parte daquele padre “uma campanha mediática baseada em acusações difamatórias e não provadas”. Negava, assim, pelo menos dois processos apreciados e julgados na então Congregação para a Doutrina da Fé, um dos quais foi arquivado por prescrição, em 2022, e outro resultou em reconhecimento de excomunhão automática (latae sententiae), em maio de 2020, levantada umas semanas depois em circunstâncias não totalmente esclarecidas.
De qualquer modo, segundo a responsável do Aletti, terá sido a credibilidade manifestada pelos superiores dos jesuítas à referida “campanha mediática” que terá levado Rupnik a tomar a iniciativa de pedir para abandonar a congregação.
O comunicado de Maria Campanelli silencia, porém, a recusa do padre Rupnik a corresponder a várias tentativas do seu superior, Johan Verschueren, para dialogar com ele, desde o fim de 2022.
Um outro tema que continua a desencadear polêmica diz respeito às muitas dezenas de obras em mosaico (fala-se em mais de 200) da autoria de Rupnik e da sua equipa, espalhadas um pouco por todo o mundo, as quais, em alguns casos, têm suscitado problemas. Há quem entenda que uma coisa é o artista e outra a sua obra e que esta não se pode questionar a partir de eventuais “pecados”, mesmo que graves, do seu autor. Mas há situações problemáticas. Várias vítimas de abusos insurgiram-se contra o fato de o santuário de Nossa Senhora de Lourdes, em França, ter vários painéis de Rupnik e o bispo local criou uma comissão para ponderar o que fazer. Numa basílica polaca toda decorada pela equipe do ex-jesuíta, um grupo de vítimas que aí se reunia regularmente para rezar teve de procurar outro local, por se sentir incomodado com os trabalhos de um abusador. Em outros locais, discute-se a possibilidade de manter os painéis, mas colocar uma legenda a explicar quem foi o seu autor.
Recorde-se que, desde a basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, ao santuário da Senhora Aparecida, no Brasil, passando pela capela Redemptoris Mater no Vaticano, algumas das obras de Rupnik se destacam pela sua imponência e visibilidade, sendo difícil ou mesmo impossível a quem ali frequenta o culto ou simplesmente visita esses locais fazê-lo sem ruído e alguma perturbação.
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Rupnik passou a ser ex-jesuíta, mas mantém-se padre, já sem diocese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU