20 Julho 2023
De 28-01-2023 a 28-01-2025, a Igreja celebra o duplo jubileu de São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja. De fato, é o 7º centenário de sua canonização, ocorrido em 18-07-1323, e o 750º aniversário de sua morte em 07-03-1274. Como escreveu Paulo VI na Carta Apostólica Lumen ecclesiae, o dominicano São Tomás, que com a originalidade de sua obra especulativa provocou uma virada decisiva na história do pensamento cristão, "conseguiu mostrar (…) como a fidelidade absoluta à Palavra de Deus e a máxima abertura ao mundo e aos seus valores, o impulso à inovação e ao progresso e o fundamento de toda construção sobre o solo sólido da tradição se unem no pensamento e na vida". Desta eminente figura do cristianismo dialoga com Catholica e catt.ch o professor titular de filosofia na Universidade de Lucerna, Giovanni Ventimiglia, também professor visitante de filosofia medieval na Universidade de Zurique e conhecido estudioso de Tomás de Aquino, a quem dedicou numerosas publicações em italiano, alemão e inglês.
A entrevista é de Cristina Uguccioni, publicada por catt.ch, 17-07-2023.
Qual é o valor permanente da doutrina de São Tomás Aquino?
Uma doutrina é válida quando é verdadeira. Ora, considerando que São Tomás escreveu sobre quase tudo o que se conhece – não é por acaso que duas das suas obras se chamam summae – e as escreveu no século XIII, é impossível acreditar que tudo o que escreveu ainda seja verdadeiro, como se fosse, como já foi dito, uma "filosofia perene", isto é, perenemente verdadeira. Alguns tomistas conservadores ainda acreditam nisso, mas, francamente, apenas ela mantém sua inacreditabilidade.
O valor da doutrina de São Tomás parece consistir na atitude de abertura a tudo o que é verdadeiro em qualquer outra doutrina. Muitas vezes recordo um adágio caro a São Tomás, que por sua vez citou Ambrosiastro: "toda a verdade de quem quer que seja dita vem do Espírito Santo". É exatamente o contrário do que sustentam os tomistas conservadores, que ao contrário pensam: só a doutrina de São Tomás é verdadeira e vem do Espírito Santo.
Como sublinhou também Paulo VI, por que o método de São Tomás é exemplar também para os estudiosos de nosso tempo?
Nós nos encontramos em uma sociedade globalizada, multirreligiosa e multicultural. Parece um fenômeno novo, mas é uma situação muito semelhante àquela em que viveu São Tomás, quando coexistiam a filosofia grega, especialmente no sul da Itália, em particular a do "pagão" Aristóteles (na época recentemente traduzido em Toledo e Palermo), a filosofia e a teologia muçulmanas, a filosofia e a teologia judaicas e a filosofia e a teologia cristãs. Estas últimas, portanto, deviam total e conscientemente à filosofia grega, ao pensamento judaico e muçulmano. A exemplaridade de São Tomás consiste na sua abertura sincera às filosofias não cristãs, na sua feliz integração na doutrina cristã. E isso é ainda mais importante hoje, contra qualquer forma de fechamento defensivo em relação a qualquer "outra" cultura.
Em nossa época, na Europa, o Senhor atribuiu ao povo de Deus uma tarefa nunca antes atribuída na história: o anúncio de Seu Reino a uma sociedade institucionalmente não religiosa. Que contribuição significativa pode oferecer o pensamento de São Tomás aos que acolhem esta nova e apaixonante tarefa?
Parece-me, antes de mais nada, que a sociedade atual é sim, institucionalmente não religiosa, mas também profundamente fideísta. Seitas e crenças improváveis – basta pensar nos terraplanistas – estão se multiplicando. É como se a secularização tivesse demolido a resposta religiosa, mas de forma alguma eliminada a questão, a "necessidade" humana de acreditar em algo. Consequência: para acreditar em algo, os homens estão dispostos a acreditar que a terra é plana e encontraram movimentos, que tanto se assemelham a religiões fundamentalistas, de fanáticos adoradores da divindade "terra plana" (e às vezes da terra tout court). A contribuição de São Tomás para a tarefa de anunciar o cristianismo nas sociedades não mais religiosas (fenômeno limitado à Europa e a alguns outros países ocidentais) é paradoxalmente esta: mesmo quando você acredita, use a razão!
E uma sociedade não religiosa tem algo a dizer aos tomistas?
Sim! Os incrédulos e os agnósticos têm algo a dizer aos cristãos e em particular aos teólogos, também tomistas: guardem o sentido do mistério! Não se apresentem como os (insuportáveis) especialistas de Deus, apresentem-se como aqueles que, à maneira dos agnósticos, sabem que não sabem, e não como aqueles que sabem muito sobre Deus. São Tomás de Aquino bem o entendia: quase no fim da vida ele teve uma experiência forte, talvez mística, durante uma missa em Nápoles. Terminada a função, disse ao seu secretário Reginaldo da Piperno: "Não posso mais escrever, porque tudo o que escrevi me parece palha diante do mistério de Deus. E a partir desse momento nada mais escreveu", deixando várias obras inacabadas, e fez uma única coisa: pregou no vernáculo napolitano, para ser entendido por todos.
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“Mesmo quando você acredita, use a razão!” Entrevista com Giovanni Ventimiglia por ocasião do 7º centenário da canonização de Tomás de Aquino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU