17 Julho 2023
O Congresso Internacional da SOTER, que tem reunido presencialmente e on-line mais de 600 congressistas de 11 a 14 de julho, tendo como foco a Amazônia, contou em seu último dia com a presença de Moema Miranda, que refletiu sobre “A Amazônia e a Igreja do Brasil: desafios para a ecologia integral e a ecoespiritualidade”.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Desde seu chamado a um olhar esperançoso, a uma esperança muito frágil que não se perde na catástrofe, mas também não nega essa catástrofe, Moema Miranda centro sua intervenção em três elementos: floresta, mundo, Igreja.
A floresta, que ela vê como aquilo que está do outro lado, como “um grande acontecimento biotecnológico em que milhares de seres humanos se encontram e interagem”. Isso nos desafia a pensar no mundo em um mundo complexo, cada vez mais complexo. Diante disso a Igreja na Amazônia está motivada por uma mística de quem não arreda o pé, uma mística madalena, inspirada em mulheres que caminhando juntas puderam construir a possibilidade de hoje falar de uma Igreja que hoje constrói a possibilidade de novos vínculos, de novas alianças.
Analisando a realidade, Moema Miranda disse que no tempo atual, “estamos passando a viver em uma terra que não conhecemos, um planeta cada vez mais complexo e com mais dificuldade”. Um mundo onde tudo está interligado pela lógica do capital, uma das imensas ameaças para a Amazônia brasileira, denunciando que 80% do desmatamento da Amazônia brasileira deve-se ao avanço da pecuária, algo que vai unido à ameaça crescente do avanço da mineração.
A leiga franciscana definiu a floresta como “essa comunidade ecumênica da vida à qual nós podemos mudar o nosso olhar e aprender dela a conviver”. Uma floresta onde aqueles que a defendem são vítimas da perseguição, da violência e da morte. Situações que são provocadas pelo sistema capitalista, que se apresenta em diferentes modos e realidades, apresentando o novo conceito de “hidra capitalista”, em uma sociedade onde tem acontecido uma institucionalização do delito.
Diante dessa realidade, ela fez a proposta de alternativas, que levem a descobrir que “a selva não é ameaça, a selva salva”, colocando como exemplo disso as quatro crianças perdidas na floresta amazônica na Colômbia durante 40 dias, que sobreviveram porque elas estiveram em sintonia com a natureza, com uma selva que em cada centímetro tem sua espiritualidade.
A Igreja na Amazônia hoje habita um mundo muito diferente ao mundo de 1972, uma data de grande importância. Diante disso sua proposta é um caminho de volta para casa, que não é só uma casa, um tempo de reconstruir caminhos e reconfigurar nosso lugar.
Nessa Igreja da Amazônia, Moema refletiu sobre a figura da Ir. Dorothy, que foi para a Amazônia porque se sentiu chamada pela floresta. Ela lembrou o testemunho de quem conviveu com ela, que vê seu sangue como “um sangue que fertilizou a terra”, e afirma que “ela foi plantada e continua a crescer, ela foi convertida em encantado, ela foi sendo ressignificada como vida e ela continua presente na caminhada, viva, criando novas formas de vida, de resistência, de barrar o fim do mundo”.
Moema Miranda refletiu sobre a Amazônia e a Igreja do Brasil. (Foto: Luis Miguel Modino)
A Ir. Dorothy é considerada por Moema Miranda como exemplo de uma espiritualidade encarnada, “o espírito dela continua presente”, vendo a religiosa como mártir e santa do povo da floresta, “ela foi chamada pela floresta e se fez uma com muitos outros”.
É por isso que se faz necessária uma conversão à cosmofilia, a amar o cosmos. Uma atitude presente nos povos indígenas, destacando o trabalho realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que ajudou a recriar as identidades dos povos indígenas e a tomar consciência de seu ser indígenas, de povos diferentes, mas unidos. Ela também destacou um outro exemplo do trabalho da Igreja com os povos indígenas, o realizado pelas irmãzinhas de Foucauld com os Tapirapés, um povo condenado a desaparecer que ressurgiu com sua presença samaritana.
Finalmente, Moema Miranda insistiu em que “uma releitura apocalíptica hoje nos coloca em disputa contra o império capitalista, que não tem a última palavra”. Diante disso, ela enfatizou que “Cristo aponta para a Amazônia, onde Ela já habitava antes da chegada daqueles que vieram destruir”, desafiando a estar dispostos a acreditar nos espíritos da floresta, se colocar na escuta daqueles que hoje ainda escutam as árvores. E fazê-lo como uma Igreja madalena, acolhedora, que não tem medo porque ama.
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Moema Miranda: Igreja na Amazônia, uma mística madalena, de mulheres que constroem novas possibilidades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU